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Categoria: Não categorizado

25 de Junho, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Eu nunca vi o meu pai bebé nem tartaruga. Se o meu pai me disser que já foi bebé eu acredito que sim. Mas se me disser que já foi tartaruga eu duvido da afirmação e da sua sanidade. Não é uma questão simples de confiar no meu pai. Não se reduz aos extremos de confio ou não confio. É a tarefa mais complexa de comparar a afirmação com a imagem coerente que eu tenho da realidade, testar (a tal prova) a sua compatibilidade, e decidir, no caso de serem incompatíveis, se revejo o modelo ou rejeito a afirmação. O meu modelo é compatível com um bebé crescer e envelhecer, mas incompatível com o meu pai ter sido tartaruga. Como as evidências em que apoio o modelo (com que o provei, no sentido de testar) são mais sólidas que a afirmação que o meu pai foi tartaruga eu rejeito a afirmação. Mesmo vinda de alguém em quem normalmente confio.

    A proposta de «ter confiança nos testemunhos» é inaceitável porque exige uma confiança extrema que ignora outros factores. A confiança sensata depende de como o testemunho encaixa num modelo assente em evidências. A confiança cega que os crentes defendem não pode ser base para um diálogo. É arbitrária. Porquê confiar naquele testemunho e não naquele outro que o contradiz?

    […] Mas o crente parte de premissas que já sabe que o ateu rejeita. Alega que nada de empírico é relevante, pondo de parte todas as observações que possa partilhar com o interlocutor. E, finalmente, afirma que a fé transcende a razão. O que sobra? Nada. É esse o diálogo…»(«Diálogo difícil, parte 2.», no Que Treta!)

  2. «O Conselho da Europa reconheceu recentemente o mesmo (agradeço ao Luís Azevedo Rodrigues a informação) em termos que não deixam dúvidas. Vale a pena ler a proposta da Comissão de Cultura, Ciência e Educação na íntegra, que aborda, entre outros indícios preocupantes, a disseminação do tijolo criacionistaCriacionismo no Conselho da Europa», no De Rerum Natura)
  3. «É então que Hitchens passa ao ataque:
    “Tenho de reconhecer a coragem e a honestidade de Lewis, porque, de facto, ou os evangelhos correspondem, de alguma forma, a uma verdade literal ou, pelo contrário, tudo aquilo não passa de uma fraude. Bem, o que é verdade é que se alguma coisa se pode afirmar com toda a certeza, e até com as provas por eles próprios fornecidas, é que os evangelhos podem ter tudo menos uma correspondência com uma verdade literal…”.»
    God is Not Great: How Religion Poisons Everything», no Random Precision)
23 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Deus é pior que os homens

A luta contra as religiões é um imperativo ético para a vitória da ciência sobre a superstição, da modernidade contra o obscurantismo e da liberdade dos homens contra a prepotência divina.

Não são os crentes, vítimas indefesas dos medos herdados de geração em geração, os alvos da animosidade ateia. Aliás, os ateus não têm ódios, defendem a tolerância e a liberdade, que são incompatíveis com a violência e os interditos destilados pelos livros sagrados das religiões monoteístas e pelos clérigos de serviço.

O descrédito das religiões é o caminho para a livre determinação de homens e mulheres prisioneiros do dogma, da tradição e da perversidade das relações de poder.

Um Deus que tem fúrias não merece respeito nem se domestica com orações, precisa de uma camisa-de-forças. Se é propenso à ira devia acalmar-se com uma benzodiazepina de semi-vida curta. Mas como tratar um déspota que só existe na imaginação dos créus?

É na denúncia da falsidade do martírio que lhe inventaram e da virtude que reclamam os que vivem à sua custa, que encontraremos os caminhos da liberdade e da paz, sem os temores do Inferno e as sevícias dos clérigos.

Não há verdades teológicas. Estas não passam de mentiras ao serviço da superstição.

* Brito é português, radicado em França, onde é um dos melhores caricaturistas. O cartoon foi publicado por amável deferência do autor.

22 de Junho, 2007 jvasco

Não é brincadeira nem sarcasmo…

…mas ultrapassa até ao limite da imaginação, o maior sarcasmo que eu poderia ter concebido para troçar o criacionismo.

Existe quem acredite mesmo que a terra é plana, porque assim o diz a Bíblia. Dizem que se a terra fosse redonda, bastaria viajar um pouco para ficarmos de cabeça para baixo e cairmos. Dizem que os inventores sempre rejeitaram os cientistas, que são quem mantém esta mentira, apenas com o objectivo de destruír Deus, o certo e o errado.

Volto a repetir: isto não é uma brincadeira. Esta gente existe.

Nota: eu sei que os criacionistas em geral não acreditam nisto. Na verdade, espero nunca ter discutido com um que acreditasse. Mas isto permite ver até que ponto pode alguém chegar quando se dá mais crédito à Bíblia que à ciência.

22 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Padre preso em flagrante

A detenção de um padre na freguesia de Areias, concelho de Santo Tirso, quando fazia um baptizado, é inaceitável à luz do direito ao trabalho. O indivíduo em causa até tinha experiência em missas, baptizados, funerais e outras cerimónias litúrgicas. Não tinha queixas dos fregueses e comportava-se como qualquer outro inofensivo aldrabão.

Com quatro anos de experiência em missas na cidade da Trofa e a fazer tudo o que os outros padres fazem, o oficiante não é um principiante no ofício do divino. Pode não ter diploma mas, com a falta de padres, não se vê que mal tem o exercício da profissão que, ainda por cima, não prejudica ninguém (quando é a brincar).

A um pedreiro ninguém pede o diploma de assentador de tijolos nem a um varredor o de operário especializado em alfaias de limpeza, e pode empunhar a vassoura sem carteira profissional. Por que razão se há-de exigir a um profissional de baptismos, confissões e ofícios correlativos o respectivo alvará?

Aqui houve perseguição do bispo. Deus não se importou com o trabalho do biscateiro mas o dono da diocese reclamou para a polícia. Com que autoridade? Acaso a alma do neófito ficava mal limpa, os nubentes que abençoou ficaram a viver em mancebia, as confissões não libertaram os créus dos pecados que os atormentavam e as missas não aliviaram das obrigações os cristãos que as rezaram?

Que raio de profissão é essa de padre que exige carteira profissional e um certificado de garantia passado pelo bispo da diocese?

22 de Junho, 2007 Carlos Esperança

H. U. C. – A gula dos católicos

Os Hospitais da Universidade de Coimbra tinham no projecto um espaço destinado aos crentes e não crentes onde, nas horas de tristeza, pudessem recolher-se para meditar ou rezar.

É um espaço amplo onde a Igreja católica, na sua gula insaciável, começou por colocar uma cruz, depois o patrono do hospital (santo certamente virtuoso) e finalmente reuniu a família. Hoje até a Senhora de Fátima jaz numa peanha a lembrar aos católicos que, se querem curas, é a ela que devem meter a cunha para o divino filho.

Há sessenta cadeiras e genuflexórios e, nos anexos, dois capelães ganham a vida a meter medo com a morte. O vencimento dos empregados do Deus católico é igualado ao dos chefes de clínica – o grau mais elevado da carreira médica. No fundo são médicos das almas sem necessidade de tirarem a especialidade ou sujeitarem-se a concursos.

À entrada da capela estão quatro montes de publicações pias:

1 – Folheto da Capelania cujo verso se reproduz;
2 – Um panfleto A8 com uma história em casa de Simão onde Jesus teve um encontro casto com uma mulher impura e que termina com «cânticos»;
3 – O pio jornal «Correio de Coimbra» onde o Sr. António Marcelino, bispo reformado de Aveiro, tem um interessante artigo: «Teremos ainda Portugal por muito tempo»?
4 – O Amigo do Povo cujo artigo principal «À sombra do castanheiro» é um ataque ao primeiro-ministro e uma tentativa de ironia com o percurso académico de Sócrates cujo nome nunca é referido.

Consta-me que foi contratada uma freira para os serviços religiosos. Não se destinando à reprodução, palpita-me que é mais um encargo com as almas à custa do erário público.

22 de Junho, 2007 Ricardo Alves

O mundo das religiões (22/6/2007)

  1. Os protestos, sobretudo no Paquistão, contra a atribuição de uma condecoração ao ateu anticlerical Salman Rushdie, que nasceu no Estado indiano de Caxemira, parecem começar a ter sucesso: Margaret Beckett, ministra dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, disse ontem que tinha «pena» que os muçulmanos estivessem ofendidos. O ministro dos Assuntos Religiosos do Paquistão já chegou a afirmar publicamente que o suicídio seria justificável para matar Salman Rushdie.
  2. A parada gay de Jerusalém acabou por ter lugar, embora os seus dois mil participantes tenham sido que ser escoltados por sete mil polícias. Centenas de judeus ortodoxos aproveitaram a ocasião para demonstrar os seus sentimentos de amor e fraternidade pelos seus semelhantes, incendiando caixotes do lixo e gritando insultos. Dezanove judeus fundamentalistas foram detidos pela polícia, um deles por planear atacar à bomba a manifestação.
  3. Mais de vinte e quatro mil pessoas assistiram ontem às cerimónias neo-pagãs que assinalaram o solestício em Stonehenge, no Reino Unido, um dos países do mundo onde o retorno a religiões pré-cristãs é mais significativo. Note-se que não existe qualquer continuidade histórica e sociológica entre as comunidades pré-celtas e os actuais neo-pagãos. Veja as fotografias.
  4. Um hacker identicado como «Gabriel» colocou na internete uma cópia do último capítulo do próximo livro da série Harry Potter, que estará à venda em Julho. «Gabriel» escreveu, no fórum onde deixou a cópia, que o seu acto de pirataria informática foi motivado pelas palavras de Ratzinger, que afirmou em tempos que «Harry Potter [arrasta] os jovens para o neopaganismo».
21 de Junho, 2007 Ricardo Alves

Abandonar o Islão

É hoje apresentado em Londres o Conselho dos Ex-Muçulmanos da Grã-Bretanha. A nova organização, liderada pela iraniana Maryam Namazie, apoiará todos aqueles que abandonem publicamente o Islão, e soma-se ao Conselho Central dos Ex-Muçulmanos da Alemanha, lançado em Março passado, e a movimentos de apóstatas do Islão na Escandinávia. Está prevista para Setembro a fundação de uma organização de apóstatas do Islão na Holanda. Todas estas organizações criticam implacavelmente os políticos e os media que escolhem como interlocutores, nas comunidades imigrantes, os dignitários religiosos. Tal como acontece com os outros europeus, a maioria dos cidadãos de origem muçulmana não se sentem representados por fundamentalistas religiosos. Como se pode ler no início do manifesto dos apóstatas de Londres:
  • «Nós, descrentes, ateus, e Ex-Muçulmanos, estamos a fundar e a juntar-nos ao Conselho dos Ex-Muçulmanos da Grã-Bretanha para insistir que ninguém seja estereotipado como um Muçulmano com direitos culturalmente relativos, e para que não se considere que somos representados por organizações islâmicas retrógradas e pelos “líderes da comunidade muçulmana”.
  • Aqueles de entre nós que se têm apresentado publicamente com os seus nomes e fotografias representam muitos outros que não podem ou não querem fazê-lo por causa das ameaças encaradas pelos que são considerados “apóstatas” – algo punido pela morte nos países sob a lei islâmica. Fazendo-o, estamos a quebrar o tabu de renunciar ao Islão e também a tomar uma posição pela razão, por direitos e valores universais, e pelo laicismo.
  • Embora ter ou não ter religião seja um assunto privado, a crescente intervenção e devastação causada pela religião e em particular pelo Islão na sociedade contemporânea suscitou a nossa declaração pública de renúncia. Nós representamos a maioria na Europa e um vasto movimento laico e humanista de protesto em países como o Irão
Recorde-se que, na religião islâmica, a apostasia é castigada com a pena de morte. Neste dia de tristeza para Alá e Maomé, o Diário Ateísta saúda todos os apóstatas.
21 de Junho, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Temos que partir daquilo em que concordamos. Por exemplo, que Odin não é um deus de verdade. Não é irrefutável, não é dogma, não é algo que eu não pretenda demonstrar ou não possa justificar. Mas é uma opinião que partilho com o Bernardo e com muitos outros crentes. É um bom ponto de partida para um diálogo porque não precisamos perder tempo a discuti-lo. Outra premissa útil é que uma longa tradição religiosa considerou Odin um deus de verdade. Não é axioma, mas é outra premissa aceitável. E destas premissas deduz-se que a tradição religiosa não justifica a crença num deus.

    Partindo de premissas aceites por todos e seguindo um raciocínio que todos considerem válido garante-se que todos irão concordar com a conclusão, seja qual for a sua opinião inicial. Assumindo que estão honestamente interessados no diálogo. Quem admite que A é verdade e que A implica B mas mantém a sua fé que B é falso não quer dialogar. E se cada um se limita a proferir os dogmas que considera irrefutáveis ninguém se entende. Como exemplo, aponto mil e quinhentos anos de animado diálogo entre o Cristianismo, o Judaísmo e o Islão.»(«Diálogo difícil, parte 1.», no Que Treta!)

  2. «Os mitos de destruição escatológica, que se traduzem na crença num apocalipse seguido de um julgamento final para alguns, são característicos de religiões sortidas, dos Maias aos Hindus. A ideia de que uma força maior efectivará a vingança das provações dos «justos», que aqueles que vemos como os nossos opressores sofrerão horrores inimagináveis, nem que seja no fim dos tempos, tem um apelo evidente para muitos.»Apocalipse Now», no De Rerum Natura)
  3. «Tal como acontecia na ocasião, também agora os sunitas e os shiitas continuam a lutar no Médio Oriente, os muçulmanos e os hindus na Caxemira, os budistas e os hindus no Sri Lanka, e os muçulmanos e os judeus em Israel.
    Mas duas coisas acontecem agora nesta nossa época pós-moderna e pós-Guerra Fria: a religião, frequentemente disfarçada de pressupostos ou fundamentos étnicos regressou à arena política; e as religiões continuam sem saber como conviver em paz umas com as outras.»
    Será que é realmente possível aprendermos a gostar das pessoas que não são como nós?», no Random Precision)
20 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Eutanásia

O respeito pelos direitos individuais e pela dignidade humana estão a mudar as pessoas. É um processo lento que não acompanha a rápida secularização, umas vezes por cálculo político dos partidos, outras por preconceito e hipocrisia.

A eutanásia é uma palavra que, tal como a morte, parece ser do domínio do obsceno. É preciso que haja coragem para as trazer para a discussão pública, para fazer reflectir os que nunca têm dúvidas e gostam de verdades imutáveis.

Mal se avança num interdito beato e logo o apodo de assassinos carimba os que ousam pôr à discussão assuntos dolorosos ou dramáticos. Invocam Deus, em vão, à espera de que a Idade Média refulja em apoteose por entre fogueiras, torturas e banimentos.

É neste caldo de cultura que ganha relevância a afirmação de João Lobo Antunes, neurologista, membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e mandatário nacional de Cavaco Silva na última candidatura presidencial: «Há situações em que acho que a devia ter feito [eutanásia]».

Não admira, pois, que – segundo um inquérito – 24% dos médicos oncologistas fariam eutanásia e 39% defendem a sua legalização. Estes médicos portugueses são os que melhor conhecem o paroxismo da dor e a crueldade de prolongar o sofrimento inútil.

Claro que aparecem os ressentidos do costume, incapazes de respeitar a vontade alheia, possessos de uma pulsão totalitária que pretendem impor a todos os outros as legítimas convicções que os outros lhes respeitam.

A eutanásia já se encontra legislada em países civilizados que têm pela vida e bem-estar das pessoas mais respeito do que aqueles que se opõem à discussão e que confundem o eventual direito com a imposição da obrigação.

A experiência holandesa é um bom ponto de partida para a reflexão serena e urgente.