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13 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Robert Trivers e Noam Chomsky


Robert Trivers é um biólogo evolucionista e um sociobiólogo que se distinguiu ao propor a teoria do altruismo recíproco. Em 1971 Trivers despoletou uma controvérsia que se transformou na época nas «guerras sociobiológicas» com o seu famoso artigo «A Evolução do Altruísmo Recíproco» que, recorrendo à Biologia Evolucionista e à Teoria de Jogos, responde à pergunta: se cada indivíduo maximiza os seus benefícios através do comportamento egoísta, por que razão algumas espécies (inclusive, mas não só, o Homo sapiens) evoluíram através de um mecanismo de trocas altruístas?

O seu trabalho deu uma base evolucionista para a compreensão das actividades sociais dos humanos, nomeadamente foi o primeiro a questionar o dualismo cartesiano res cogitans e res extensa e a propor que comportamentos altruistas e sentimentos como a compaixão tinham uma base genética. A base da psicologia evolutiva assenta no reconhecimento que à medida que pressões selectivas específicas condicionaram a evolução do nosso cérebro, essa evolução traduziu-se numa evolução de comportamentos. E determinados comportamentos, como o altruísmo, representam um trunfo evolutivo para o homem. Isto é, reconhece que tal como as capacidades cognitivas, as capacidades comportamentais, nomeadamente morais, únicas aos humanos decorrem da nossa evolução biológica, igualmente única. Ou seja, evoluiram connosco ao longo de milhões de anos, não nos foram concedidas por especial favor de um qualquer implausível Criador!

Trivers deu igualmente um contributo importante para percebermos os mecanismos biológicos subjacentes ao auto-engano que descreve como uma ferramenta para manipulação social. Como Trivers observou, a principal função do auto-engano é enganar mais facilmente os outros. A pessoa que se auto-engana julga falar a verdade, e acreditar na própria história permite-lhe ser ainda mais persuasiva.

Auto-engano especialmente importante para percebermos a propagação e manutenção de mitos, isto é, das religiões que não passam de formas (muito) eficientes de manipulação social.

A revista Seed oferece-nos este momento fabuloso em que Trivers e Chomsky, que dispensa apresentações, discutem o papel do auto-engano e da mentira numa série de comportamentos humanos, desde impressionar os membros do sexo oposto às invasões do Afeganistão pela URSS, do Koweit por Saddam ou do Iraque pela administração Bush. Para quem estiver interessado a transcrição do debate encontra-se aqui.

12 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

Tietmeyer no Banco do Vaticano

O arcebispo Paul Marcinkus transformou o Banco do Vaticano em caso de polícia e em antecâmara da morte para os principais comparsas do escândalo. O Papa B16 procurou agora um especialista do ramo bancário que aliasse conhecimentos das finanças e devoção religiosa.

O Banco do Vaticano é a caixa central das esmolas que pagam prestações da assoalhada da alma com sede no condomínio do Paraíso. Outras verbas pias lá vão parar, oriundas da lavagem de dinheiro ou de relações suspeitas, como outrora o ouro nazi extorquido aos judeus.

Para reabilitar o Banco (IOR) das patifarias que JP2 consentiu, desde empréstimos ao ditador Somoza à lavagem de dinheiro do tráfico de armas e à subvenção do sindicato Solidariedade, B16 vai nomear Hans Tietmeyer, o antigo presidente do banco central alemão – Bundesbank.

Além de ser um banqueiro respeitado, incapaz das patifarias de um arcebispo, estudou teologia, é um católico com sacramentos em dia, membro da Academia Pontifícia de Ciências Sociais e com dois irmãos padres.

Desta vez o banco do Vaticano vai passar a ser uma instituição séria apesar da localização da sede.

12 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

Pacheco Pereira com alguns equívocos

No Prós e Contras de ontem, ouvi Pacheco Pereira repetir a tese de que a laicidade dos EUA teria resultado do cristianismo evangélico, à época desconfiado da interferência do Estado nas igrejas. É verdade, mas é só meia verdade. A outra metade da verdade é que a laicidade fundacional dos EUA foi estabelecida por livres pensadores como Thomas Jefferson e James Madison, que teologicamente se encontravam no pólo oposto do cristianismo evangélico, pois pertenciam a igrejas protestantes liberais (como os quakers ou os unitários), ou não tinham qualquer prática religiosa. A laicidade dos EUA deveu-se, portanto, a uma confluência entre os que desconfiavam da interferência das igrejas no Estado e os que temiam a influência do Estado nas igrejas. De fora, ficaram aqueles que vinham da tradição das igrejas de Estado, caso dos anglicanos e dos católicos.

Pacheco Pereira terá também distinguido entre a fé profunda e impositiva de Bin Laden, e a fé profunda mas não impositiva de Bush. Em rigor, Bush é o presidente da História recente dos EUA que mais se tem esforçado por contornar a proibição constitucional ao apoio financeiro a comunidades religiosas (através das chamadas «faith-based initiatives»), e já referiu «Deus» mais vezes nos seus quase seis anos de poder do que os seis primeiros presidentes dos EUA na totalidade dos seus mandatos (muitas vezes contribuindo para envenenar com as suas crenças pessoais debates públicos sobre casamento ou investigação científica). Mas embora seja evidente que Bush é um ultraconservador que dirige uma democracia e que Bin Laden é um fanático que lidera um movimento islamo-fascista, não se combate um integrismo estrangeiro contemporizando com os fundamentalistas caseiros. Sem coerência, não há credibilidade.

[Também no Esquerda Republicana.]
12 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Bento XVI diz que o evolucionismo é irracional!

A cruzada de Ratzinger contra a ciência e pelo obscurantismo atingiu hoje o seu auge quando o Papa, que quando abre a boca apenas discursa sobre irracionalidades supostamente reveladas, afirmou que «a teoria da evolução é irracional»!

Na sua última missa em solo alemão, que não passou de uma diatribe pateta e patética contra os cientistas, o ditador do Vaticano mostrou sem máscaras o que desde a sua eleição dizemos: este papado vai ser pautado por uma guerra contra a ciência e contra os cientistas, que Ratzinger acusa «de se empenharem em demonstrar que Deus é inútil para o homem».

De facto, os progressos em medicina, possibilitados pela execrada irracionalidade, a teoria da evolução – por exemplo, alguns antibióticos de última geração são obtidos graças a evolução dirigida – diminuiram consideravelmente a utilidade de Deus, isto é, o mercado dos (pseudo)milagres, e, não obstante as pregações do sumo pontífice para que a SIDA seja curada com a fé, quando alguém está doente vai ao médico não ao padre!

Ratzinger, falaciosamente como seria de esperar, afirmou que a malvada ciência desde o iluminismo «se empenha com astúcia para obter uma explicação do mundo que torne Deus supérfluo», o que é um disparate irracional óbvio. Para além da imbecil astúcia com que mimoseia o propósito da comunidade científica em entender o mundo que nos rodeia – uma blasfémia, uma vez que a palavra «revelada» deveria ser suficiente – na realidade nenhum cientista se empenha de alguma forma em tornar supérfluo uma impossibilidade lógica.

Deus é simplesmente uma hipótese desnecessária em ciência. Mais, é uma hipótese absurda! Em ciência, através da recolha de dados experimentais, simplesmente damos uma explicação racional e natural para os fenómenos observáveis que seja coerente com esses dados e com todo o conhecimento acumulado. Racionalmente, isto é, cientificamente, o que resulta é não ser necessária a intervenção de qualquer factor sobrenatural para explicar o que quer que seja. Da física à química passando pela biologia não há qualquer necessidade de invocar sobrenaturalidades para explicarmos o mundo!

Contrariamente ao que pretende Ratzinger, que «as histórias sobre o homem sem Deus não têm lógica», todas as histórias sobre o homem só são lógicas se não recorrermos a alguma sobrenaturalidade. Deus não é um argumento lógico ou racional. Deus é uma construção humana que é aceite pela fé, que, por definição, dispensa qualquer prova lógica ou racional!

A negação do evolucionismo, o primeiro alvo a abater para a Igreja de Roma nos fazer regredir para a Idade Média, não deveria deixar dúvidas mesmo aos católicos mais distraídos sobre os propósitos deste papado: sob os escombros do concílio Vaticano II a ICAR quer levar-nos de volta ao concílio de Trento. A missa tridentina já fez o seu regresso em força, o obscurantismo supersticioso é agora o objectivo supremo do Vaticano.

Não é difícil prever que dentro em breve a Europa será palco das «guerras da evolução» que assolam os Estados Unidos, ateadas por Bento XVI e alimentadas pelo beatério mais ignaro da nossa praça!

12 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Cartoons do Holocausto publicados na Dinamarca

Cartoon do Al-Wifaq (Irão). O demónio judeu/israelita com uma bandeira dinamarquesa na forquilha diz «Não admito limites à liberdade de expressão excepto em relação ao Holocausto».

Mostrando que o cartoon reproduzido não corresponde à realidade, um jornal dinamarquês – o Informationpublicou seis dos cartoons sobre o Holocausto em exibição na capital iraniana, Teerão.

Estas seis cartoons integram os cerca de 200 escollhidos entre os mais de 1100 cartoons enviados à competição a nível internacional de cartoons sobre o Holocausto, lançada por em Fevereiro pelo presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad – o tal que é crente fervoroso na proximidade do Yawm al-Qiyamah, o dia do Juízo Final.

Esta competição pretendia testar a liberdade de expressão como um valor fundamental ocidental e surgiu como resposta à publicação dos cartoons sobre Maomé na génese da «guerra» dos cartoons – que trouxe mais violência a um mundo já abalado pela violência decorrente da intolerância das religiões.

Como já afirmei noutro post, o conceito de sátira, o que caracteriza a irreverência e denúncia satírica, é algo completamente alheio quer aos promotores quer aos participantes no concurso. Negar o Holocausto, no qual pereceram 6 milhões de judeus, não se enquadra no objectivo da sátira, castigat ridendo moris, «castigar os costumes pelo riso».

A publicação pelo jornal dinamarquês de 6 destes cartoons, que o editor considera «de mau gosto mas previsíveis», mostra aos fundamentalistas islâmicos que a liberdade de expressão é de facto um valor inabalável na Dinamarca. Assim como em todo o Ocidente.

Mas negar o Holocausto para promover a causa palestina não me parece forma apropriada de sensibilizar o mundo para as atrocidades cometidas contra os palestinos. Como o faz um dos cartoons escolhidos, um cartoon dividido em dois por um muro que de um lado apresenta, sob um sol radioso, uma lápide com uma estrela de David debaixo da qual há um único esqueleto e do outro, noite profunda e uma lápide com Sabra e Shatila inscrito, relembrando o massacre às mãos das milícias cristãs maronitas libanesas, em 16 de Setembro de 1982, de entre 2 300 a 3 500 civis palestinos, enquanto Ariel Sharon assobiava para o lado.

Como diz o editor do jornal, Palle Weis:

«Os nossos leitores ficariam desapontados se não publicássemos os cartoons».

11 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

João Paulo II em Notre Dame

As atrocidades perpetradas pelo clero devem-se mais ao poder económico e influência política de que dispõem do que à convicção. O medo e a ignorância condicionam a fé mas o estado de precisão e o monopólio da assistência nas mãos dos sacerdotes levam à subserviência e à oração.

Mas tal como o bispo da história a quem um barbeiro herege escanhoava os queixos, sentindo a navalha no pescoço, respondeu à pergunta dizendo que acreditava muito pouco em Deus, também as vítimas que dependem do poder das Igrejas reagem do mesmo modo reiterando, contudo, a inabalável fé que os protege.

No mundo islâmico a miséria e o desespero a que se junta o medo e a coação social fazem fanáticos os crentes e transformam em beatos os cidadãos.

Nos países democráticos, onde a secularização era vacina contra os desmandos do clero e o proselitismo cristão verifica-se um mimetismo que modifica gente de sãos princípios em beatos que debitam a bíblia, se empanturram com hóstias, persignam, genuflectem e rastejam por uma promessa de aluguer de uma assoalhada no Paraíso.

Governantes venais dão nomes da clerricanalha às praças e ruas cuja toponímia deviam defender dos embusteiros de Deus e fabricantes de milagres. O pudor até em França se perdeu já com autarcas que trocam o pudor republicano e a pedagogia da laicidade por um punhado de votos e o nome de um Papa pouco recomendável para um largo público.

Foi assim que o nome de João Paulo II infectou um largo, em frente à igreja de Notre Dame, em Paris, com a laicidade a ser ultrajada.

11 de Setembro, 2006 Palmira Silva

O caminho para o 11 de Setembro

A RTP1 começou ontem a transmitir o docudrama que dá título ao post, supostamente baseado no relatório da comissão do 11 de Setembro, na realidade uma ficção dramática que só pode ser entendida se nos lembrarmos que em Novembro há eleições para o Congresso norte-americano e que todas as previsões apontam uma derrota estrondosa para o partido teocrata republicano. E se soubermos que a ABC concordou em interromper a transmisão de hoje da 2ª parte da minisérie para um discurso de G.W. Bush…

Assim, a versão original do docudrama, escrita pelo conservador Cyrus Nowrasteh, depositava toda a culpa do 11 de Setembro em Bill Clinton. A versão original foi visionada dia 23 de Agosto no National Press Club em Washington e desde então tem agitado os media norte-americanos.

Dois membros da comissão do 11 de Setembro, Richard Ben-Veniste e Jamie S. Gorelick, criticaram veementemente a minisérie. Segundo o primeiro:

«Existem desvios significativos em relação ao nosso relatório. Eu perguntei porquê a ABC ficcionou acontecimentos que nós descrevemos com imenso cuidado. Não recebemos respostas satisfatórias» .

Também Richard Clarke, o perito em contra-terrorismo de Bush pai, Clinton e G.W.Bush afirma existirem cenas completamente inventadas no filme, nomeadamente no que respeita à actuação da administração Clinton.

Em resumo, se virem hoje a segunda parte do documentário não esqueçam que é uma ficção dramática cujo objectivo é propaganda política para a teocracia de G.W. Bush, em sérios riscos de perder a maioria no Congresso nas eleições de 7 de Novembro, e cuja semelhança com a realidade é mera coincidência.

11 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

A religião não foi culpada?

Os atentados de 11 de Setembro de 2001 não teriam existido num mundo sem religião. Sem a crença na vida para além da morte, aqueles terroristas não teriam sido convencidos a suicidar-se. Sem acreditar que estavam a contribuir para a glória de «Deus», não teriam aceitado, de consciência aparentemente tranquila, massacrar outras pessoas. Se não fossem muçulmanos, não teriam odiado homens e mulheres que só diferiam deles por serem cristãos ou judeus.

Tudo isto deveria ser óbvio, porque a vantagem que a religião confere às sociedades sempre foi a coragem e a imunidade moral, obscurecendo o bom senso e a própria realidade. Só a crença no além e a autoridade ética do clero têm permitido, ao longo dos séculos, que os soldados marchem para a guerra em ordem e aparentemente sem medo.

A Al-Qaeda insiste em recordar-nos que nos devemos converter ou morrer. É irracional? Sim: a religião é irracional.

10 de Setembro, 2006 ricardo s carvalho

recortes de steven weinberg, prémio nobel da física de 1979

steven weinberg é um físico norte-americano, nascido em 1933, e vencedor do prémio nobel da física de 1979 (pela combinação das forças electromagnética e fraca na chamada força electrofraca, base do modelo standard da física de partículas moderna). é autor do artigo mais citado de todos os tempos em física teórica de altas energias. ao longo da sua vida, steven weinberg fez muitos comentários sobre religião. fazemos aqui uma colectânea (de fontes diversas) de algumas das suas melhores intervenções:


«[…] O esforço para compreender o universo é uma das poucas coisas que eleva a vida humana um pouco acima do nível da farsa, e lhe dá alguma da elegância da tragédia. […]»

«[…] Nada nos últimos quinhentos anos teve um impacto tão grande para o espírito humano como as descobertas da ciência moderna. […]»

«[…] Nada foi mais importante na história da ciência do que o trabalho de Darwin e de Wallace salientando que, não apenas os planetas, mas a própria vida, pode ser compreendida de uma forma naturalista. […] Eu sinto, pessoalmente, que o ensino da ciência moderna é corrosivo para a crença religiosa, e apoio-o completamente! Uma das coisas que de facto me tem guiado na vida, é o sentimento que esta é uma das grandes funções sociais da ciência–libertar as pessoas da superstição. […]»

«[…] Pela palavra Deus ou nos referimos a algo em concreto ou não nos referimos a nada em concreto. Se pela palavra Deus nos referimos a uma personalidade que se preocupa com os seres humanos, que fez tudo isto por amor para com os seres humanos, que nos vigia e que intervém, então eu tenho que dizer que, em primeiro lugar, como é que o sabemos, o que leva as pessoas a pensar isso? E em segundo lugar, isso é realmente uma explicação? Se isso é verdade, então o que o explica? Porque existe um tal Deus? Não é o final de uma cadeia de porquês, é apenas um passo, e as pessoas têm necessáriamente que dar o próximo passo. […]»

«[…] Eu penso que foi verdade no passado que existia uma esperança algo alargada que, ao estudarmos a natureza, descobrissemos enfim o sinal de um grande plano, um plano em que os seres humanos tivessem um destacado papel principal. E isso não aconteceu. Penso que cada vez mais e mais a descrição da natureza, do mundo exterior, tem sido a de um mundo impessoal governado por leis matemáticas que não têm qualquer preocupa&ccedilão especial com os seres humanos, um mundo em que os seres humanos aparecem apenas como um fenómeno do acaso e não o objectivo para o qual o universo está dirigido. […] Acredito que não existe qualquer propósito para o universo que possa ser descoberto pelos métodos da ciência. Acredito que o que encontrámos até agora, um universo impessoal que não está particularmente dirigido aos seres humanos, é o que continuaremos a encontrar. E que quando descobrirmos as leis últimas da natureza, elas terão uma impessoalidade fria e distante. […]»

«[…] Penso que foi gasta muita energia intelectual, ao longo dos séculos, no que diz respeito a assuntos religiosos. Pensem em todos os monges que se dedicaram aos detalhes da doutrina teológica — monges e rabinos e monges budistas e imãs, ao longo dos anos a dedicarem tanto talento e tanta energia às questões da teologia. De certa forma a ciência dá-nos uma forma alternativa de usar a nossa mente. Isto é mais alguma coisa em que podemos usar a inteligência humana. E tem várias vantagens. Tem a vantagem de termos formas de descobrir se estamos errados sobre as coisas. Eu já tive essa experiência na minha vida — a maior parte dos cientistas já teve — de ter uma teoria que eu pensava ter que estar certa ser provada errada através de experiências — é uma experiência muito libertadora. […]»

«[…] Penso que parte da missão histórica da ciência tem sido de nos ensinar que nós não somos fantoches da intervenção sobrenatural, que nós podemos construir o nosso próprio caminho no universo, e que temos de encontrar por nós próprios o nosso sentido de moralidade. […]»

«[…] A religião é um insulto à dignidade humana. Com ou sem religião, encontramos pessoas boas a fazerem coisas boas e pessoas más a fazerem coisas más. Mas para encontrarmos pessoas boas a fazerem coisas más, para isso é necessário estar presente a religião. […]»

«[…] Esta tem sido o mais frequente motivo para nos matarmos uns aos outros – não apenas para pessoas de uma dada religião matarem as de uma outra religião, mas mesmo dentro de uma mesma religião. Afinal de contas, foi um muçulmano que matou Sadat. Foi um judeu devoto que matou Rabin. Foi um hindu devoto que matou Gandhi. E isto tem acontecido assim ao longo de séculos e séculos. Parece-me que em muitos aspectos a religião é como um sonho – por vezes um sonho bonito. Outras vezes um pesadelo. Mas é um sonho do qual me parece ser mais do que altura de acordarmos. Da mesma forma que uma criança aprende sobre a “fada dos dentes de leite” e é incentivada a deixar os dentes que caem debaixo da almofada – e nós gostamos que a criança acredite na “fada dos dentes de leite”. Mas eventualmente nós queremos que a criança cresça. Penso que é altura para a espécie humana crescer e amadurecer neste aspecto. […]»

«[…] Carl Popper lembrou que, apesar de terem sido feitas coisas terríveis fazendo uso dos frutos da ciência, nunca ninguém iniciou uma guerra por causa de um princípio científico, ou exterminou populações inteiras por estas não concordarem com um dado aspecto da ciência. […]»

«[…] A maior parte das grandes religiões do mundo co-existiram muito confortavelmente com a escravatura. […] Parte da evolu&ccedilão geral do conceito de moral, por parte da raça humana, pode ser creditada ao crescimento da ciência–um sentido de racionalidade, uma visão científica que nos diz que não somos assim tão diferentes uns dos outros, que não existe qualquer direito divino para os reis, e por aí fora, não existe nenhuma diferença racial intrínseca que nos possa permitir escravizar uma raça em proveito de uma outra raça. […] As pessoas simplesmente têm se tornado menos religiosas e mais morais. […]»

«[…] [Não sei] se estamos a caminhar para uma nova Idade das Trevas, onde os povos voltem a iniciar cruzadas e guerras santas e genocídios, ou se o curso natural do racionalismo e do humanitarianismo irá continuar, e a religião irá gradualmente desvanecer para algo de muito menor importância. […] Do meu próprio ponto de vista, apenas posso esperar que esta longa e triste história finalmente acabe algures no futuro próximo, e que esta progressão de padres e curas e monges e rabis e imãs e mullah‘s e bodisatvas finalmente acabe, e que nunca mais voltem. Espero que isto seja algo para o qual a ciência possa contribuir, e se for, então eu penso que essa pode ser a contribuição mais importante para a sociedade que nós podemos fazer. […]»


[também no esquerda republicana]

10 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Presunção e autismo papal


A grande autoridade em questões de medicina que dá pelo nome de Ratzinger afirmou hoje na sua homilia em Munique que a SIDA só pode ser combatida com fé.

Considerando que a Igreja Católica se tem distinguido por ser o maior obstáculo ao combate a este flagelo acho que é de facto preciso muito autismo, muita falta de vergonha na cara para debitar barbaridades como estas.

Na mesma homilia, o ex-inquisidor mor elevado por graça do «espírito santo» a ditador do Vaticano, criticou a sociedade ocidental por se preocupar com minudências em vez no que considera realmente importante: a evangelização. Queixando-se amargamente daqueles que «têm a ideia de que os projectos sociais se devem desenvolver com a máxima urgência, enquanto que os assuntos que dizem respeito a Deus ou à fé católica são coisas mais particulares ou de menor importância», criticou os laicos governos ocidentais por devotarem o dinheiro dos impostos de todos a projectos «ateus», como sejam combater a exclusão social, a pobreza e a fome, em vez de o entregarem à Igreja para esta «catequizar» o Mundo!

Mereceram ainda fortes críticas a liberdade de expressão e a liberdade de religião, já que Ratzinger afirmou ser «cinismo» considerar «um direito da liberdade ridicularizar o sagrado». A ateia ciência fez parte, como seria de esperar, dos ataques do Papa contra os progressos civilizacionais do Ocidente nomeadamente por não ser subordinada aos anacrónicos ditames do Vaticano, nomeadamente no que respeita à investigação em células estaminais.

Disse ainda Ratzinger que «A tolerância de que precisamos urgentemente implica o temor a Deus», deplorando a secularização das sociedades ocidentais que as fizeram perder o medo de papões e as tornaram «surdas a Deus», isto é, surdas às ameaças dos castigos divinos usadas tão eficientemente por Roma durante séculos. Na semana passada Ratzinger tinha sugerido que a «verdadeira» democracia passa por acatar as ordens do Vaticano, sendo «totalitários» os governos que não se aceitam reger pelos ditames do Vaticano.

Continua a senda obscurantista e a cruzada anti-modernidade de uma organização que recentemente declarou obra do Demo as piores catástrofes do século XX, já que Hitler e Estaline… estavam possuídos pelo Diabo!