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A sanha mística ou o divino ódio

Não há rapazes maus, há saprófitas do divino, perturbados pela fé, receosos do Inferno, onde o azeite fervente e o fogo eterno esturricam almas. Não se limitam a mergulhar na água benta e a banquetear-se com o corpo e o sangue do filho do carpinteiro. Atiram-se aos ateus com aquela sanha que lhes dá direito a bilhete de ingresso no Paraíso sem necessidade de unção nem arrependimento dos pecados.

São os cruzados actuais, que fazem a Universidade sem reprovações e a comunhão com muitas reincidências. Conhecem os odores dos padres e os mais leves desejos do Papa e dos seus bispos.

Julgam que o Novo Testamento foi inspirado por Deus e que os milagres são genuínas manifestações da vontade de cadáveres carcomidos pelo tempo e explorados pelo Vaticano. Conhecem os livros pios e as mentiras sagradas. Vêem na mãe de Cristo uma Virgem perpétua e no Papa um almocreve de Deus.

Para estes cruzados a excomunhão é uma sentença que impede a alma de gozar os favores divinos. A blasfémia e a apostasia são abominações. O sexo é uma tragédia. Enfim, são avatares dos pios inquisidores e dos infelizes cruzados.

Quando os soltam da missa e das orações vêm ao Diário Ateísta dar público testemunho das fantasias místicas e dos delírios pios. Sob o efeito dos alcalóides da fé, ruminam vingança, vociferam, insultam e ameaçam. Parecem miguelistas com varapaus e ancinhos, acompanhados de padres, a matar liberais. Foram feitos à imagem e semelhança de Deus: intolerantes, vingativos e cheios de ódio.

O Diário Ateísta é o instrumento da catarse desses infelizes e os ateus o alvo da sanha pirómana que os devora. Para eles, para quem Deus é uma alimária que tudo pode, os ateus são o instrumento com que o Todo-Poderoso os põe à prova.

Afinal, estes devotos são apenas filhos do ódio milenário de uma igreja anti-semita, marionetes do clero romano, gente rastejante que passa a vida de joelhos. Um dia terão o Céu à espera, ganho pela espuma da raiva que babam pela comissura dos beiços.