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Jesus, onde estás tu?

Texto da autoria de Cláudio Tereso.

Olhando para trás é curioso pensar que foi a busca por Jesus que, em parte, me moldou e fez de mim o que sou hoje. A minha memória não é grande coisa, por isso não posso garantir que tenha sido o encontro com Jesus que me tenha mudado radicalmente, ou mesmo se essa mudança existiu, mas do que me lembro foi. Também é sabido que as memórias não são de confiança e que vão sendo reescritas na nossa cabeça à medida que puxamos por elas; portanto qualquer pormenor que tenha estado ocultado de mim nos últimos anos e que me venha, como por magia, à memória tem uma grande probabilidade de ser falso. Por isso, correndo o risco de não se ter passado exactamente assim, vou contar a estória como me ocorre.

Comecemos pelo início. No início deus criou os céus e a terra, ao que consta. Mas este não é o início que queremos. Tentemos de novo:

Sou o mais novo de quatro filhos. Os dois? ou terão sido os três? mais velhos foram submetidos à praxe da catequese e rituais afins mas quando chegou a minha vez, a minha mãe devia estar farta de os aturar a reclamar e já não teve energia para me submeter a esses costumes tribais. Também pode ter sido por termos mudado de local de habitação o que nos deixou mais longe da igreja. Não sei. Só sei que nunca vi nem nunca me apercebi de uma coisa chamada catequese. Eu não ia, não me lembro de ter amigos que fossem, era algo completamente fora do meu conhecimento. Na nossa casa não se ia à missa nem se lia muito, por isso cresci como se cresce no campo longe de todas as influências religiosas, políticas ou intelectuais.

Era um verdadeiro Tom Sawyer e pouco mais que brincar na rua me interessava. À medida que fui crescendo e até aos 18 anos quando fui para a tropa pouco mudou. Aluno razoável, ingénuo com amigos ingénuos, sem gostos musicais, culturais ou o que quer que fosse. Ia à escola, vinha da escola, jogava à bola na rua e lia livros da Marvel e do Tio Patinhas. Tenho uma memória muito forte de um momento em que a minha tótózisse é quase palpável: Um colega ia fazer o interrail. Coisa rara! Foi a única vez que ouvi falar nisso antes da minha idade adulta e na altura pensei: wtf! Corrijo, wtf ainda não existia. Hhmmm? Vai viajar de comboio pela Europa? Para quê? Qual o interesse disso? Esta malta com dinheiro tem ideias muito parvas. Foi assim que me mantive até à minha busca por Jesus. Quer dizer, não sejamos mais papista que o papa e deixemos os dramatismos; não tenho memória da evolução de todas as características que fazem de mim o que sou hoje e que me colocam a milhas do que fui até ao início da idade adulta, mas tenho a forte convicção que foi a busca pelo “senhor” que me deu o espírito crítico que acabaria por me trazer até ao activimo nas comunidades céptica e ateia, características que são uma parte importante da minha persona.

Intervalo! Deixem que vos diga que tenho zero interesse em convívios de amigos de infância ou adolescência. Na altura eramos todos putos parvos com um interesse em comum: a parvoíce. Cada um de nós seguiu o seu caminho e evoluiu em direções opostas. O que raio temos em comum agora? Claro que com alguns ainda existem interesses comuns. Com esses mantenho ligação. Os outros não me interessam. Há uma grande probabilidade de terem ido em direções incompatíveis com a minha. Dispenso correr riscos para rever pessoas que não são quem foram e que conheci quando era quem não sou. Vivam os amigos novos compatíveis com o eu actual. Fim de intervalo.

Voltemos ao cerne da questão. Algures nos vintes cruzei-me com o ‘senhor’. Era na altura apateista, ou seja, completamente ignorante de questões de religião. Não sabia, não queria saber… erro! Não querer saber precisa que exista algo para saber e que nos recusamos a saber, eu nem sabia que havia coisas para saber. Considero que o apateismo é, no que toca a crenças religiosas, a melhor solução para uma sociedade. Uma sociedade onde a questão de deus nem sequer é questão da mesma maneira que nas sociedades actuais não se coloca a questão se o sol vai nascer amanhã.

Bem, dizia eu, estava muito bem eu no meu apateismo quando um acumular de referências a Jesus me chamou a atenção. Claro que eu sabia o que eram os padres, a igreja Católica, jesus etc. etc, simplesmente não ligava nenhuma da mesma maneira que um gato ignora … vá.. tudo. Mas a determinada altura fiquei curioso: mas afinal o que há de tão especial nessa personagem para tanta gente falar dele como se ele fosse.. digamos… deus? Eu sabia que era o gajo na cruz e que tinha morrido crucificado, nascido de uma virgem e essas coisas básicas que até os católicos sabem, mas eu queria perceber um pouco mais. Porque essa loucura pelo moço?

Então o que decidi fazer? Ler um livro sobre o assunto, claro. O horror dos horrores! Ler um livro sobre Jesus Cristo? Um livro assim sem mais nem menos? Daqueles que se compram numa livraria? Sem o selo de aprovação da Igreja? A desgraça estava iminente!

Não me lembro onde o comprei nem que livro era, seria algo como “Jesus: quem realmente foi”. Também não me lembro do conteúdo, mas devia falar das inúmeras versões dos evangelhos, dos evangelhos ignorados e das más traduções e disso eu lembro-me! Ficou marcado a ferro e fogo na minha memória e fez emergir em mim uma bomba de incredulidade. Porra! Como é possível uma asneira destas? Anda tudo doido com este gajo e afinal um dos pontos mais vincados da estória dele é uma má tradução? Fiquei automaticamente ateu. Zás! Foste! Essa pequena descoberta fez de mim um super-ceptico. Raios! Se isto é mentira, o que mais será? Se anda toda a gente enganada com isto, com que mais andarão? Não sei se foi bem assim, mas é assim que me lembro. Realço que ser ateu nada ou pouco tem a ver com acreditar ou não na estória de Jesus Cristo, mas na altura, assim como muitos católicos hoje em dia, eu não sabia isso.

Desde essa altura já li a bíblia (coisa que curiosamente poucos católicos se interessam em fazer), li inúmeros livros e artigos científicos sobre o assunto, tirei cursos online, enfim uma perda de tempo gigantesca num assunto que não merece o tempo que lhe dediquei. Estou a brincar, claro que merece. Afinal é baseado nas estórias deste moço Jesus que a Igreja Católica e outras que tais continuam a tentar mandar nas nossas vidas.

E porra, é fascinante! Um dos maiores impérios que já existiu tanto em extensão geográfica como cronológica assenta numas historietas da carochinha que pouca ou nenhuma correspondência com a realidade têm. Não me digam que não é o golpe do século? que digo? Da história da humanidade!

E afinal qual foi a grande má tradução que me fez ver a luz? Foi uma coisa tão simples: no antigo testamento há uma passagem que fala em jovem e traduziram como… virgem.

Porra, afinal a mãe do gajo não era virgem, afinal era um gajo como outro qualquer, anda tudo parvo por coisa nenhuma! Pensei. Hoje em dia dou muito pouca importância a essa má tradução, os problemas com a bíblia são tantos que isso é apenas um pormenor.

Graças a esses “problemas” sou, hoje em dia, adepto da teoria do mito de jesus, ou seja que nunca existiu uma pessoa que correspondesse minimamente ao que é descrito nos evangelhos. Foi simplesmente a invenção de um herói por um povo oprimido como aconteceu tantas outra vezes na história, como por o exemplo o famoso rei Artur cujas lendas deram fama ao cálice da última ceia, o famoso Santo Graal.

Bem, isto tudo para chegar aqui, ao que queria efectivamente escrever e que, por artes mágicas, ficou um bocado maior. Podem ignorar tudo o que está para trás. Este texto devia começar assim:

Os evangelhos contam a estória de um tal Jesus de Nazaré, deus e filho de deus que foi crucificado e ressuscitou 3 dias depois. Tirando o que nos dizem os evangelhos o que sabemos exactamente sobre esses acontecimentos? Usar os evangelhos para confirmar a existência de Jesus é como usar os livros escritos por J.K.Rowling para confirmar a existência de Harry Potter. O que dizem os historiadores da altura? Porque é que uma personagem, tão importante segundo os evangelhos, é praticamente ignorada por todos os outros autores? Quem escreveu os evangelhos? Sabemos que os nomes a que estes foram atribuídos foram acrescentados posteriormente. Sabemos que há más traduções, sabemos que há partes acrescentadas posteriormente, sabemos que há muitos mais evangelhos que não foram consideramos verdadeiros porque continham relatos que não interessava a quem mandava na altura. Enfim sabemos muitas coisas que tornam toda a estória muito pouco credível.

Estes assuntos são alvo de muita informação na Internet, mas pouca coisa em Português de Portugal, lacuna que foi finalmente resolvida. O amigo Paulo no seu canal Quem Escreveu Torto por Linhas Direitas fez um vídeo de uma hora sobre o assunto. Vale a pena ver, mas fiquem avisados: o video levanta muitas perguntas, não só devido à quantidade de informação que apresenta, mas também porque, na minha opinião o Paulo dá como certas conclusões que não estão bem justificadas no video e que eu me sentia mais confortável que fossem apresentadas com menos certezas.

Vejam aqui: Terá existido Jesus da Nazaré