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24 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

Religiões = Casas de alterne

Deus é o subterfúgio que os homens criaram para as suas próprias limitações, o escudo para os seus medos e a desculpa para os seus fracassos. Mas podiam ter feito do mito a síntese do que de melhor os homens são capazes em vez do monstro vingativo e cruel que faz as delícias dos padres e o terror dos crédulos.

As religiões monoteístas são as casas de alterne onde se compra o patrocínio da Virgem, a protecção do Santo ou a bênção de Deus. Os clérigos são as alcoviteiras do divino que aconselham o santo adequado, a virgem mais dedicada ou o profeta melhor cotado.

Não há no bordel da fé a alcova da tranquilidade, tudo é agitação e frenesim com cheiro a incenso e estearina, em vez de fluidos e permanganato, isto se estivermos a pensar no antro do Vaticano.

No judaísmo ainda há os lúgubres crentes das trancinhas que se esforçam por derrubar o Muro das Lamentações à cabeçada e que odeiam a carne de porco e o livre-pensamento.

Mas é no Islão que a enorme quantidade de parasitas da fé mantém o cerco mais feroz à liberdade individual. Quem duvidar do profeta, arrisca a separação da cabeça; quem não repetir em voz alta que Deus é grande e Maomé o seu profeta, fica sob suspeita do clero; quem beber um simples copo de vinho ou atacar uma sanduíche de presunto, paga com a vida; e, se for mulher, as vergastadas e a lapidação tornam-se a diversão pública que delicia os crentes, numa orgia de demente crueldade para glória de Deus e satisfação do profeta. Basta uma acusação de adultério.

E ainda há quem não acredite na bondade das religiões!!!

23 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

Um livro imprescindível (Continuação)


Comentário: Os pecados já foram mais caros mas a ICAR fazia descontos para grandes quantidades, como se pode ler. Basta clicar nas imagens.
23 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

Vaticano apela à «abjecção» de consciência

Bento 16, meio-casal assexual, vomita homofobia por todas as reentrâncias e saliências. O régulo da tribo católica apela à objecção de consciência de todos os profissionais para evitar a IVG, no cumprimento da lei, ou que casais homossexuais adoptem filhos.

Não sei se é um apelo à objecção ou à abjecção. Já o seu defunto antecessor pedira aos advogados portugueses que se abstivessem de patrocinar divórcios, num claro desafio às leis de um Estado democrático e num apelo patético à insurreição profissional, acatando ordens de uma potência estrangeira – um bairro de 44 hectares de sotainas e mitras.

Nunca os Papas incitaram à objecção de consciência dos católicos na colaboração com a ditadura salazarista, nunca denunciaram as mortes perpetradas pela polícia política, não se opuseram à guerra colonial, quando o consumo de hóstias era elevado e a influência do déspota do Vaticano era grande.

O major Silva Pais, cuja responsabilidade na morte do general Humberto Delgado foi uma evidência, nunca foi excomungado pelos seus crimes mas foi condecorado pelo Vaticano.

É abissal a diferença entre os ateus e os devotos do Sapatinhos Vermelhos. Os ateus não querem privar os católicos da hóstia, da água benta, do incenso, das indulgências e das orações, apenas não querem que os seus valores sejam impostos pela força a todos os que desprezam o seu Deus e acham ridículas as religiões.

23 de Fevereiro, 2007 jvasco

Criacionismo e a (des)Informação

O Jónatas Machado comentou aqui que:

«O Ludwig Krippahl continua a tentar defender o indefensável, em momento algum explicando a alegada origem casual do DNA ou o modo como a informação genética é acrescentada ao genoma através de mutações e selecção natural. As primeiras, esmagadoramente deletérias, deterioram o genoma, como se de erros de software se tratasse»

Vamos lá então tratar disso. Primeiro, aproveito a analogia para mencionar a programação genética, iniciada por Holland em 1975. A abordagem é aplicar os mecanismos da evolução biológica a programas de computador. Gera-se aleatoriamente uma população de programas, recombina-se fragmentos ao acaso, introduzem-se mutações aleatórias, e põe-se tudo a competir no desempenho de uma tarefa. E funciona. Neste momento há 36 casos em que algoritmos gerados desta forma têm um desempenho ao nível dos algoritmos concebidos por programadores inteligentes. 21 destes duplicam métodos já patenteados e dois geraram métodos novos patenteáveis. E isto com umas dúzias de pessoas em trinta anos. Imaginem os resultados com todos os organismos do planeta a trabalhar nisto durante quatro mil milhões de anos.

O Jónatas dirá que os algoritmos que fazem as mutações e simulam a evolução são programados por humanos inteligentes, e estes também interpretam os resultados. É verdade, a analogia é fraca. Mas é a sua e mesmo assim funciona muito bem. Por mim, continuo a insistir que é errado ver o ADN como uma linguagem, ou programas de computador, ou planos de montagem, ou qualquer coisa que sugira inteligência. O ADN é uma molécula que reage com outras moléculas. Tem tanto de inteligente como a água ou o ovo cozido.

Mas isto hoje é sobre informação, outra palavra que engana. Considerem a frase «Ser ou não ser» Duas pessoas copiam esta frase, e escrevem «Ser ou não cer». À partida diríamos que se perdeu informação. Uma das pessoas era um aluno pouco atento lá se foi um bocado de informação. Mas a outra pessoa era um espião experiente. Usou o erro ortográfico cuidadosamente colocado para informar o seu contacto do local onde deixar os planos secretos que roubou. Um enorme ganho de informação.

Que raio… a mesma alteração num caso perde informação e noutro ganha. Evidentemente, não estamos a capturar bem o conceito de informação. Este problema já Shannon resolveu em 1948, mas resultados tão recentes não estão ainda difundidos entre os criacionistas:

«Frequentemente as mensagens têm significado, ou seja, referem-se ou estão correlacionadas com algum sistema com certas entidades físicas e conceptuais. Estes aspectos da comunicação são irrelevantes […] O aspecto significativo é que a mensagem em questão é uma seleccionada de um conjunto de mensagens possíveis»
[tradução minha]

A quantidade de informação contida numa mensagem é independente do significado que lhe damos. Depende apenas do que temos que especificar. Por exemplo, queremos transmitir um número com 6 dígitos. Há um milhão de combinações possíveis, por isso temos que transmitir informação tal que permita especificar uma de um milhão de possibilidades: 20 bits de informação. Não interessa para que vão servir os 6 dígitos.

Assim a informação de uma sequência é o número de possíveis sequências daquele comprimento com aqueles elementos. No caso do ADN há sempre 4 tipos de elementos, e a quantidade de informação é unicamente função do comprimento da molécula. Quanto mais ADN mais informação está contida na sequência. Isto quer vá controlar o desenvolvimento embrionário dum golfinho quer vá servir de pisa-papéis. Não interessa a função, como não interessa o significado da mensagem. Informação é apenas o necessário para especificar a sequência.

Assim é fácil ver como as mutações aumentam a informação. Ao introduzir sequências novas na população aumentam a informação contida na população (a evolução funciona com populações). E ao duplicar trechos duma sequência aumentam o seu tamanho, aumentando a informação nessa sequência. Duplicação seguida de outras mutações dá origem a trechos diferentes, e cada vez mais informação. No ADN isto funciona bem porque não são palavras nem frases. Enquanto uma palavra mutante provavelmente deixa de ser palavra, uma proteína mutante é tão proteína como qualquer outra, e se reage de forma diferente pode bem ser isso que o organismo precisa. E mesmo em software isto funciona.

Mais informação sobre programação genética:

http://www.genetic-programming.org/
http://en.wikipedia.org/wiki/Genetic_programming

——————————–[Ludwig Krippahl]

22 de Fevereiro, 2007 Helder Sanches

One Nation Under God (1)

A sociedade americana, mergulhada na sua multiplicidade cultural, não se consegue livrar do fascínio pelas mitologias modernas. Recentemente, uma sondagem efectuada pela Gallup, uma das mais conceituadas organizações em termos de estudo da opinião pública norte-americana, revela que, em igualdade de circunstâncias dos candidatos, o eleitorado americano teria como última opção um candidato assumidamente ateu!

Devo dizer que considero este tipo de sondagens, por si só, degradantes. Uma sociedade em que ainda fazem sentido este tipo de sondagens está, com certeza, ainda muito longe de atingir o pleno estágio de sociedade justa e demonstra uma fixação em valores fictícios de moralidade, no mínimo, doentios.

Não vejo na sondagem uma única hipótese onde encaixaria uma posição pessoal. Não me consigo imaginar a limitar o meu voto por qualquer das características a votação. Valores como integridade, seriedade, capacidade de liderança ou sentido de justiça são, assim, arremessados para fora da discussão como se de factores supérfluos se tratassem!

Já no ano passado, um estudo da Universidade do Minnesota revelava que os ateus seriam o grupo que menos confiança transmitia aos norte-americanos, isto apesar de representarem menos de 3% da população.

Neste estudo, uma vez mais, o factor da moralidade é apontado como decisivo para estes resultados. A ilusão de que numa sociedade ateísta se assistiria ao declínio da moralidade é vista pelos norte-americanos como um argumento válido! Isto só tem justificação numa sociedade intoxicada culturalmente pela religião.

Podem-se encontrar razões recentes na sociedade norte-americana para esta forte influência religiosa – os atentados do 11 de Setembro, o recurso escandaloso a Deus nos discursos de George W. Bush – mas, na verdade, enquanto a tolerância parece aumentar em relação a outras minorias, os ateus permanecem lá bem no fundo da lista de preferências.

Naturalmente, as reacções começam a surgir; Sam Harris, Richard Dawkins e Daniel C. Dennett são apenas as faces mais visíveis do que, espero, virá a ser um forte movimento cívico contra a fantasia, a mitologia, o misticismo e a ficção.

(Diário Ateísta/Penso, logo, Sou Ateu)

22 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

Recordações de viagens (Crónica)

DAS ANDANÇAS pelo mundo, por gosto umas vezes e dever profissional, outras, perduram memórias que assomam e trazem sorrisos embaraçosos quando, em espaços públicos, me encontro só. Um jornal ou livro são adereços com que disfarço a insólita boa disposição que, de supetão, me assalta. Mas como ficar sisudo quando recordo o taxista de Montreal, no Canadá, que, após longa conversa, em francês, tomou conhecimento da minha origem, mudou de idioma e não mais o compreendi? Só percebi que era açoriano, de S. Miguel, e que ficou feliz e loquaz por transportar um compatriota.

E a estupefacção, em Budapeste, quando o guia contava a portugueses o milagre das rosas, obrado pela rainha Santa Isabel, tia-avó de outra Isabel, que nasceria em Aragão e repetiu em Coimbra, também já rainha, o milagre que igualmente lhe valeu a santidade na reedição taumaturga do truque de família?!

A Elisa, uma guia com chapéu exótico e sombrinha garrida para que o grupo a localizasse, era convicta na descrição dos milagres com que estupefazia turistas e no apelo para se genuflectirem em frente do altar-mor das igrejas visitadas. Da Elisa lembro o ar empolgado com que mostrava os tétricos esqueletos que o clero italiano guarda nas igrejas para estimular a fé e a generosidade dos crentes.

No museu de um templo, parecido com uma sala de anatomia, a Elisa debitava, perante um esplêndido esqueleto, os milagres que obrara o bem-aventurado proprietário, não restando dúvidas sobre o mérito do santo e o crédito celestial de que gozava. Foi um esqueleto pequenote, vários ossos avulsos após, que perturbou a visita. A Elisa desfiava ainda milagres do santo e, interpelada sobre aquele último esqueleto, respondeu que pertencera ao mesmo, quando era mais novo, enquanto, por entre risos que não lhe abalaram a convicção, esgotou os prodígios do canonizado que era o patrono e estrela daquela catedral.

Das dezenas de profissionais que me guiaram em visitas, a Elisa é a que mais recordo. Não era o entusiasmo que lhe apreciava – pagavam-lhe para isso –, era a convicção. Nem sequer o padre que garantia, perante o pasmo dos paroquianos, que S. João Baptista, depois de decapitado, ainda agarrou a cabeça e a beijou, nem esse, punha tamanho convencimento nos prodígios com que preservava a fé e a côngrua.

Em Marraquexe, alertado por algo estranho, levei a mão ao bolso e encontrei outra, que logo agarrei, presa a um marroquino. Gritei pela polícia, e o miúdo, resignado, não tentou fugir. Com olhos de fome e tristeza, sem contar com a minha mão nem com a eventual vigilância de Alá, que mandou o profeta Maomé, bruto e primário, decepar as mãos que roubam, levou o óbolo que pretendia. Quando se afastou, foi meu o alívio e dele a gratidão pelas moedas com que recompensei a fome e o atrevimento. Num congresso sobre doenças benignas da mama, em Rodes, após os discursos dos presidentes das Sociedades Grega e Europeia de Endocrinologia e do ministro da Saúde da Grécia, todos em inglês, levantou-se o patriarca, com garridas vestes talares, e fez, em grego, uma curta prédica que, após a estupefacção geral, terminou em apoteose. Foram frenéticas as palmas e ergueu-se o congresso. Não sei se foi o tema que o atraiu para o imprevisto discurso ou a tentação de fazer ouvir a voz da Igreja ortodoxa a quatro mil congressistas que ignoravam o idioma.

Num jantar de gala, em Monte Carlo, um criado foi inadvertidamente empurrado e vazou o conteúdo da travessa sobre uma elegante mulher, com o molho a penetrar o decote, a inutilizar o vestido e a queimar o corpo que merecia outros ardores e não carecia do acidente para atrair olhares. Levantou-se e deixou o salão cheia de dignidade e nódoas, enquanto o criado era substituído, perante o silêncio sepulcral de oitocentas pessoas.

Em Lubliana, um ratinho decerto melómano passeou pelo palco durante a execução de um trecho de Beethoven, sem desconcentrar os músicos. Agitou a audiência e só saiu de cena depois de partilhar os aplausos com o maestro e os menestréis.

Em Nice, um congressista isolou-se numa área vazia do auditório e adormeceu. Era propício o ambiente: a luz ténue, a temperatura morna e monótona a voz do orador. Teria sido pesado o almoço e a digestão revelou um roncopata furioso cujos decibéis interromperam por instantes a comunicação e expuseram o imprudente participante à execração geral. Acordou, como o moleiro a quem pára a mó, com o silêncio. E a conferência lá prosseguiu, a bem da ciência e da decência.

Jornal do Fundão/Diário Ateísta/Ponte Europa

22 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

É hoje!

«Defendo que o conceito e factor civilizacional denominado Deus, não só não é intocável como é assunto a merecer a maior e a mais viva das discussões no sentido de espevitar consciências que, mesmo fechadas ao tema, sofrem indelevelmente, sem o saberem, dos males provocados pela exploração da ideia de Deus que a todos vitimiza.

É provável que a abordagem do fenómeno Deus possa ser efectuada de outra maneira. Eu preferi não ter medo das palavras e usá-las para transmitir, rigorosamente, o que penso. Não me preocupei com a escolha de termos «politicamente correctos» mas sim com a eleição das frases que me pareceu poderem transmitir, com a limpidez de pura água, a minha sensibilidade sobre o tema, sempre com a preocupação de não ofender os crentes, pois sei que de sensibilidades e água somos todos nós compostos!»

Será hoje às 18h30m, no 121 da Avenida Almirante Gago Coutinho, em Lisboa, o lançamento daquele que creio ser o primeiro livro especificamente sobre ateísmo publicado por um português nos últimos 40 anos. Vemo-nos lá!

21 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

A fé e a liberdade

Herdeiro do Renascimento e do Humanismo, o Iluminismo fez do século XVIII o «século das luzes».

Foi o confronto dialéctico entre a cultura greco-romana, que os sábios do Renascimento retomaram, e a escolástica medieval, que o clero romano se esforçou por preservar, que fez germinar o Iluminismo.

O cepticismo de Hume, filósofo e historiador escocês, arrasou os dogmas religiosos e abriu as portas da modernidade.

Hoje, com a secularização e a razão a avançarem nos países europeus, assistimos à aflita revolta do clero ansioso pelo retorno à fé e aos valores medievais.

Os milagres da Igreja Católica são a mais demente manifestação de obscurantismo e a mais torpe tentativa de manipulação contra a ciência e o progresso. É o desespero da fé, que definha, contra a secularização que avança. O retorno aos dogmas e a chantagem sobre os Governos democráticos são uma obsessão das Igrejas cristãs que convocam o histerismo dos seus padres e o fanatismo dos crentes contra a modernidade.

Os mitos agradam aos crédulos enquanto a reflexão crítica é apanágio dos herdeiros do «século das luzes» que as religiões, em geral, e o Islão, em particular, se esforçam por apagar.

Os crentes exultam por viver de joelhos, os cépticos têm a coragem de se manter de pé.