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Categoria: Superstição

7 de Fevereiro, 2024 Eva Monteiro

Não Blafesmarás

Fiz dois anos de catequese nos anos 90, que culminaram na primeira comunhão. Desde já, não recomendo. Aliás, por princípio, considero uma violação dos direitos da criança, dado que não tem idade para escolher se quer ou não associar-se a uma fé, e está longe da idade da razão, em que poderia ter o discernimento para recusar ideias dogmáticas e medievais. Em todo o caso, mandaram-me para lá, e para lá fui.

Para quem não sabe, não me bastou nascer mulher, tive que nascer canhota. Outrora juntar-se-iam esses dois elementos a uma personalidade pouco obediente ao dogma e ter-se-ia uma bruxa prontinha a assar no espeto. Ironicamente, na minha juventude, dediquei-me ao neopaganismo e a todo o tipo de espiritualidade new age. Não, não adivinhei o número do Euromilhões. Devo também acrescentar que, durante o primeiro ano da escola primária, a criatura de deus que me deu aulas tentou forçar-me a escrever com a mão direita. Desengane-se quem acha que nos anos 90 já tínhamos ultrapassado este tipo de ideias.

É importante este contexto porque há um episódio que não me canso de contar porque ilustra exatamente o que a Igreja Católica e a religião no geral representam para mim. Lembro-me de pouco dos ensinamentos de Cristo, a não ser que a maioria me pareceram ou fantasiosos ou de simples senso comum. Estes últimos mais raros. Lembro-me de um livro fino com uma capa branca ilustrada com um Jesus muito eurocêntrico, rodeado de crianças. Lembro-me que gostava tanto da catequista que arranjava qualquer desculpa para não comparecer. E lembro-me em específico, de aprender a fazer o sinal da cruz. Há que ajoelhar ao entrar na Igreja, tocar com a mão direita na testa -“Em nome do pai” – tocar com a mão no peito – “do filho” – no ombro esquerdo – “e do espírito” – e no ombro direito – “santo” – juntando as mãos – “amém”. Razão para fazer isto à entrada da Igreja? Disseram-me que era porque estava a entrar na casa de deus. Eu aprendi para que as beatas não ficassem a olhar para mim.

Ora, como mencionei, sou canhota, verdadeiramente infernal na mão com que escrevo e conduzo todo o tipo de funções terrenas. E esta é uma característica que uma criança não controla – é a sua mão dominante. Assim sendo, eis que, às vésperas da primeira comunhão, uma pequena Eva se levanta a mando da catequista e faz orgulhosamente o sinal da cruz. Sentia que era um momento decisivo, estava perante outras crianças e perante uma autoridade, que me solicitava que mostrasse o que tinha aprendido. Devo dizer que teria sido um sinal da cruz irrepreensível, não tivesse sido feito com a mão esquerda. Aqui d’el rei que a criatura estava a chamar o diabo. O senhor padre que não visse uma coisa dessas, dizia ela. Deus castiga! E ela também, se bem que não me recordo do castigo recebido. Sei que eventualmente o excelso senhor padre foi lá passar vistoria e eu já sabia que se não fizesse o sinal da cruz com a mão direita, estava em grandes sarilhos, quiçá entregue aos demónios e à blasfémia, qual verdadeira Eva caída de uma macieira.

Fui pesquisar os Dez Mandamentos, porque apesar de os ter aprendido à força, fiz todos os possíveis por mantê-los fora da mente na minha vida adulta. Encontrei um resumo no site da Opus Dei, que os resume.

Eu sou o Senhor teu Deus:

  1. Amar a Deus sobre todas as coisas.
  2. Não invocar o santo nome de Deus em vão
  3. Santificar os Domingos e Festas de Guarda
  4. Honrar pai e mãe
  5. Não matar
  6. Não cometer adultério
  7. Não roubar
  8. Não levantar falsos testemunhos
  9. Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos
  10. Não cobiçar as coisas alheias
Versão catequética dos 10 Mandamentos

Não acreditei muito nesta versão porque sabia que um dos mandamentos é não cobiçar a mulher do próximo. Desse lembrava-me porque é dos que mais se presta ao humor. Por isso, fui a uma das muitas versões da bíblia que os cristãos juram a pés juntos ser a original mensagem de deus, a mais correta e fiel e encontrei esta versão menos… catequética.

  1. Não terás outros deuses além de mim.
  2. Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zelo­so, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam, mas trato com bondade até mil gerações aos que me amam e obedecem aos meus man­damentos.
  3. Não tomarás em vão o nome do Senhor, o teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão.
  4. Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor, o teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades. Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou.
  5. Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá.
  6. Não matarás.
  7. Não adulterarás.
  8. Não furtarás.
  9. Não darás falso testemunho contra o teu próximo.
  10. Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seus servos ou servas, nem seu boi ou jumento, nem coisa alguma que lhe pertença.
10 Mandamentos segundo a bibliaon.com

Cada um destes mandamentos merece um texto que lhe seja exclusivamente dedicado e hoje não será o dia. Mas queria focar-me no segundo mandamento. E prometo que, tendo dado todas as voltas às rotundas cristãs, tenho um ponto a fazer.

A Queda e Expulsão do Jardim do Éden,1509-10, MICHELANGELO Buonarroti
Capela Sistina, Vaticano

Hei-de dizer que, de todos os mandamentos da cristandade, não invocar o nome de deus em vão é o mais importante. Sim, sim, mesmo acima de não matar e não roubar e até acima de não ter outros deuses. Mais valia ter-lhe chamado “Não blafesmarás”. Suponho que não é muito fácil de pronunciar. É que vivemos hoje numa sociedade em que ser ateu não é problema, desde que não se fale nisso. Ser ateu não é problema, desde que se respeite as crenças supersticiosas dos outros. E que se quer dizer com respeitar? Não criticar.

Ora, eu considero que tenho sim, um dever de aceitar o direito das pessoas a terem crenças. Não as posso querer impedir de as terem ou de regerem as suas vidas de acordo com preceitos religiosos. Mas as crenças não são senão ideias. E como ideias, podem ser criticadas. Devem ser criticadas. Um cristão pode dizer-me que se não me converter vou sofrer a eternidade no inferno com o a tortura de satanás como companhia. Reparem na ameaça. Ou fazes isto, ou acontece-te aquilo. Mas eu, como ateia canhota caída da macieira, não posso dizer “as tuas crenças são um bocado parvas”.

Ao longo da minha longa caminhada de desconstrução e de libertação do pensamento mágico, fui entendendo que a blasfémia é um ato de catarse, de purga, até de exorcismo diria eu. Por quê dizer em voz alta, isto é falso, isto não existe? Por que é que os satanistas ritualizam a blasfémia? Porque a forma de remover o medo da criança que acredita que o bicho papão está escondido no armário é abrir a porta e dizer “anda cá que não tenho medo de ti”. E quando nada acontece, a criança entende que o bicho papão não existe.

Temos medo. Já abrimos o armário e o bicho papão não nos papou. Mas quando o colega de escola vem dormir lá a casa e se cobre até aos olhos com medo que venha por aí o homem do saco, nós não nos permitimos rir. Não dançamos libertos no meio do quarto, com os pés expostos ao que o outro imagina que está debaixo da cama. Não lhe dizemos que cresça. Não dizemos a verdade. Não lhe tiramos os braços de debaixo das cobertas para mostrar que ninguém está ali para lhe agarrar as mãos. Que acreditar no bicho papão é estúpido.

Ah Eva, sua canhota do demo, comedora de maçãs. Mas tu também recorres à metáfora para dizeres o que realmente queres dizer. Que atrevimento!

É que a lei protege a religião. E apesar de ter a liberdade de não acreditar, e até de criticar a religião, seja ela qual for, não me posso dirigir a uma pessoa a dizer-lhe que as suas crenças são absurdas e que o seu deus é uma besta cruel, criatura abominável que, se fosse real, eu me recusaria a reconhecer ou adorar, já a pessoa se pode ofender. Se eu for para a frente de uma Igreja durante a missinha de domingo com um cartaz a dizer “párem de endoutrinar crianças”, estou a perturbar o ato de culto. E ambos são puníveis por lei. Contudo, se a um domingo de manhã uma parelha de Testemunhas de Jeová decidir vir proletarizar para a minha porta, acordando-me do meu merecido e mui antecipado sono matinal, já os meus direitos não estão a ser violados. Se durante a páscoa não posso escapar ao odioso dling dlong da sineta que acompanha a entourage das amêndoas e do peditório, já os meus direitos não estão a ser violados. Se durante as festas religiosas instalam colunas de som por todo o lado e decidem que toda a gente há-de ouvir a missinha, seguida da pior música que por cá se faz, já os meus direitos não estão a ser violados.

Só peço igualdade. Se não posso ofender o religioso, o religioso não pode proletarizar. Não me pode forçar a ouvir a missa, os sinos das igrejas, as celebrações religiosas que são dele e só dele. Não me pode impingir os santinhos e as rezas. Não me pode vir cá dizer “vai com deus”, “deus te guarde”, “deus a tenha”. O religioso não devia, também, misturar crença com a res publica. O religioso que mantenha resguardadas as suas crenças e deixe de usar símbolos religiosos no exercício de funções públicas, que não recrute para a igreja, templo, clube superticioso. O religioso que páre de impingir a sua crenca arcaica a uma criança que não se pode defender.

Ah Eva, canhota invertidora de sinais da cruz, mas os paizinhos é que sabem como educar um filho!

Sim? Experimentem tirar uma criança da escola sem mais nem menos que vêem logo a CPCJ a bater à porta com mais força que uma parelha de Testemunhas de Jeová. Se podemos exigir aos pais que permitam aos filhos um certo nível de educação, que dura um mínimo de 12 anos, não devemos impedir que durante esses anos de formação uma criança seja endoutrinada? Se temos provas concretas que o mundo não foi criado por deus há 6 mil anos, não devemos ter a expectativa que a criança não seja enganada?

Acima de tudo, dá-se um respeito desproporcional à fé. Não blasfemarás. Tudo o resto? Desde que varrido para debaixo de um tapete, faz-se. Podes matar, desde que te arrependas e peças perdão ao senhor padre. Podes trair, desde que te arrependas e peças perdão ao senhor padre. Podes [inserir acto horrendo], desde que te arrependas e peças perdão ao senhor padre. Falar contra a fé, alertar para as armadilhas mentais, para a subjugação da mente, a endoutrinação pelo medo, o condicionamento à criatividade e sentido inquisitivo das crianças, isso é que não. Isso, meus amigos, não se diz, é perseguição. E coitadinhos daqueles que, pertencendo inegavelmente ao status quo, são perseguidos pelos mauzões ateus. Deles será o reino dos céus.

Bom proveito.

6 de Fevereiro, 2024 Eva Monteiro

Os milagres Segundo a Ciência

Luigi Garlaschelli (Itália)*

Fenómenos paranormais, mistérios e milagres

Os fenómenos paranormais violam as leis da natureza, mas como cientistas curiosos gostamos de investigar se os factos paranormais realmente existem e se existem provas convincentes dos mesmos. (A resposta, até agora, é “NÃO”).
Um famoso “mágico” e escapista americano, James Randi, ofereceu, durante cerca de 30 anos, um milhão de dólares para quem conseguisse repetir o paranormal sob controlo. Ninguém conseguiu conquistar essa verba.
Os fenómenos paranormais aparecem com menos frequência, quanto mais são  investigados. Eis aqui, como exemplo, alguns mistérios (nem todos paranormais) com os quais me ocupei:
– Aprendi os segredos dos faquires (e eu próprio me tornei faquir): posso deitar-me numa cama com “unhas eriçadas”, expelir fogo, comer vidro, parar os batimentos cardíacos, etc.
– Cacei luzes perdidas num cemitério.
– Tratei da espada cravada na pedra! (E até consegui sacá-la)
– Examinei vedores, pessoas que afirmam poder encontrar uma fonte de água subterrânea com um pau, mas não foram capazes de detetar água a correr num cano.
– Testei, por meio de uma experiência, se a homeopatia seria eficaz em galinhas (e não é).
– Inquiri sobre as estradas mágicas onde os veículos sobem na descida (mas isso é apenas uma ilusão de ótica).

Mas os milagres também são fenómenos paranormais, embora ocorram na esfera religiosa. Esclareço que nós, cientistas, não estamos interessados na vertente da crença, mas no exame dos fenómenos. Em Itália, temos muitos milagres e explorei alguns deles.

Caravaggio «pictor praestantissimus», 2014

Sangue milagroso


O mistério mais famoso que investiguei é o chamado milagre do sangue de São Januário (San Gennaro). Esse “milagre” acontece três vezes por ano, na catedral de Nápoles, quando o sangue numa ampola se liquefaz, misteriosamente. É normal que o sangue coagule, mas não é normal acontecer que ele se liquefaça de novo e depois volte a coagular, novamente e novamente. Reproduzimos (ou imitamos) esse milagre por um método químico. Criámos um gel, ou seja, uma gelatina, feita de cloreto férrico e carbonato de cálcio. Este gel “tixotrópico” pode ser facilmente liquefeito com batidas suaves e depois, em repouso, solidifica novamente. Durante a cerimónia típica de liquefacção do sangue, o acto pelo qual o abade verifica se a liquefacção ocorreu faz com que o relicário portátil seja virado várias vezes, proporcionando assim a agitação necessária.
Outro sangue milagroso é o de São Lourenço (San Lorenzo), na cidade de Amaseno (a sul de Roma), que se liquefaz todos os anos, no dia 10 de agosto. Tive oportunidade de o observar bem: trata-se de uma substância normalmente sólida, mas que derrete quando a temperatura passa dos 30 graus, como acontece no verão. Na minha reprodução usei óleo de coco e corante vermelho.
A composição química da relíquia napolitana só poderá ser identificada pela análise do conteudo da ampola, porém tal análise é proibida pela Igreja. No entanto, bastaria apenas testar se o conteúdo se liquefaz batendo ou aumentando a temperatura.

As curas de Lurdes


Falemos agora das curas milagrosas de Lurdes (Lourdes, em francês), que deveriam ser as mais fiáveis, pois foram examinadas por três comissões, duas médicas e uma eclesiástica. Desde 1848, foram reconhecidos 70 milagres oficiais. Mas devemos ter em conta os seguintes factos: 
– Nos primeiros 50 anos (1848 -1909) ocorreram 38 curas. Entre 1910 e 1959: 25. De 1960 a 2009: 4. Assim, o número de milagres diminuiu constantemente.
– Nos primeiros 50 anos não existiam radiografias nem análises laboratoriais reais, portanto os diagnósticos das doenças eram muito incertos.
– As percentagens de curas “inexplicáveis” em Lurdes são iguais às que ocorrem nos hospitais, mas estas são menos visíveis.
– As curas nunca são – como seria necessário para um milagre – imediatas, perfeitas e completamente sem tratamento.
– Muitas vezes os documentos não são suficientes e os exames médicos ou diagnósticos são questionáveis (mesmo recentemente, como no caso da italiana Delizia Cirolli).
– Na maioria dos casos, tratava-se de doenças funcionais e não orgânicas (auto-sugestão e placebo).
– Muitas vezes, se confia demais nas testemunhas.
– Geralmente leva muito tempo até que o milagre seja reconhecido.
– É muito difícil – ou mesmo impossível – para quem quer fazer investigação obter fichas clínicas completas.
– O ex-diretor da Comissão Médica de Lurdes, Patrick Theillier, afirmou: “Uma pessoa doente só pode recuperar de uma doença que seja suscetível de desaparecer. O milagre não violenta a Natureza. Nunca aconteceu que uma criança com síndrome de Down fosse curada em Lurdes. Concluindo, o que se designa de milagre pode, em termos médicos, ser chamado de desaparecimento espontâneo dos sintomas.”

O Sudário de Turim


O Sudário de Turim é um pano de linho mundialmente famoso, atualmente guardado na catedral de Turim, e que os católicos tradicionalmente consideram o pano no qual o cadáver de Jesus Cristo foi amortalhado. A autenticidade da relíquia é contestada. Segundo alguns, foi realmente a mortalha de Jesus. De acordo com outros, é uma falsificação medieval. A Igreja (teoricamente) mantém uma posição neutra a este respeito e deixa os cientistas livres para decidir.
O Sudário é um lençol de linho com dimensões de 1,41 x 1,13 metros. Traz, nos dois lados, uma imagem escura de um homem torturado. (Vestígios de queimaduras também marcavam a imagem). Há vários indícios de que o sudário não é autêntico:
– As verdadeiras mortalhas palestinianas do século I DC eram totalmente diferentes. Naquela época os cadáveres eram amarrados e usavam-se vários panos. Além disso, os panos eram feitos de materiais diversos e confecionados com uma forma de tecelagem diferente.
– Para fabricar o Sudário de Turim foi utilizado um tipo de tecido que não existia até à Idade Média.
– O Sudário só apareceu no ano de 1355, numa pequena capela em França. Imediatamente após esse aparecimento, foi exibido para atrair os peregrinos e apresentado como verdadeiro. Por causa disso, dois bispos proibiram a sua exposição. (Existem documentos e mesmo bulas do papa da época, relacionados com essa proibição). Assim, mesmo a Igreja durante vários séculos não o considerou autêntico.
– Em 1988, três dos laboratórios mais experientes do mundo dataram-no com carbono-14. Resultado: é do século XIV!
– Um corpo humano real não deixa traços como os do Sudário: o traço é deformado e não matizado, mas é limpo.

O Sudário foi estudado, em 1978, e as características da imagem humana foram especificadas. Assim:
– A imagem é clara, matizada e não distorcida
– A imagem não se deve ao pigmento (ou seja, a grânulos sólidos), mas sim às fibras amareladas devido à decomposição da celulose (térmica ou química). O amarelecimento existe apenas na parte superficial dos fios de linho. No entanto, foram encontrados microvestígios de ocre (= terra argilosa, geralmente pulverulenta, de amarelada a avermelhada, usada como pigmento para tintas)
– A imagem mostra “negatividade”: descoberta graças à primeira fotografia, em 1898, na altura da revelação das placas fotográficas, parecia uma imagem real, porque as partes proeminentes do rosto se tornam brilhantes e as menos proeminentes, escuras.
– A imagem não fluoresce.
– Os vestígios de sangue não são matizados como a imagem corporal, mas são nítidos.

Todas essas características são consideradas inexplicáveis e, como tal, não criáveis por um artista. “O sudário é um objeto “impossível”, portanto um milagre”. Será possível? Eis as minhas hipóteses para o testar:
– A imagem original deveria ser mais visível, no início. Um artista não criaria uma imagem muito fraca.
– O Sudário foi criado esticando um pano sobre um corpo e esfregando-o com ocre seco. – Para a face foi utilizado um baixo-relevo para evitar deformações.
– Marcas de sangue e chicote foram pintadas posteriormente.
– Com o passar dos anos, o pigmento degradou-se.
– As impurezas contidas no pigmento provocaram o amarelecimento superficial das fibras.
– Este processo deve produzir automaticamente um pseudonegativo, uma imagem superficial, rasa e fraca, sem distorção e sem pigmento.
– Explicam-se os microvestígios de ocre remanescente, a falta de deformação e as características das manchas de sangue.

Os meus testes práticos foram, portanto, os seguintes:
– Esfregar, sobre um corpo real, o ocre, contendo vestígios de ácido (para simular impurezas de pigmento).
– Usar um baixo-relevo para o rosto.
– Adicionar marcas de chicote e sangue com um pincel.
– Meter no forno, a 125 graus e durante 2 horas, para simular antiguidade, com a minha “Máquina de fazer Sudários”!
– Lavar o pano para retirar o pigmento.
– Adicionar queimados, vestígios de sangue, etc.

O resultado apresenta uma imagem matizada, vestígios de sangue não matizados, pseudo-negatividade, imagem superficial devido ao amarelecimento das partes superficiais dos fios, etc. Portanto, não é verdade que o Sudário tenha propriedades que não podem ser reproduzidas!

Mais maravilhas


Na religião católica há casos de hóstias que sangram, como o milagre de Bolsena (1263). No entanto, muitos casos semelhantes também ocorreram em pão, bolos, etc. geralmente no verão. Por exemplo:
– Sangramento de hóstias em Paris (verão de 1290); Bruxelas (junho de 1369 e julho de 1379); Wilsnack, Alemanha (agosto de 1383); Sternberg, Alemanha (julho de 1492); Berlim (verão de 1510);
– Sangue num bolo, Stennwitz, Alemanha (julho de 1693);
– Sangue no pão, Chalons, França (setembro de 1792);
– Sangue na polenta (comida de milho), Legnaro, Itália (agosto de 1819).
Somente em 1819 se entendeu que se tratava de um microrganismo (Serratia marcescens) que cresce em alimentos ricos em amido, se o clima for quente e húmido, e que produz um pigmento vermelho. Assim nasceu a microbiologia. O milagre é facilmente reproduzido se se colocar algumas gotas da cultura Serratia numa fatia de pão.

Estátuas a chorar (e a beber)


Como pode uma estátua chorar? Às vezes há explicações naturais: a humidade condensa, a cola para os olhos derrete, etc. Por exemplo, numa estátua do Padre Pio, a água condensou-se por dentro e pingou de uma fenda (do cotovelo!). Por vezes ocorre trapaça. Houve um caso na Sicília de uma estátua a transpirar óleo. A polícia escondeu uma câmara e foi observada uma mulherzinha com uma garrafinha a derramar óleo na testa da estátua. Nestes casos, bastaria fechar a estátua num recipiente hermético, com câmaras e boa iluminação, para ver se ela realmente continuava a chorar.
Um caso famoso foi o de Civitavecchia, perto de Roma (1995): uma estatueta de Nossa Senhora parecia chorar lágrimas de sangue. Testemunhas viram-na chorar novamente. Mas cada testemunha relatou coisas diferentes, e as fotografias mostraram que nenhuma gota de sangue apareceu na face da estátua, exceto as primeiras. Além disso, o sangue era masculino e os donos da estátua sempre se recusaram a analisar seu DNA. Deixo as conclusões consigo.
É possível fazer uma estátua chorar sem tocá-la (este é um truque de laboratório, que reproduzi em entrevistas na TV). Numa estátua de gesso, oca, o líquido é guardado em um pequeno reservatório e escorre dos olhos. Os buracos não podem ser vistos porque estão cobertos por uma pequena quantidade de gesso que, por ser poroso, permite que o líquido escorra lentamente após alguns minutos.
Em 1996, muitas estátuas, em templos hindus, aparentemente bebiam leite de uma colher que lhes era levada à boca. O ‘milagre’ durou alguns dias. Em breve se percebeu que o leite não entrava realmente na boca, mas na verdade escorria pelo corpo da estátua.

Ligações:

www.luigigarlaschelli.itwww.cicap.org

https://sindone.weebly.com

https://skepticalinquirer.org/

Luigi Garlaschelli é um químico (agora reformado) e membro de C.I.C.A.P.  (italiano: Comitato Italiano per il Controllo delle Affermazioni sulle Pseudoscienze – português: Comissão italiana para o Controlo  das Afirmações nas Pseudociência).

Texto da revista Ateismo, nº 37, cedido por Luís Ladeira, tradutor.

6 de Julho, 2018 Carlos Esperança

Uma boa hipótese

Jesus Cristo usou óleo de canábis para fazer milagres

Musée de Tessé / Wikimedia

Jesus ressuscita o filho da viúva de Naim, óleo de Pierre Bouillon (1776-1831)

Os milagres atribuídos a Jesus Cristo nos relatos da Bíblia podem ter sido resultado do uso de óleo de canábis, cujas propriedades medicinais são conhecidas. Esta é a tese do controverso jornalista David Bienenstock.

O controverso historiador, escritor e jornalista David Bienenstock, um acérrimo defensor do uso de canábis, afirma que Jesus Cristo terá usado canábis nos “milagres” que lhe são atribuídos na Bíblia.

Os “registos históricos mostram que a canábis estava amplamente disponível na altura”, destaca Bienenstock em declarações ao jornal Daily Star, frisando que, naquele tempo, já se sabia “como a cultivar e como explorar as suas propriedades medicinais”.

“Não há nada diferente no eficiente óleo de canábis usado hoje em dia que não estivesse disponível às pessoas no tempo de Jesus – é simplesmente uma questão de concentrar a canábis em óleo e de a absorver através da pele”, acrescenta ainda o historiador.

A canábis seria também usada nos unguentos utilizados em cerimónias religiosas, e nomeadamente na unção de Jesus Cristo.

“Quando se examina o relato da unção de Jesus em termos de psicoactividade, é descrito em termos de uma experiência profunda que o transforma“, destaca Bienenstock, acreditando que essa transformação de que fala será resultado dos efeitos da canábis.

“O azeite da santa unção” e “o incenso santo” referidos no livro bíblico do Êxodo podem, inclusivamente, ser receitas com canábis, refere o mesmo historiador. E há académicos que suportam a ideia de que algumas das ervas mencionadas poderiam, na verdade, ser nomes usados na época para designar a canábis.

Carl Ruck, professor de mitologia clássica da Universidade de Boston, explica ao Daily Star que “parece haver poucas dúvidas sobre o papel da canábis na Religião Judaica“, onde era utilizada nos unguentos usados nas cerimónias.

“Obviamente que a fácil disponibilidade e a tradição de longa data da canábis, no início do Judaísmo, a terá, inevitavelmente, incluído nas misturas cristãs”, acrescenta Ruck.

Bienenstock defende que Jesus terá usados óleos de canábis para tratar doentes, lembrando que a Bíblia inclui relatos que indiciam respostas semelhantes à que epilépticos tiveram com o uso da droga nos tempos modernos.

“Alguém com a mentalidade religiosa da época, não percebendo a base de sustentação científica, como ou porque funciona, provavelmente, veria aquilo como um milagre“, conclui o historiador.

Também o investigador Chris Bennett, autor do livro “Sexo, Drogas, Violência e a Bíblia”, corrobora a teoria de Bienenstock, frisando que “o uso médico de canábis, durante aquele período, é apoiado por registos arqueológicos”.

Nenhum dos investigadores se pronunciou sobre o papel da canábis nos famosos milagres em que Cristo transforma pão em peixes e anda sobre a água.

ZAP //

D1A – Este artigo é mera cópia/colagem.

4 de Julho, 2018 Vítor Julião

A alma existe?

 
O monoteísmo diz que só o Sapiens tem uma alma imortal. O corpo pode morrer mas a alma segue o seu caminho para a salvação ou perdição, mas os porcos ou outros animais já não têm alma, logo não há lugar para eles nestes teatros circenses.
 
Só que, as descobertas científicas contradizem inequivocamente este mito monoteísta. Elas confirmam com exatidão os monoteístas quando eles dizem que os animais não tem alma, mas contradizem os mesmos crentes quando eles afirmam que o Homem tem alma. Os cientistas submeteram o Homo sapiens a dezenas de milhares de testes bizarros e observaram cada recanto do coração e cada fenda do cérebro, e nada! Absolutamente nada de alma.
 
“Ah, mas se não descobriram a alma, é porque esses tipos de bata branca que se acham muito inteligentes, não procuraram bem!”, balirá um crente certamente.
 
O problema para os crentes é que as ciências da vida duvidam que a alma exista, não apenas por não existir qualquer prova ou evidência da sua existência, mas também porque a ideia de alma vai contradizer os mais elementares princípios da evolução.
 
E é essa contradição, a principal causa de ódio desmedido e estúpido que os crentes monoteístas desvairados, alimentam pela Teoria da evolução.
27 de Maio, 2016 Carlos Esperança

Superstição

Vejam o vídeo, uma amostra de muitos outros de idêntico teor, que revela bem o estado de saúde mental em que muita gente se deixa afundar.

“As estrelas caem todas na Terra e fica o Céu negro (evidentemente); a Lua também cai; aparece um cara iluminado (ou não se via, que estava tudo escuro), com boné e farda tipo militar (lembrando Fidel, Guevara, Chaves ou Maduro), ricamente vestido (muito ouro e até a trombeta era feita desse metal); a menina sentiu-se arrebatada e tem pena de o não ter sido na verdade; claro que esteve na presença de Deus.”

Só a estrela Sol é umas centenas de vezes maior que a Terra, coisa que a menina por certo desconhece. Existem estrelas muito maiores que o Sol. Mesmo assim… caíram todas no nosso Planeta! Por que motivo o Divino viria de trombeta? Onde a menina se terá inspirado? E qual a razão de optar por trajes enriquecidos a ouro? Que modéstia…

Depois as revelações… quais revelações?

E muita gente tira partido de crendices tão ou mais absurdas.

(Enviado por Leopoldo Pereira)

25 de Maio, 2016 Carlos Esperança

Orações e milagres medievais

Bélgica, nasceu um Movimento Eucarístico.

Esse Movimento deu origem à Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento, o uso dos sinos na elevação na Missa e a própria festa do Corpus Christi.

Neste ano de 2012, a festa de Corpus Christi cai no dia 7 de junho.

A abadessa Santa Juliana de Mont Cornillon ardia em desejos de que o Santíssimo Sacramento tivesse uma festa especial.

Santa Juliana comunicou a visão a vários prelados
Miniatura do Livro de Horas (devocionário) de Maria de Borgonha.
A devoção do Ssmo. Sacramento deitou profunda raízes na Idade Média.

Ela teve uma visão em que a Igreja aparecia como uma lua cheia com uma mancha negra, sinal da ausência da solenidade.

Santa Juliana comunicou a visão a vários prelados. Entre estes estava o futuro Papa Urbano IV.

24 de Maio, 2016 Carlos Esperança

Milagre em 2.ª mão

É fácil a tradução. Fica provado que não foi apenas o milagre das rosas que a Rainha Isabel de Aragão copiou da tia-avó, homónima, que já o havia feito na Hungria. Era certamente um truque de família.

Também na Bíblia.

Milagre em segunda mão

7 de Maio, 2016 Carlos Esperança

Glória a S. Josemaria Escrivá de Balaguer – Texto de fim de semana

João Paulo II, emigrante polaco residente no Vaticano, solteiro, papa católico de profissão, acumulou a função de criar bispos e cardeais com a obsessão de fabricar beatos e santos. Pelava-se por milagres e gratificava os autores sem prejuízo da fixação em Maria e uma adoração por virgens que a idade e o múnus se encarregaram de exacerbar.

Mas os santos da igreja católica lembram funcionários acomodados. Fazem um milagre para chegarem a beatos, outro para serem promovidos ao posto seguinte e abandonam o ramo.

Enquanto candidatos praticam a intercessão que lhes rogam, mas desistem da vocação milagreira logo que abicham o lugar. E, quando se julgava que a intermediação tinha esgotado as vagas, João Paulo II rubricou alvarás de santo a largas centenas que se estabeleceram em nítida concorrência com os anteriores. Alguns destes fecharam a porta, que é como quem diz, foram apeados das peanhas onde enegreciam com o fumo das velas, se cobriam de fungos com a humidade ou se deixavam corroer pelo caruncho.

Com séculos de pequenos e honestos milagres, habituados à pedinchice autóctone e às lamúrias, quase sempre ao serviço de modestas comunidades que atendiam nos limites do razoável, perderam a aura e a devoção, submersos no tropel de novos e afidalgados ícones com vocação mediática. Migraram para as sacristias, acumulando pó a um canto, a delir a pintura e o préstimo, a desgastar as vestes e o respeito, em santa resignação.

Na religião há uma certa tendência para o sector terciário. Arrotear a fé, pescar almas, são tarefas pouco gratificantes. Transacionar bulas para deglutir carne à sexta-feira, vender indulgências, trocar santinhos, comercializar bênçãos, é negócio do passado. Agora, o que está a dar é o lucrativo sector milagreiro, em franca ascensão. Promover jubileus é um sucesso garantido para escoar imagens do promotor e providenciar a divulgação dos promovidos.

Não sei quanto valerá um dente de S. Josemaria Escrivá de Balaguer, com certificado de origem. Há de valer uma fortuna, a avaliar pelo êxtase que o primeiro a ser exibido provocou nos peregrinos durante as exéquias de promoção. Estou certo de que o mercado já está sortido de outras relíquias, nada restando do novel taumaturgo para exumar.

Pudessem os piedosos colecionadores ter adivinhado o destino promissor post mortem deste servo de Deus e ter-lhe-iam recolhido em vida duas dezenas de unhas e trinta e dois dentes. E a perda irreparável da primeira dentição! Quem sabe se a premonição materna não terá acautelado o primeiro incisivo transformando um desvelo num tesouro, através deste estranho processo alquímico – a canonização –, segredo transmitido aos sucessores de Pedro e usado em doses industriais por João Paulo II?!

Pudesse Teodorico Raposo ter deposto no regaço de D. Patrocínio uma relíquia de S. Josemaria, que nem sobrinho, nem tia, nem Eça sabiam que viria a existir, e a devota senhora ter-lhe-ia perdoado as relaxações a que o sangue inflamado do tartufo o induzia, embevecida pelos eflúvios celestes que dimanam da raiz do canino de um santo assim.

Tivesse a premonição dos membros do Opus Dei adivinhado a santidade do fundador, que grossos cabedais e a longevidade papal lograram, e teriam hoje em armazém abundante recheio de numerosos têxteis tingidos por flagelações ou impregnados de outros fluidos.

A onda de devassidão que grassa no clero amargurou o papa – que fez do celibato dogma e da castidade virtude obrigatória –, sem que a providência o tenha poupado à divulgação da corja imensa de pederastas, muitos deles pedófilos, que exornam as dioceses da igreja romana.

E um padre que não respeita uma criança também não pouparia um anjo.

É, pois, necessário que floresçam santos como S. Josemaria cujas relíquias hão de servir de benzina para desencardir a alma dos que sucumbem às tentações da carne.

Glória a S. Josemaria Escrivá de Balaguer nas Alturas e o poder na Terra ao Opus Dei.

In Pedras Soltas (2006) – Ortografia atualizada