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João Monteiro

30 de Julho, 2023 João Monteiro

Vamos entreter deus?

Texto de Arnaldo Martins:

Não se deixe o leitor enganar pelo titulo deste artigo uma vez que um ser tão poderoso certamente conseguirá entreter-se a sí mesmo.

Vou pedir emprestado ao Vasco Santana a sua famosa frase cinéfila e clamarei que: “Deus, há muitos! Seu p….”

Isto a propósito da crença de um sem número de pessoas que há um ser com características igualzinhas às dos humanos – ciumento, invejoso, vingativo, bélico, irado, etc – que acresce as próprias de um ser desta natureza – omnipotente, omnipresente, omniconsciente, pináculo da moralidade e por aí adiante.

Entreter a ideia que um ser desta índole exista é abrir o caminho para que mais seres possam ser caracterizados, proclamada a sua existência, introduzidos no quotidiano, atribuídas funções miraculosas e semeada na cabeça das pessoas que é impossível que eles não existam porque o ser humano não possui as capacidades cognitivas para provar ou negar a sua existência.

Por outras palavras, quem alega passa para o não crente o ónus da prova ou, só para parecer imparcial, afirma que não se consegue há data dizer que existe ou não existe, ou ainda por cima afirma que nem se sabe se algum dia poderemos comprovar ou não a sua existência.

Pois bem, questões filosóficas há muitas e de resposta difícil de encontrar. Se salvamos a vida a uma criança ou salvamos a vida a um médico, por exemplo. Só há uma dose de vacina para um vírus mortífero, neste caso tomo eu ou toma a minha mulher? Isto são tudo questões com uma carga moral forte cuja opção por uma ou por outra são válidas tendo em conta os argumentos apresentados e aceitação dos mesmos pelos próprios envolvidos ou pela comunidade em geral. Será função do filósofo alertar e identificar alternativas ou razões para tomada da decisão, mas a decisão final será sempre da responsabilidade dos interlocutores e o filósofo não tem de escolher nenhuma das opções a não ser o de esclarecer as hipóteses possíveis.

No caso de Deus, a questão é simples. Basta saber aquilo que tem acontecido ao longo da história para perceber que este é mais um igual aos milhares que já foram descartados pela humanidade.

Ninguém acredita em Zeus, Odin, Thor, Osiris, Horus, Shiva, etc. Quem acredita nestes deuses fá-lo com a mesma ignorância e falta de prova de quem acredita no Deus Jeová.

Entreter a ideia de que não se pode provar ou negar a existência de Deus é dar carta branca àqueles que fazem livros religiosos cheios de histórias alucinadas, de feitos mirabolantes, de práticas horrendas, de acontecimentos historicamente inexistentes, de explicação de fenómenos naturais com base em intervenções divinas, no fundo, criar um mundo ilusório desprovido de senso comum e desconforme com a realidade.

A negação da existência de Deus não é feita por nenhum ser humano (cujas faculdades podem ser mais ou menos afetadas no que toca ao raciocínio lógico), mas sim pela crueza e objetividade da realidade em que vivemos.

Colocar a questão da existência de Deus no patamar filosófico é atribuir valor às ideias patéticas e das quais nos devemos afastar em nome da racionalidade e da valorização da natureza e condições humanas.

Esperar que os problemas de vivência em comum seja dirigidos por um ser celestial é ignorar o valor intrínseco da nossa capacidade inata de empatia e de preocupação pelos que são nossos e pelos outros.

Albergar a ideia de Deus na nossa cabeça, apenas faz com que ele morra connosco quando chegar a nossa hora.

Imagem de Tumisu por Pixabay
19 de Julho, 2023 João Monteiro

Futebol e Fé

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Os meus amigos sabem da minha falta de interesse pelo Futebol, o qual, não me seduzindo como desporto, me preocupa enquanto fenómeno social de massas… tal como me preocupa a fé religiosa em demasia. Fé que também pode ser encontrada no Futebol, porque isto anda tudo ligado. 

Num dos últimos Campeonatos Europeus de Futebol, correu na imprensa uma foto de uma jovem, no meio da bancada de um estádio, com uma expressão de sofrimento e cara pintada de verde e rubro, agarrada a uma imagem da Senhora de Fátima envolta num cachecol da equipa de Portugal. Aquela jovem adepta de Futebol e de Fátima, não sabia o papel ridículo em que resultava aquela sua postura. 

Na verdade a jovem tentava interferir no resultado do jogo a seu contento, esperando que a imagem da santinha da sua perdição conseguisse, de Deus, o golo da vitória para o seu clube… prejudicando o outro com quem a equipa de Portugal disputava aquele campeonato!… 

É a velha história do “eu quero o melhor resultado para mim… o outro que se dane” … mas com ajuda divina! 

Este egoísmo é a característica forte de qualquer religião quando o interesse do crente é conseguir a entrada no céu depois de se finar. Para isso tem que comprar o ingresso celestial em vida e a prestações, ouvindo missas, tomando hóstias e depositando moedas nas ranhuras das caixas de esmola dos santinhos nos altares das igrejas, ou nas mãos dos gurus das seitas (mas estes não querem moedas… preferem notas, em forma de dízimo). 

Quanto ao respeito devido ao outro… isso é ficção!… A realidade do crente é a existência de Deus que pede o seu sacrifício personalizado na assistência de missas e no número de hóstias tomadas… o outro não existe!… Haverá excepções como em todas as regras… mas o que o crente típico quer é ter os seus interesses em recato! 

O católico (refiro o Catolicismo por ser a religião maioritária em Portugal e fazer parte da minha cultura. Não tenho nada contra a Religião Católica, até porque sendo ela a pedra basilar da sociedade que me formatou… ela sou eu… e eu sou ela… embora não alinhe na fé em Deus porque em criança me recusei a beber da taça religiosa até ao fim, e tive um pai republicano e anti-clerical que, secundado pela minha mãe, me soube transmitir valores reais em substituição de fantasias religiosas). 

Dizia eu que o católico tem, em Jesus Cristo, o expoente máximo dos ícones religiosos igualando-o a Maria. E esta pode, a todo o momento, tomar importância superior a Jesus, porque no contexto católico é importante adorar uma mulher sofredora e consensual. Maria não se meteu em lutas políticas, ao contrário do seu filho, o “Homem-Deus”, que militava num agrupamento de Esquerda… e se vivesse hoje até podia ser comunista!… 

Aliás, por aquilo que pode ser percebido nos registos cristãos, acredito que, se em vez de Palestino, Jesus Cristo fosse Sul-Americano e vivesse na década de 1960, tinha sido camarada de Fidel Castro e de Che Guevara, e seria assassinado a tiro numa selva da Bolívia em emboscada organizada pelos EUA… que o adora!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

17 de Julho, 2023 João Monteiro

O humor como alvo de terroristas

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Há dias cumpriram-se sete anos sobre o maior acto terrorista cometido em território francês desde há 50 anos. 

Em Paris, no dia 7 de Janeiro de 2015, pelas 11:20h, dois terroristas islâmicos fortemente armados com metralhadoras kalashnikov entraram na redacção do semanário satírico Charlie Hebdo depois de matarem o porteiro. Durante dois minutos dispararam a sangue frio contra os jornalistas-cartunistas que ali estavam reunidos na preparação do próximo número do jornal. Logo a seguir abandonaram as instalações deixando 12 vítimas mortais e cinco feridos. Na fuga ainda mataram um polícia e atropelaram um peão. 

Neste acto de terrorismo gratuito morreram os jornalistas cartunistas: Charb, Cabu, Tignous, Serge Wolinski e Philippe Honoré. Com eles também foram assassinados o revisor Mustafá Ourrad, os colunistas Elsa Cayat, Bernard Maris e o editor convidado Michel Renaud, mais um guarda-costas do desenhador Charb. 

A existência do guarda-costas justificava-se por, quatro anos antes, o mesmo jornal ter as instalações atacadas e incendiadas, tendo os atacantes feito uma ameaça de morte ao desenhador Charb (director do Charlie Hebdo), alegadamente pelo apoio dado ao jornal dinamarquês Jyllands-Posten (que publicou cartunes satirizando Maomé) publicando uma caricatura na capa do Charlie representando Maomé tapando os olhos de vergonha, dizendo: “É duro ser amado por idiotas”.

Esses idiotas continuam a sê-lo. Há idiotas em todos os meios sociais… e alguns até são assassinos! 

Na proximidade do aniversário do atentado terrorista ao semanário satírico francês, o jornal espanhol El Mundo, no suplemento cultural La Lectura do último dia 6 de Janeiro, entrevistou o director do Charlie Hebdo, Riss, que foi um dos feridos no ataque de há sete anos, sobrevivendo a um tiro que lhe perfurou um ombro. Riss confessou sentir-se ultrajado pelos advogados de defesa dos terroristas islâmicos que são presos e levados a tribunal, por defenderem a inocência dos terroristas, alegadamente por também eles serem “vítimas das injustiças da sociedade”… colocando os assassinos ao mesmo nível dos assassinados! 

Já Charb (o director morto há sete anos) quando do primeiro ataque extremista religioso de que o jornal foi alvo em 2011, disse não culpar os muçulmanos “por não rirem dos nossos desenhos, simplesmente porque eu vivo sob a lei francesa, não da lei corânica”. 

Nos últimos oito anos as acções terroristas islâmicas mataram 264 pessoas só em França, incluindo neste número 131 espectadores na sala de concertos Bataclan em 2015. 

Na entrevista ao El Mundo, Riss mostra-se pessimista com o evoluir dos acontecimentos naturais e sociais no mundo. As suas preocupações centram-se nos problemas específicos da nossa época, como a liberdade de expressão, as redes sociais, as mudanças climáticas, a insegurança, o desemprego e o bem-estar social. 

Entende que as novas gerações não consideram estes tão importantes parâmetros, nem sequer têm a noção de que pode ruir tudo quanto já foi conquistado nos últimos 50 anos. “Há jovens de 20 anos que pensam como gente de extrema-direita de há 30 anos, e o curioso é que essa juventude se reivindica de Esquerdas, não dando conta de que praticam um moralismo ultra-reaccionário!” 

É com esta juventude que vivemos, e se os responsáveis políticos não fazem nada para que as noções de liberdade e de opressão sejam perfeitamente entendidas… o nosso futuro poderá ser bastante negro. E quando é um humorista a alertar para este desfecho trágico… o alerta deve ser tomado bastante a sério!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

14 de Julho, 2023 João Monteiro

AMOR DE DEUS ?!…

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Os furacões e as secas são cada vez mais frequentes e com resultados mais trágicos.
As últimas notícias dando conta de tais calamidades, remeteram-me a memória para o ano de 1998, quando a América Central foi palco de uma desgraça que mobilizou o mundo numa onda solidária perante a destruição que o furacão “Mitch” operou na Nicarágua provocando 20.000 mortos, 11.000 feridos e três milhões de desalojados.

A hipotética solidariedade de um sacerdote católico de nome Santiago Martin, manifestou-se num texto que publicou no semanário madrileno ABC.

Sob o título “Deus é amor”, escreveu: “Aqui, nestas três palavras, nesta breve frase, se encerra e condensa o essencial da nossa fé. Deus existe e é amor. Deus existe e quere-te, a ti, pequeno ser humano, vítima de tantas precariedades e de tanta dor. Deus não te abandona nunca, ainda que os teus mais próximos o façam. E a prova principal dessa felicidade e desse amor divino é a encarnação do filho de Deus, sua morte na cruz e a ressurreição gloriosa”.

Que dizer deste naco de prosa?
Este discurso, proferido por um louco na paisagem desoladora da Nicarágua após a passagem do furacão, não passaria disso mesmo: o discurso de um louco!… Onde estava Deus com o seu carregamento de amor e de bondade, no momento em que o furacão varreu a Nicarágua?

Aos crentes foi ensinado que Deus comanda as forças da Natureza (e também por cá, no Alentejo, um dia se fez uma procissão com padre e tudo, e se rezou, para que chovesse!), e a própria Igreja o reafirmou pela boca do arcebispo de Caracas, Ignacio Velasco, quando trágicas inundações enlutaram a Venezuela em Dezembro de 1999, causando 15.000 mortos.

O arcebispo afirmou que “a tragédia que assola e enluta a Venezuela e os seus habitantes, é devida à ira de Deus que quer castigar a soberba do presidente Chávez”. (El País, 20/12/1999).

Religião, loucura e ódio misturam-se nestes discursos que, ao que me parece, são habituais na América Latina, onde a esmagadora maioria do povo é fanaticamente religiosa e a Igreja Católica colhe grande número de crentes.

Quando a Igreja diz que Deus é amor, talvez conviesse especificar que raio de amor ela refere. Deus surge a distribuir o seu amor do mesmo modo como os bombeiros o fazem, sempre depois de ocorrida a desgraça? Deus é um enfermeiro que coloca pensos nos espíritos feridos? Convenhamos que é pouco para esse deus que as religiões pintam com cores tão psicadélicas e anestesiantes.

Deus dá-me amor e quere-me?!… Quere-me como? Quere-me bem, segundo o humano conceito do que é estar-se bem, fruindo de uma vida consideravelmente feliz… ou quere-me morto, segundo o conceito católico da “bem-aventurança-além-túmulo”?

Como é que se pode explicar às vítimas do furacão Mitch (e às de qualquer outro cataclismo, como os recentes entre nós) que tudo aquilo aconteceu por um acto de amor de Deus que tanto nos quer, e que naquele dia, ao que parece, acordou com vontade de ser um mãos-largas!…

As religiões são comandadas por loucos visionários?!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
OV

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12 de Julho, 2023 João Monteiro

Na morte de Ratzinger

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Morreu Joseph Ratzinger (1927-2022), bispo alemão que desempenhou o papel de Papa Bento XVI (B16) no elenco do Teatro Vaticano. No momento da sua morte tecem-se os elogios fúnebres habituais e usam-se abundantemente os adjectivos do costume enaltecendo as qualidades do defunto. Marcelo Rebelo de Sousa disse que B16 “foi filósofo, pensador e intelectual, e que procurava o diálogo entre a fé e a ciência”. Procurava?!… Se procurava, não encontrou!…

O livro A Origem das Espécies, de Charles Darwin, foi editado em 1851. Hoje a Teoria da Evolução continua a ser um engulho para muita gente de religião, desde a Igreja Católica até às Testemunhas de Jeová. Isso mesmo se pode ler no livro Criação e Evolução – uma jornada com o Papa Bento XVI em Castel Gandolfo. Trata-se de uma obra com 190 páginas, editada em 2007 pela Universidade Católica. O livro resultou de um simpósio organizado por uma coisa que dá pelo nome “Círculo de Discípulos do Papa Bento XVI” e decorreu em Castel Gandolfo de 1 a 3 de Setembro de 2006.

Da leitura do livro “Criação e Evolução” concluí que a sapiência de B16 sai muito desfavorecida perante o saber de qualquer aluno do 5º ano de escolaridade, que sabe que o Homem teve de subir uma escada de progressos evolutivos desde que surgiu toscamente esboçado como Proconsul, até à forma de Homo, e depois sapiens, com especial destaque no período em que começou a ter consciência de si, enquanto Neandertalense

Curiosamente o sapientíssimo Ratzinger não sabia disso! Repare-se nesta sua falta de sapiência: no livro referido, ele quer encontrar uma “ética evolucionária” nos estudos de Darwin e diz que “o conceito se encontra inevitavelmente no modelo da selecção e, portanto, na luta pela sobrevivência, na vitória do mais forte, na adaptação bem sucedida, [o que] oferece muito pouco de consolador. Mesmo quando se quer embelezá-la de múltiplas maneiras, permanece afinal uma ética cruel. O esforço de destilar do irracional o racional, fracassa aqui com toda a evidência. Tudo isto tem pouca utilidade para conseguir a ética, que nos faz falta, de paz universal, da prática do amor ao próximo, e da necessária superação daquilo que é de cada um de nós […] a verdadeira razão é o amor, o amor é a verdadeira razão. Na sua unidade são o verdadeiro fundamento e a finalidade de todo o real”. 

Isto de misturar evolução natural com amor… não lembraria ao diabo!… Ratzinger quis passar a mensagem de que a selecção natural é algo de aniquilador e de racional! Algo que pertence, voluntária e conscientemente, à vontade dos homens e que se traduz numa “luta pela sobrevivência e na vitória sobre o mais fraco”, como se fosse uma guerra, como aquela que os Cristãos alimentaram contra os Sarracenos e Putin faz aos Ucranianos! Como se a selecção natural fosse um acto político pensado por uns homens contra outros homens! O que, evidentemente, não é verdadeiro. 

A selecção natural deu-se na espécie humana quando os Homo sapiens ocuparam o lugar dos Neandertais, e já tinha acontecido o mesmo quando estes sobreviveram aos Australopitecus. A ascensão do Homo sapiens sapiens fez-se por ser mais dotado para sobreviver no seu meio ambiente, porque detentor de meios racionais e inventivos, ferramentas que os seus ancestrais não possuíam na medida certa, e que surgiram naturalmente pelo sistema replicativo codificado no ADN, capaz de produzir mutações favoráveis às gerações futuras se fizerem uso delas. Isto é que é a selecção natural da espécie humana, e não constitui qualquer ética porque não tem nada a ver com a consciência e a vontade dos homens que, coitados, viveram tal selecção sem dela terem conhecimento. Nós hoje é que a conhecemos e estudamos… eles não a perceberam… e Ratzinger também não, o que é bem pior!… 

O amor ao próximo ou a falta de amor, o guerrear ou construir a paz, são peças de outras realidades alheias àquilo que se entendeu designar por selecção natural. Os actos políticos protagonizados pelos homens fazem as transformações sociais, mas nunca as selecções naturais como Ratzinger pretendeu afirmar. A ética não está presente numa manifestação natural. Não há ética no ribombar de um trovão nem na germinação de uma semente. Nem ética, nem amor. A ética é um objecto estético filosófico, e o amor é um sentimento. Ambos só podem ser produzidos e percebidos por cérebros inteligentes… e o senhor Ratzinger, possuindo um intelecto de gabarito (como dizem), devia saber disto… e parece que não sabia! No mesmo livro, o seu admirador cardeal Christoph Schönborn, que prefaciou a obra, atingiu um patamar optimizado quando desabafou: “Se a afirmação de que o mundo vem de um plano, de uma meta posta pelo Criador, se revelasse como cientificamente insustentável, então a fé num Deus criador e na sua providência seria também irracional […] seria uma fé que se edifica sobre um fundamento absurdo, não seria fé alguma, mas uma ilusão… ”. Exactamente, senhor cardeal!… Bravo!… (Aplausos). Só tenho um reparo a fazer a este desabafo cardinalício: o sentido religioso e o conceito de Deus, não pertencem ao irracional, porque o irracional nada entende e nada cria. O sentido da religiosidade e o próprio conceito de Deus, são produtos do raciocínio. Só pela inteligência e capacidade de raciocinar, de sentir e de se emocionar, é que foi possível ao Homem ser filósofo, artista, cientista, criador de deuses e ser religioso ou ateu. E o senhor Joseph Ratzinger pode ter sido muito boa pessoa (o que duvido porque perseguiu e destruiu a Teologia da Libertação de Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff, Jon Sobrino e outros, quando estava à frente do gabinete vaticano Congregação para a Doutrina da Fé) mas só foi religioso… e fundamentalista… porque não leu os livros que o podiam transformar no intectual de gabarito que dizem que foi!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

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10 de Julho, 2023 João Monteiro

Amor, Sexo e Catolicismo

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

«À Igreja falta amor. Enquanto Jesus significava amor, solidariedade e compaixão, a Igreja tornou-se seca, árida, quezilenta, e sempre contra tudo. É um espaço de exclusão e não de abertura».

Estas palavras não são de um ateu, mas sim de uma pessoa crente. Proferiu-as Maria João Sande Lemos, co-fundadora do PPD com Sá Carneiro, e activista de várias causas destacando-se a “Comissão para a Igualdade dos Direitos das Mulheres”, e do braço português do movimento internacional católico denominado “Nós Somos Igreja”. Divulgou-as a revista Visão na edição de 24 de Agosto de 2012.

A palavra “amor”, tomou-a a Igreja Católica como um patamar superior das relações humanas, elevada a uma condição quase sagrada, com regras que o credo propaga como sendo “a vontade de Deus”, e qualquer fuga à rigidez da regra, representará um “pecado”. Há outras religiões do naipe das cristãs que conseguem ser mais fundamentalistas ainda, impondo regras muito mais apertadas nas relações humanas, quando essas relações são entre um homem e uma mulher.

Entre nós, portugueses (e latinos), essa malha acabou por ser mais alargada, talvez porque uma “religião oficial” (como entre nás foi designada a Igreja Católica no tempo da Ditadura) acaba por ser desrespeitada na “oficialidade” que pretende impor. As pessoas não são máquinas… têm cérebro próprio que dispensa o “cérebro-colectivo” de uma religião… daí haver entre os católicos a modalidade de “católico-não-praticante” (que é uma espécie de mal casado… que não dorme com a mulher!), mas também porque a nossa latinidade é incontornável, e a frase “fazer amor” é sinónimo de “fazer sexo”, com ou sem amor na origem do acto puramente carnal. 

No catolicismo sempre se viu o acto sexual como pecado. Tudo quanto ao sexo diga respeito e que ultrapasse o acto puramente animalesco de procriar, é alvo de condenação. Começando na masturbação e terminando nas relações homossexuais, tudo quanto cheire a sexo para além de “fazer filhos”, é um hediondo pecado mortal. 

Esta atitude de ódio perante o sexo poderá dever-se ao facto de os sacerdotes católicos serem obrigados à castidade. Acredito que um homem (e uma mulher) que renuncie à prática sexual, se sinta feliz e realizado(a), quando essa renúncia parte da sua própria vontade e não seja uma condição imposta. 

Na Igreja a castidade não é uma escolha do candidato ao sacerdócio… é uma imposição do credo… e a diferença entre as duas situações de castidade (voluntária, ou imposta) é abissal. A condição animal do homem traz nos genes todas as características da sexualidade que pede uso a partir da juventude. Homem e mulher têm as mesmas necessidades sexuais, e a prática sexual ultrapassa o acto de procriar; é, também, um modo de descomprimir das aflições diárias pelo prazer que provoca. 

A homossexualidade cumpre as mesmas funções, excepto a de procriar, e quem a pratica está a “fazer amor”. Esse amor que a Igreja apregoa do púlpito, mas que os mais fundamentalistas do mesmo credo condenam na vida prática.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

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7 de Julho, 2023 João Monteiro

Outra vez a Eutanásia

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

A Assembleia da República tornou a emendar, discutir e aprovar a chamada Lei da Eutanásia que permite a quem pretende sair da vida poder fazê-lo com legitimidade depois de cumpridas as formalidades que descartam o crime, afirmando a vontade do próprio que agoniza em sofrimento sem quaisquer hipóteses de retrocesso do mal que o condena a um fim doloroso que recusa… até mesmo a possibilidade de ser tratado com sedativos e morfina contra a dor… o que também recusa

Como em todas as resoluções políticas, também esta tem os seus defensores e os seus detractores. 

Porém, no caso da Lei da Eutanásia, encontro na vontade dos detractores uma prepotência e arrogância contra a minha legítima vontade de sair da vida quando ela não me interessar, exactamente porque a minha vida é minha, só minha, e esta minha propriedade não é transmissível, nem discutível ou negociável. 

Numa sociedade saudavelmente democrática ninguém é dono de ninguém e cada um tem direito à sua própria vida e à sua legítima vontade. É essa vontade que a maioria do actual Parlamento quer ver respeitada, mas parte dos deputados não respeitam. O discurso de quem não aceita a Eutanásia, não tem Humanidade… só é um discurso religioso! Diz que “a vida humana é sagrada e só Deus a dá e pode tirar”. 

É um discurso ridículo porque atribui a razão da vida a uma entidade de ficção. Deus é uma figura de estilo que não é razoável nem comprovável. O que se sabe da figura de Deus é que é uma invenção humana, à sombra da qual os crentes de um qualquer registo religioso deifico são capazes de praticar o bem, mas também o mal. Persegue-se e mata-se com intenções religiosas e políticas contra a vontade dos perseguidos e dos assassinados… e no caso da Eutanásia recusa-se o direito de sair da vida a quem o deseja e quer fazer com dignidade! 

Deus é uma falácia porque, obviamente, o Homem já existia quando lhe ocorreu a ideia de criar um deus que o criasse… sem Homem não haveria Deus!… E é com base nesta criação abstracta de um conceito configurando uma mentira, que os respeitadores de Deus desrespeitam os homens. Deus não dá, nem tira, nem quer, coisíssima nenhuma… os homens é que dão, tiram e querem, e também o fazem em nome do deus que inventaram para dele se servirem em proveito próprio. 

A minha vontade de sair da vida só a mim diz respeito e não prejudica os interesses de ninguém. Quando muito poderia chocar (e choca) a minha família mais chegada que pretende ter-me junto a si para olhar para mim, conduídamente, vendo-me sofrer e definhar até à morte… o que me parece de um egoísmo atroz esquecendo a minha dignidade e a minha vontade, em favor da sua “caridadezinha”! 

É esse sofrimento e definhamento que quem reivindica a Eutanásia não aceita… e quer sair da vida, com toda a legitimidade de Ser Humano livre e consciente, antes que tal se manifeste. 

Os cidadãos que são contra a Eutanásia, na verdade são contra a vontade alheia e pretendem impor a toda a comunidade a sua própria vontade em desrespeito pela vontade do próximo. 

A Lei da Eutanásia não os obriga a recorrerem a ela… mas querem impedir a sua concretização a quem o deseja! 

Colocar o conceito deifico no meio desta questão, é tentar fazer, hipocritamente, lei da Fé; contrariando a lei da Razão e desrespeitando a vontade e a liberdade de decisão dos outros. 

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

Imagem de Tesa Robbins por Pixabay
5 de Julho, 2023 João Monteiro

O Presépio

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita, a propósito das celebrações natalícias.

Estamos a viver a quadra natalícia que na cultura católica representa o nascimento de Jesus Cristo e, além da Igreja, é um tempo de comércio que anima as ruas das cidades na onda consumista habitual, salvadora dos lojistas que, fora das datas fomentadoras de vendas, quase agonizam pela falta do poder de compra dos trabalhadores obrigados a sustentarem a família com o ordenado mínimo… e cujo sustento está agora agravado pelos reflexos económicos da guerra que Putin faz à Ucrânia.

Na cultura ocidental a Igreja Católica é a entidade que tem maior riqueza iconográfica, sendo, por excelência, uma religião de imagens que alimentou pintores e escultores através dos séculos, e por isso possui uma pinacoteca das mais importantes. A imagem cristã mais mostrada na quadra natalícia é o presépio que pretende ser uma representação do nascimento de Jesus Cristo.

Uma breve consulta ao Novo Testamento mostra-nos que, de entre os quatro evangelistas sinópticos que nos falam da hipotética história de Jesus Cristo, nenhum deles nos narra a cena que estamos habituados a ver designada por “presépio”. 

Mateus (2:11) diz-nos que os reis magos “entrando na casa acharam o menino com Maria”. Logo, o estábulo da tradição não existe nesta referência, já que o local do nascimento seria “uma casa”. 

Marcos (1:9) omite o nascimento de Jesus, referindo-o já como adulto, quando foi baptizado nas águas do rio Jordão por João Baptista.

Lucas (2:7) já nos diz que Maria “deu à luz o seu filho primogénito e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem”. 

Esta necessidade de José e Maria terem uma estalagem para pernoitar, deveu-se ao facto de se deslocarem de Nazaré, onde viviam, para Belém, no cumprimento de um decreto emanado pelo fundador do Império Romano, e seu primeiro imperador, Caio Júlio César Octaviano Augusto (27 aC – 19 dC) que havia anexado o território da Judeia. O representante de Roma naquelas paragens era Copónio que, como primeira função governativa, ordenou um censo na Judeia e Samaria com o fim de obter uma listagem de cidadãos, actualizada, para efeitos de cobrança de impostos. O casal partiu para Belém (o local do recenseamento) quando Maria já estaria num estado avançado de gravidez. 

João (1: 29-34), tal como Marcos, só refere Jesus quando do baptismo no rio Jordão, omitindo o seu nascimento. (Para informação dos distraídos: este João [o Evangelista] era irmão de Tiago e filho de Zebedeu; e não é o mesmo João [o Baptista] filho de Zacarias e Isabel, e primo de Jesus, o qual baptizou, e que, tendo sido preso por Herodes Antipas I acabou decapitado. Segundo a lenda, a sua cabeça foi oferecida numa bandeja a Salomé. O outro apóstolo João, o Evangelista, morreu de morte natural contando 94 anos).

A imagem do presépio que hoje figura na maioria das casas e nas montras das lojas na época natalícia, teve origem numa ideia de Francisco de Assis que, em 1223 festejou o Natal fora da igreja, montando uma manjedoura na floresta de Greccio, Itália, colocando junto dela um boi e um burro como elementos tradicionais de um estábulo. O povo não entendeu de imediato o significado daquela encenação não lhe tendo prestado grande atenção. Mas durante a Idade Média aquele costume espalhou-se e ganhou tal importância que, já no século XVI (em 1567), a Duquesa de Amalfi mandou montar um grandioso presépio com 116 figuras representando o nascimento de Jesus Cristo com a adoração dos reis magos, dos pastores e com anjos a cantar. A partir do século XVIII o costume espalhou-se pelas casas dos crentes, mantendo-se até hoje e promovendo colecções que vão das mais simples representações até às mais complexas e valiosas. 

Convenhamos que o presépio, enquanto decoração natalícia, fica muito bem nas montras de lojas e nos centros comerciais… animando o consumo.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de Alexa por Pixabay
3 de Julho, 2023 João Monteiro

Deus morreu?

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

O pintor surrealista Salvador Dali, numa das suas desconcertantes afirmações, e em referência à morte de Deus vaticinada por Nietzsche, disse algo parecido com isto (cito de cor): “Sempre ouvi dizer que Deus nunca existiu. E este fulano diz que Deus morreu?!…” 

De facto, falar de Deus para dizer que ele não existe, parece uma atitude surrealista… porque, na negação, se está a afirmar a sua existência! 

Realmente, se Deus não existe, por que falo nele?! Se não existia até aqui, passa a existir a partir deste momento… ou então não se entenderia o facto de o ter nomeado!… 

Deus morreu, ou nunca nasceu, para quem passa ao lado do fenómeno deístico sem lhe prestar qualquer importância; para quem o assunto não interessa, nem sequer é assunto. Tenho amigos assim… para eles o conceito de Deus (1) é algo totalmente ausente das suas preocupações e dos seus pensamentos. Não são ateus nem agnósticos. O tema é-lhes totalmente indiferente, mas não por falta de esclarecimento… bem pelo contrário… pensam assim por estarem esclarecidos. Não precisam de adorar, afirmar ou negar aquilo que não passa de uma ideia primitiva perfeitamente dispensável, sem ponta de interesse e sem outra serventia que não seja para ser usada, exclusivamente, na cabeça de quem crê. 

No entanto, a ideia do conceito de Deus, existe… e o Homem criou-o por uma única razão: pela necessidade de ter um deus a quem adorar… já que os homens só criam aquilo de que necessitam. Por isso a ideia de Deus possui uma função psicológica de elevado valor já que, pelo sentimento religioso, pela entrega à ideia do divino, pela fé, se consegue cura ou apaziguamento para alguns “males do espírito”, almejando-se paz interior. O espírito religioso pode funcionar como placebo. 

Porém, também serve para a exploração das mentes crentes para os fins mais diversos, desde os francamente positivos até aos mais negativos e criminosos. E também tem funções sociais estratégicas… desde logo serve para manter em alta o estatuto dos clérigos (e de outros exploradores da fé, divididos por centenas de seitas que por aí abundam, nascendo como fungos em estrumeira) e que ainda usufruem do “respeitinho” instituído pelas ditaduras (eclesiástica e política). 

Mas isto é, apenas, a consequência da necessidade que o Homem sentiu de criar Deus (deuses). 

O que realmente existe de Deus é o seu conceito e aquilo que os homens fazem à sua sombra: Arte, poesia, literatura, meditação, amor, paz, concórdia, solidariedade, ajuda, caridade… Mas também: exercício do poder, exploração, ódio, terrorismo, sofrimento, perseguição, destruição, violação e morte… 

Satiricamente, o escritor Dario Fo (Prémio Nobel da Literatura em 1997) disse a tal propósito: “Deus existe e ama a burla”. 

Quem consegue afastar-se desta burla, dispensando o divino, está a contribuir para a construção de uma sociedade mais humana e perfeita… considerando que o Ser Humano é capaz de atingir a perfeição, ou, pelo menos, de tentar andar por lá perto!…

(1) – O conceito de Deus, sim, existe. A entidade real, não, é pura invenção. As leis da Física e da Química não permitem tal existência.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

30 de Junho, 2023 João Monteiro

REPÚBLICA LAICA

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Fomos, durante séculos, um país dolorosamente católico vivendo os horrores da Inquisição e o atraso no ensino científico. A subserviência do Povo aos clérigos habituados a dominarem a população crente e temente, agrilhoou o pensamento popular aos interesses do culto. 

Mais de um século volvido após a separação Estado/Igreja em 1911 (com um interregno no Estado Novo de Salazar, sendo a separação reatada após a Revolução de 25 de Abril de 1974 com a promulgação da Constituição da República em 2 de Abril de 1976), uma grande parte do nosso bom Povo ainda não conseguiu libertar-se do jugo da Religião, nem a Igreja quer desalojar da sua cabeça o poder temporal que sempre exerceu desde quando coroava reis a seu contento, e era, de facto, a dona da Europa. 

A América Latina, colonizada pelo espírito católico-ibérico desde os séculos XV e XVI, é paradigmática em termos do poder opressor da Religião sobre os povos (mas também da vingança letal de interesses da extrema-Direita que mata sacerdotes defensores dos pobres e oprimidos como aconteceu ao padre Romero, de El Salvador, em 24 de Março de 1980). 

No Chile, quando o ditador Pinochet, em Setembro de 1973, derrubou, com muito sangue, o socialista Salvador Allende (que fora eleito democraticamente) estabeleceu uma sangrenta ditadura, dizendo: “Estou aqui por ordem divina”. 

Fora da latinidade, Osama bin Laden apoiava actos terroristas em nome do mesmo Deus a quem orava Pinochet e a quem reza Marcelo Rebelo de Sousa, António Guterres, Cavaco Silva, Santana Lopes, Passos Coelho, Paulo Portas e José Sócrates… mas também Bush, Trump e Joe Biden, que não são católicos nem muçulmanos. 

Em Portugal, este nosso apego à religiosidade que preenche a cabeça da maioria de nós, pode explicar o facto de termos a presidir à República Portuguesa que (consta) é Laica… um empedernido católico que escolheu para sua primeira viagem oficial a visita ao Vaticano, e se vergou perante o Papa beijando-lhe a mão!… Barack Obama também visitou o Papa. Cumprimentou-o com um aperto de mão e de cabeça erguida, numa atitude de dignidade e igualdade entre chefes de Estado, que é isso mesmo que o Papa é: Chefe do Estado do Vaticano. 

Já tivemos a governar o país gente que foi mostrada demasiadas vezes a assistir a missas. Cavaco Silva e Santana Lopes usavam nos seus discursos frases como “se Deus quiser” e “graças a Deus” também demasiadas vezes, à boa maneira muçulmana. António Guterres, enquanto primeiro-ministro, numa entrevista que deu ao jornal espanhol El País (5/7/1998), disse esta pérola de sacristia: “Cada um será julgado por Deus de acordo com a capacidade de pôr os seus valores em benefício dos outros”. E o primeiro-ministro José Sócrates, em Setembro de 2007, assistiu à inauguração de uma escola pública em S. Martinho de Mouros (Resende) e benzeu-se na missa do acto medieval de benzedura daquele equipamento laico!

Temos hospitais públicos com nomes como: Santo António, São João, S. Marcos, S. José e Santa Maria. Eu sou assistido (e bem) no posto médico da Segurança Social de Rio Tinto, com o nome de: S. Bento. E no ensino particular encontrei o “Colégio das Escravas do Sagrado Coração de Maria”!… Que tipo de pai matricula ali a sua filha?! 

Vivemos, de facto, numa República Laica muito “sui generis”… e pelos exemplos citados da América Latina, só podemos concluir que a extrema crença em Deus pode tornar-se muito perigosa!

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico) 

OV