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Brincando às eleições

No Irão o processo eleitoral prossegue. Trata-se de um verdadeiro cortejo com características de uma farsa rocambolesca, em que os bobos da festa são sem dúvida aqueles que acreditam que o processo é um sinal de maior democracia no país.

Mais de 1000 pessoas concorreram ao cargo de presidente (ocupado no momento por Mohammad Khatami) e os seus passados são extremamente diversos: temos o guarda redes da equipa nacional que promete mostrar o cartão vermelho ao crime, um vagabundo poliglota licenciado em gestão e astronomia que acha que isso o qualifica para ser presidente, um jovenzinho de 16 anos (cujo programa eleitoral parece que ainda está a ser definido…com a ajuda da mãe), algumas dezenas de mulheres que se valeram de uma ambiguidade linguística na lei para se poderem candidatar e claro sem esquecer os clérigos octogenários que defendem as mais brilhantes virtudes da civilização teocrática.

Mas isto é só um aperitivo, porque o circo ainda mal começou. O conselho de guardiões (o verdadeiro órgão de poder no Irão, o coração da teocracia) juntou-se à festa e já excluiu cerca de metade dos candidatos reformistas (incluindo claro as 89 mulheres que tiveram a lata de se candidatarem em vez de ficarem em casa a lavar pratos e procriar – como aliás qualquer religião de bem que se preze apregoa).

Ebrahim Yazdi, líder do único partido que se pode dizer que possui “inclinações” seculares, já avisou que dado o passado do conselho não espera que as eleições sejam justas mas que mesmo assim fará tudo o que estiver ao seu alcance para provar às autoridades que elas estão erradas (note-se a subtileza: os políticos não são as autoridades, os clérigos é que são). É por estas e outras, igualmente hediondas, heresias que o Sr. Yazdi vive sobre a permanente ameaça de ser preso – as acusações são de conspiração contra a segurança nacional e contra a teocracia.

E é assim que pelos lados do Irão se compõe uma realidade deveras burlesca. Se a situação é esta durante as eleições imagine-se no carnaval.