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1 de Outubro, 2006 Ricardo Alves

O «Correio da Manhã» converteu-se

Segundo o Público de 29 de Setembro de 2006 (página 54), «o Correio da Manhã elaborou, pela primeira vez, um estatuto editorial (…) [que] reafirma uma série de princípios gerais, próprios da prática jornalística», mas atenção, há uma novidade:
  • «O Correio da Manhã apoiará de forma firme a instituição Família, o direito à Vida e assume o seu apreço pelas raízes cristãs da sociedade portuguesa».
Portanto, ficais todos avisados: a partir de agora, não haverá mais maminhas, este-dorme-com-aquela nem «pipinha foge de casa com Romeu» nas páginas do mais vendido dos tablóides portugueses. Ou bem que há raízes ou não há moralidade.
30 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Hipocrisia republicana: demissão no Congresso

Ontem foi um dia negro para o partido republicano, GOP, quando Mark Foley, eleito pela Flórida para a Câmara de Representantes*, se demitiu abruptamente na meio de um escândalo – que enche as páginas dos jornais e dos blogs políticos americanos – envolvendo uma troca de emails de conteúdo explicitamente sexual com pelo menos um dos pagens do Congresso. Os pagens são adolescentes, estudantes do ensino secundário, integrantes de um programa em que assistem às aulas sobre supervisão do Congresso e trabalham como mensageiros para os congressistas.

Hipocrita e ironicamente, Foley, um católico pertencente à ala moderada dos republicanos, era a voz mais crítica das leis existentes para combater a pedofilia e a pornografia infantil, sendo o presidente da House Caucus on Missing and Exploited Children. Em 2002 introduziu uma lei que pretendia banir páginas de internet com imagens de pré-adolescentes em poses sexualmente sugestivas, dizendo que «estas páginas não são mais que uma atracção para pedófilos».

Antes do escândalo dos emails, Foley tinha a reeleição nas eleições de Novembro próximo garantida por uma margem larga. A cerca de um mês e meio destas, os republicanos, que já viam a maioria no Congresso ameaçada, tentam limitar os danos deste escândalo, que tem como consequência quase certa a perda do lugar de Foley no Congresso, e as suas repercussões negativas no eleitorado em geral, mais uma machadada nas pretensões do GOP em continuar a dominar o orgão máximo legislativo, supremacia que mantém há uma década.

Na realidade, o eleitorado fiel do GOP é constituído essencialmente por evangélicos brancos para além, claro, dos fundamentalistas cristãos de todas as cores que vêm em Bush um enviado divino para pôr fim à abominável «cultura ateísta» que, para além de permitir que os cientistas continuem a «contaminar» os Estados Unidos com as suas teorias ateístas – e a impedir que as boas«teorias» obscurantistas cristãs sejam livremente difundidas – trivializou matérias tão inadmissíveis como as uniões de facto, a homossexualidade, o sexo, os contraceptivos e o aborto, a tolerância em relação a apóstatas e se traduz em abominações como a recente proposta de alteração das leis anti-discriminação nas escolas da Califórnia. Eleitorado fundamentalista que quer, por todos os meios, uma «renovação cívica», isto é, impôr um regime dominionista puro e duro!

Ou seja, o eleitorado cristão mais fundamentalista, cerca de um terço dos votantes, está apenas interessado no que Bush e o GOP fazem para controlar a sexualidade alheia – e para instalar uma teocracia cristã nos Estados Unidos. O facto de este escândalo dos emails confirmar que um dos cruzados, com conhecimento do GOP uma vez que a troca de emails data de há um ano e o caso foi abafado na altura, é um dos abominados «sodomitas» ou «pervertidos» não abona em favor da dedicação à «causa» cristã do GOP. Apesar de ser pouco provável que os fundamentalistas cristãos votem nos democratas, os analistas políticos indicam que o descontentamento deste eleitorado, que deu a vitória a G. W. Bush, pode traduzir-se na sua ausência das urnas…

Na realidade, o líder da bancada republicana John Boehner (R-Ohio) declarou ao The Washington Post ontem à noite que sabia da existência deste contacto entre Foley – que foi entrevistado pelos republicanos da House Page Board sobre o assunto – e o pagem de 16 anos. Boehner referiu ainda ter falado com o porta-voz do GOP J. Dennis Hastert (R-Illinois) sobre o tema e que Haster lhe tinha garantido estar a tratar do caso. Apenas os democratas não sabiam o que se passava, nomeadamente Dale Kildee, a única representante democrata na House Page Board, que pediu ontem uma investigação para determinar quem sabia o que se passava e quando o soube!

*O Congresso dos Estados Unidos, que detém os poderes legislativos, é composto pelo Senado, com dois senadores por cada Estado eleitos por um período de seis anos, e pela Câmara de Representantes, com um número variável de representantes por Estado, eleitos bianualmente.

29 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

A morte de João Paulo I

João Paulo I foi o Papa que ao ter anunciado, após a eleição, uma investigação ao Banco do Vaticano (IOR) mereceu de um jornalista italiano um vaticínio certeiro: «Não anda cá muito tempo».

Ainda não li o livro de Luís Miguel Rocha LMR) a que deu o título, em português, de «O Último Papa», título plagiado do romance de David Osborn, editado pela Disfel.

Ao apontar os nomes óbvios de Marcinkus, Calvi e Gelli, LMR esquece muitos outros e omite o papel sinistro de «A Santa Aliança» e os interesses do Opus Dei, bem como a protecção criminosa de JP2 a Marcinkus que nunca deixou julgar pela Justiça italiana.

Por outro lado, ao afirmar que o Terceiro Segredo de Fátima seria precisamente sobre a morte de João Paulo I, o livro perde qualquer credibilidade. Crer em visões e outorgar idoneidade à vidente é pactuar com uma burla e conferir valor probatório às alucinações que a ICAR confiscou para o seu negócio.

Os Papas sabem que a morte natural não é uma tradição ancestral do Vaticano, que uma cozinheira honesta é mais eficaz do que as rezas e que Deus tem menos influência do que os cardeais da Cúria.

O livro pode ser um excelente policial mas não é certamente uma obra que ponha a nu a imensa corrupção do último Estado totalitário encravado na União Europeia.

29 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Como a Europa trata os laicistas magrebinos

Anas El Jazouli, um militante laicicista marroquino, está em risco de ser expulso de França. Em Marrocos, organizou o concurso de Miss Marrocos em 2002 e foi consequentemente ameaçado de morte e alvo de uma fatwa lançada pelo cheique Abdesslam Yassine, o líder do movimento islamista Al Adl Wa Al Ihssane. À época, o jornal islamista Al Tajdid chamou-lhe «o Salman Rushdie marroquino».

O actual Ministro do Interior francês, Nicolas Sarkozy, restringiu as regras do asilo político que poderão agora levar à expulsão para Marrocos deste laicista magrebino.
29 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Richard Dawkins e a ilusão de Deus

Jeremy Paxman, o famoso jornalista da BBC que apresenta desde 1997 o programa Newsnight, conhecido pelo seu estilo agressivo e cáustico, incorporado no léxico do quotidiano pelo termo Paxmanesque – que identifica um interrogatório especialmente duro – entrevista Richard Dawkins a propósito do seu novo lvro, «A ilusão de Deus», publicado na segunda feira e já um best seller.

Para quem estiver interessado, todo o material multimédia referente a Dawkins pode ser encontrado aqui.

Numa entrevista de Paxman absolutamente fabulosa, o acérbico jornalista entrevista Ann Coulter, a teocrata autora de «Godless: The Church of Liberalism», em que a criacionista Coulter critica o liberalismo por rejeitar Deus e o compara a uma religião, completa com «mitos da criação», a teoria da evolução, cosmologia, o Big Bang, e igrejas (as escolas públicas onde não entra a religião mas entram os abominados preservativos). Entrevista que se inicia em puro estilo paxmanesco:

Paxman: Olá, Ann Coulter. Eu li o primeiro capítulo do seu livro que o seu editor me enviou por fax. Os restantes são algo melhor?

28 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Conferência no Porto, sexta-feira

No dia 29 de Setembro de 2006, sexta-feira, realizar-se-á pelas 21h20m no salão nobre do Instituto das Artes e da Imagem à Praça Coronel Pacheco, 1 (antigo Colégio Almeida Garrett) uma Conferência organizada pelo clube UNESCO da cidade do Porto. A conferência será de Luís Mateus, presidente da Associação República e Laicidade, justamente sobre a laicidade.
28 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Esforço de guerra

Dos Asylum Street Spankers, uma banda sui generis do estado que produziu G. W. Bush, vem este delicioso video clip que ilustra um «esforço de guerra» ao alcance de todos os americanos.

27 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Maomé e Cristo juntos contra Mozart

Foi cancelada a apresentação, em Berlim, da ópera de Mozart Idomeneu. A responsabilidade pela decisão cabe à directora da Ópera Alemã, Kirstin Harms, que a justificou com uma informação anónima segundo a qual haveria um «risco com final imprevisível para os funcionários e o público» se a ópera fosse apresentada. O chefe da polícia declarou que não houve uma ameaça concreta.

O líder do Conselho Islâmico Alemão elogiou a decisão, afirmando que «a encenação fere os sentimentos dos muçulmanos», enquanto o presidente da Comunidade turca na Alemanha a criticou, argumentando que «[recomenda] a todos os muçulmanos que aceitem determinadas coisas (…) a arte deve ser livre», o que demonstra que a Europa necessita é de mais muçulmanos educados no laicismo à maneira turca. E acrescento que as minhas convicções jacobinas e o meu gosto artístico estão ofendidos pela atitude de «respeitinho preventivo» da senhora directora da Ópera de Berlim.

Esta ópera de Mozart pode ser lida como uma defesa da rebeldia humana contra os deuses. Na encenação agora cancelada, a frase «os deuses estão mortos» é ilustrada com as cabeças decepadas de Poseidão, Buda, Cristo e Maomé. O encenador (o verdadeiro responsável pelas cabeças cortadas) opõe-se ao cancelamento da ópera e critica a sua directora. Refira-se que quando a ópera esteve em exibição, em 2003, cristãos extremistas presentes no público destruíram as portas da ópera em protesto contra o seu conteúdo iconoclasta. O respeito pela liberdade de expressão, como se verifica, não é um mandamento de religião alguma.

O governo, que mantém a intenção de ensinar a religião muçulmana nas escolas públicas, criticou todavia a decisão da ópera de Berlim.
27 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Cisão na ICAR

O arcebispo Emmanuel Milingo, famoso por se ter casado sem abandonar a ICAR, ordenou no domingo quatro bispos à revelia do Vaticano. Foi excomungado ontem.

Milingo, arcebispo de Lusaca, casara-se em 2001 com Maria Sung numa cerimónia religiosa da Igreja da Unificação (liderada pelo reverendo Moon). Posteriormente, perante o escândalo internacional, o cardeal Bertone trouxera-o de regresso ao celibato eclesiástico, destruindo a sua união matrimonial. No entanto, como o Diário Ateísta relatou, Milingo evadiu-se em Julho passado do convento onde o mantinham em reclusão há quatro anos, voltou à sua legítima esposa, e anunciou a intenção de reconciliar a ICAR com os padres casados.

Do ponto de vista dos regulamentos eclesiais, a situação é formalmente semelhante à ocorrida com o arcebispo Lefebvre: as ordenações episcopais feitas pelo arcebispo Milingo em Washington são ilegítimas, mas válidas. Portanto, temos a cisão que se previra aquando da ascensão ao papado do radical Ratzinger. Neste momento, muitos padres católicos, nomeadamente nos EUA, exercem o seu sacerdócio estando casados. Não é impossível que adiram a esta nova igreja que poderá conciliar o sacerdócio com uma vivência sexual e afectiva mais normal.