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50 anos sem Bertolt Brecht

No dia 14 de Agosto de 1956 falecia Eugen Bertholt Friedrich Brecht, vítima de um ataque cardíaco. Mas a sua obra mostra quão vivo está o criador do teatro didáctico, ateu assumido.

Recordo, por exemplo, «A Boa Alma de Setsuan». Esta parábola de Brecht data de 1941 e foi escrita na época em que o dramaturgo vivia no exílio da Alemanha nazi e em que Brecht afirmava que a bondade era o estado natural do homem.

Brecht foi desde o início um opositor do regime nazi e viveu no exílio desde a subida ao poder de Hitler. «A Resistível Ascensão de Arturo Ui» é uma paródia sobre Hitler escrita em 1941, na Finlândia. Usando como pano de fundo Al Capone e as guerras entre gangsters, transpostas para a Alemanha nazi, Brecht reproduz a tomada de poder e a anexação da Áustria.

O seu desprezo pela religião pode ser apreciado, por exemplo, na maravilhosa peça de teatro de Bertold Brecht, Santa Joana dos Matadouros (1932).

Se por acaso alguém vier dizer baixinho,
Que existe um Deus, invisível é verdade,
Do qual, portanto podeis esperar por socorro,
Batei-lhe o crânio na pedra,
Até que ele rebente.

ou no seu poema, «Se os tubarões fossem homens»

(…)
O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos.

Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime
do que um peixinho que se sacrifica contente,
e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo
quando dissessem que cuidam da sua felicidade futura.

Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria assegurado
se aprendessem a obediência.
(…)
Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens.
Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa no paraíso,
ou seja, na barriga dos tubarões.