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4 de Setembro, 2015 Carlos Esperança

O pastor de peregrinos (crónica)

Por

[Pode dizer que é um texto da autoria dos Irmãos Cavaco da escrita criativa, texto esse que integrará um livro de contos variados a publicar em breve…

Sua benção,
a) ]

Embora haja muitos pastores peregrinos, raros são os pastores de peregrinos. Flávio Manso é um deles.

Um dia, levado por um súbito assomo de crença, decidiu passar a apascentar os caminhantes impelidos pelo poderoso motor da fé.

Como voluntário da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Viana do Castelo, conduz rebanhos de peregrinos ao longo das estradas nacionais e florestais, impedindo que se tresmalhem, que saiam do trilho, que sejam “aspirados” por pesados de mercadorias, que utilizem os SOS para “acicatarem” a líbido das amantes…

Condu-los com um cajado, reagrupa-os à “calhoada” quando se afastam do grupo e, sempre que atravessam cadeias montanhosas, coloca-lhes uma coleira de espinhos à volta do cachaço, para evitar que se tornem presas fáceis das famintas alcateias.. Os peregrinos “alzheimarados”, esses, são municiados com o respectivo chocalho.

Flávio não se poupa a esforços para que os seus rebanhos realizem, nas melhores condições possíveis e a médias assinaláveis, as longas e penosas transumâncias religiosas. Para tal, e depois de lhes ministrar workshops de marcha olímpica, organizou uma eficaz e cómoda rede de lameiros (devidamente mapeada), onde os caminhantes pastam num ambiente pousado e bucólico, hidratando-se nas bermas baixas.

Montou diversos pontos de tosquia ao longo da estrada, onde os peregrinos de pêlo mais comprido podem aliviar-se do excesso de carga capilar.

Transformou ainda uma série de casas de cantoneiro abandonadas em confortáveis currais. E que bem acantonados ali ficam os “papa-léguas”, vigiados por diligentes párocos que, atentos ao menor perigo ou movimento suspeito, cumprem na perfeição a exigente função de cães de guarda.

Mas tal como qualquer pastor, Flávio tem de fazer pela vida. Por isso ordenha as peregrinas mais carregadas de leite, fabricando com tão precioso líquido o saboroso queijo de leite de peregrina, pago a peso de ouro por retalhistas gourmet. E aproveitando o bigode dos peregrinos e o buço das peregrinas, que emprestam uma maleabilidade única à grossa lã caseira, confeciona resistentes peças de burel e de surrobeco.

Com a bênção e o apoio da Diocese de Leiria-Fátima, assim vai Flávio Manso cumprindo, como Bom Pastor da Igreja, a devota missão de guiar pelos caminhos da Fé os rebanhos de cristãos que Deus lhe confiou, recompensando os mais obedientes com periódicas visitas a lojas de turismo religioso, cuja perspectiva os deixa sedentos de consumir…

Enviado do púlpito do meu dispositivo Samsung

a) ………………….

2 de Setembro, 2015 Carlos Esperança

Ego, hedonismo e liberdade. O percurso da humanidade para a extinção.

Por

Paulo Franco

Está a acontecer, neste momento, a sexta extinção em massa no planeta Terra e a causa do problema está identificado: 7 335 milhões de seres humanos.

Se quisermos compreender porque é que o mundo chegou ao estado caótico em que se encontra, temos de olhar para o que nos definiu enquanto espécie: a evolução.

A evolução criou 3 grandes linhas condutoras do comportamento humano:
Ego, hedonismo e liberdade. E a avidez insaciável como procuramos satisfazer todas elas conduziu-nos ao abismo.

O nosso egocentrismo, o nosso hedonismo e a procura insaciável de liberdade são características que nos definem enquanto espécie, mas como nós somos apenas uma espécie entre todas as outras ligadas entre si por uma cadeia infindável que percorreu um longo processo evolutivo de milhares de milhões de anos, também as outras espécies partilham connosco estas características definidoras dos seus comportamentos.

Estas 3 linhas condutoras do nosso comportamento foram seleccionadas pela evolução precisamente porque são as que melhor servem os propósitos da luta pela sobrevivência, mas são também por causa delas que o mundo está a assistir silenciosamente à sexta extinção em massa e que, inevitavelmente, colocar-nos-á também a nós à beira da extinção.

Sendo verdade que, enquanto espécie, conseguimos o desenvolvimento que conseguimos graças a um esforço conjunto, nunca deixamos de evidenciar um tribalismo primário idêntico ao dos nossos “primos” pré-históricos. O sistema capitalista tem ajudado a aprimorarmos cada vez mais a nossa propensão natural para o individualismo(egocentrismo) e busca incessante de prazer (Hedonismo). Arrogantes e convencidos de que somos livres de dominar todo o planeta e todas as espécies, invadimos todo o território terrestre colocando em perigo milhões de espécies.

Como nós, mais do que qualquer uma das outras espécies, somos irrefreáveis no nosso hedonismo compulsivo, nada nos parece conseguir deter na avidez com que desbaratamos os recursos do planeta. Se a esta realidade, somarmos o facto catastrófico do excesso de população (mais de 7 biliões actualmente e previsão de 10 biliões para o ano 2100), a rápida desflorestação do planeta e o aquecimento global com as previsíveis alterações climáticas daí consequentes, poderemos compreender porque é que desde a extinção dos dinossauros à 66 milhões de anos que não se observava um tão rápido desaparecimento de espécies (100 vezes mais rápido do que seria natural).

Actualmente, todos os dias, milhares de pessoas fogem da guerra, da fome e da pobreza extrema e invadem os países europeus que fazem fronteira com o continente africano e asiático. Esta catástrofe humanitária é apenas uma pequena amostra do que acontecerá no futuro. Numa escala muito maior, milhões de pessoas terão de abandonar as suas casas devido à impossibilidade de lá poderem viverem.
Alterações climáticas, guerras, aumento do nível da água dos oceanos, escassez de recursos mínimos de sobrevivência serão as causas prováveis para esse terrível acontecimento.

Qual a solução? Só existe uma: encontrar mais 3 ou 4 planetas Terra e deslocarmo-nos parcialmente para lá. Jamais conseguiremos mudar a natureza humana. Podem fazer as campanhas de sensibilização que quiserem. Jamais o ser humano deixará de querer satisfazer o seu ego, nunca deixará de ser um hedonista compulsivo e um animal feroz ávido de liberdade.

“Vou dizer-lhe um grande segredo, meu caro. Não espere o juízo final. Ele realiza-se todos os dias”. (Albert Camus)

26 de Agosto, 2015 José Moreira

Natal, e tal…

Há poucas horas, num grupo de amigos com os pés assentes debaixo da mesa, um comensal proclamava: “Este ano não vai haver Natal”.  Ficámos estupefactos, mas o amigo explicou: “José está preso, Maria morreu, e Jesus foi lançado aos leões”.

Fim de citação.

15 de Agosto, 2015 José Moreira

(Ainda) a IVG

Começo por dizer que não concordo muito com o termo “IVG”, já que uma interrupção pressupõe, em princípio uma retoma, ou continuação. Parece-me que o termo correcto seria CVG (Cancelamento Voluntário da Gravidez).

Adiante.

A chamada IVG tem servido, entre outras coisas, e principalmente neste espaço, para funcionar como arma de arremesso entre crentes e não-crentes (vulgo ateus, entre os quais me incluo, naturalmente) esquecendo-se, ambos os grupos, de que aceitar a despenalização do aborto, vamos chamar os bois pelos nomes, não é a mesma coisa que concordar com o aborto. Porque antes de “julgar” a Lei, é preciso analisar o “espírito da Lei”. E esse “espirito” (quem foi que disse que só os crentes é que têm espírito?) parece querer dizer-nos que se uma mulher decide abortar, não há nada a fazer: tomou a decisão, e vai levá-la por diante, concorde-se ou não com ela. Então, há duas hipóteses: ou a mulher pratica o aborto em condições de higiene e segurança sanitária, ou recorre a uma abortadeira de vão-de-escada, com as consequências previsíveis. Apenas e só. Partir para a conclusão de que o legislador e quem o apoia mé a favor do aborto porque concorda com esta lei, é o mesmo que dizer que ao despenalizar o consumo de estupefacientes o legislador apoia o tráfico de droga. E não venham argumentar que um aborto é um crime, porque só o é nos termos definidos em lei; outrossim não venham com o argumento de que se trata de um homicídio, porque esse também está tipificado em lei. Basicamente, homicídio é tirar a vida a uma pessoa, e um feto não é uma pessoa. Pelo menos, nunca assisti ao funeral de um feto (“fruto” de aborto, espontâneo ou não), nem ao baptismo de um ente antes do seu nascimento.

De qualquer modo, não é isso que está em causa, mas sim a diferença, que é grande, entre concordar com a despenalização do aborto e concordar com o aborto, “tout-court”.

4 de Agosto, 2015 Carlos Esperança

Mentira e crime

MÁRIO DE OLIVEIRA *

As chamadas aparições de Fátima são a grande mentira e o grande crime da hierarquia da Igreja Católica portuguesa do século XX. À qual veio, estranhamente, juntar-se, já na parte final desse mesmo século, o próprio Papa João Paulo II, sem dúvida o mais fatimista de todos os Papas e também o mais beato e idólatra.

As fotos de João Paulo II, prostrado diante da imagem de Fátima, publicamente idolatrada naquela sua capela que mais parece uma estação de serviço, correram mundo. Elas são bem o símbolo duma Igreja Católica caída na idolatria e convertida em multinacional da religião, herdeira e continuadora das míticas religiões e dos cultos idolátricos do paganismo que proliferaram no Império Romano e que o imperador Constantino e o seus sucessores baniram, para que, em seu lugar, ficasse apenas a religião católica.

Por isso digo: ou a Igreja Católica do século XXI tem coragem para confessar a mentira e o crime que a hierarquia católica portuguesa fabricou em 1917, ou está condenada a desaparecer da vida de todos os seres humanos esclarecidos e dotados de consciência crítica.

A grande mentira de Fátima é esta: a hierarquia da Igreja Católica afirmou e continua a afirmar que a imagem da senhora de Fátima, que não come nem bebe, não ouve nem fala, não chora nem ri, não anda nem se comove, é uma espécie de retrato de Maria de Nazaré, a mãe de Jesus. Não é. É uma reprodução tosca das inúmeras imagens da mítica deusa virgem e mãe dos cultos do paganismo que o cristianismo do século I tanto combateu e ridicularizou.

O grande crime de Fátima é este: das três crianças que o clero envolveu na encenação das “aparições”, duas apanharam a pneumónica e morreram abandonadas pouco tempo depois; e a mais velha teve de ser enclausurada.

* Padre católico

D. N. 12-05-2002

3 de Agosto, 2015 Carlos Esperança

HIPOCRISIA

Padres mexicanos com companheiras

No México, país que o Papa João Paulo II deverá visitar em Julho, também começam a ser conhecidos casos de padres faltosos, sendo voz corrente, por exemplo, que existe um número significativo, mas ainda desconhecido, de prelados que têm companheiras. Por outro lado, recentemente, Alberto Athié, padre, assessor do Conselho Episcopal Latino-americano, alertou para o facto de no México “também existirem casos de padres violadores de menores que foram transferidos pelos seus superiores para outras paróquias para evitar o escândalo”.

Segundo Athié, “a igreja dos EUA não é mais nefasta do que as outras. É a primeira que enfrenta o problema. Vamos entrar numa fase muito complicada como comunidade, mas necessária para a nossa purificação. Este assunto também vai afectar o México mais tarde ou mais cedo”.

Mas, no México, sobretudo no interior do país, apesar da obrigatoriedade do celibato dos padres, há uma certa dose de tolerância perante os prelados que mantêm relações com mulheres. Sintomático disso mesmo é o caso de Manuel Marinero, antigo pároco de San Bartolo Coyotepec. Depois de 24 anos como padre, Marinero revelou aos seus paroquianos, em 1997, que se tinha apaixonado pela psicóloga Alma Patricia Ramirez, que conhecera em 1995. Casaram-se, tiveram dois filhos e, ainda hoje, Marinero é tratado como se continuasse a ser o padre desta aldeia de 750 famílias, apesar de o Vaticano ter decidido afastá-lo do exercício do seu ministério. E quando a hierarquia católica local disse a Marinero para sair da casa paroquial que ocupava, os habitantes de San Bartolo fizeram frente à decisão, lembrando que a casa era propriedade da aldeia, localizada nos arredores de Oaxaca.

Assim se confirma que muitos paroquianos do México, sobretudo nas zonas rurais, aceitam sem questionar estas “facadas” no celibato.

D. N. 15-05-2002
30 de Julho, 2015 Carlos Esperança

A liturgia e a fé

Quem é um ateu para se imiscuir na liturgia da Igreja católica? Que tem a inteligência a ver com o Cristo servido às rodelas na língua dos devotos ajoelhados ou passado de mão em mão de um presbítero para o beato?

Não fora a vocação totalitária da religião e os ateus dedicar-se-iam a outras tarefas.

A liturgia é o circo da fé com Cristo a saltar do cálice, com duplo mortal e pirueta sobre a patena, para acertar na língua do devoto e percorrer o tubo digestivo até acabar na rede de saneamento após a descarga do autoclismo.

As religiões vivem de rituais como os ilusionistas da prestidigitação. O Papa atual é um tudo nada diferente mas os anteriores foram avatares dos papas medievais que sofreram a mágoa de não poder acender fogueiras e de ver os ímpios indiferentes ao Inferno e aos castigos divinos.

No regresso à Idade Média, no eterno retorno ao fanatismo e à intransigência, o pastor alemão sentia a raiva da impotência e o ódio à modernidade. Sob a tiara, pensava em fazer ajoelhar os homens e pôr de rastos os cidadãos.

Nada era mais desconfortável para B16 do que viver num mundo que não se persigna, ajoelha ou submete à vontade dos padres e às ordens do seu Deus. O Vaticano é uma ditadura encravada na União Europeia e o último Estado teocrático da Europa, herdeira do Iluminismo e da Revolução Francesa, berço da democracia e reduto da liberdade.

No bairro das sotainas germinam 44 hectares de ódio, cultivados pela legião de padres, monsenhores, cónegos, bispos e cardeais. Fabricam santos, bulas e indulgências, mas é o horror à liberdade que os anima, a conspiração contra a democracia e a aversão à modernidade. Francisco, na tímida abertura, é visto com suspeitas.

O Vaticano é o Estado criado por Mussolini mas é, sobretudo, o furúnculo infecto num espaço onde o sufrágio universal não conta com o voto de Deus, ausente dos cadernos eleitorais.