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A RELIGIÃO NOS EUA

Por

C. S. F.

A VIDA EXEMPLAR DE HUGH MARJOE ROSS GORTNER

Hugh Marjoe Ross Gortner, mais conhecido por Marjoe Gortner nasceu em 1944 em Long Beach, Califórnia.

Ganhou fama como o mais novo pregador ordenado. Teve notoriedade nos anos 40 até meados dos cinquenta na idade de quatro anos de idade como pregador e nos anos setenta um documentário sobre o negócio lucrativo da pregação religiosa, em que a sua actuação de pregador era o tema, ganhou com um Óscar.

Quando tinha três anos o pai, de nome Vernon, um padre protestante com avô e pai padres, notou o talento do filho para a mímica e uma total falta de receio com os estranhos e com a vida pública.

Decidiram então explorar o filho como uma criança prodígio utilizando-o no negócio da pregação evangélica americana, atirando para cima dos púlpitos.

Para tal encenaram cuidadosamente a futura actuação do filho.

Começaram por o preparar, como se fosse um soldado das forças especiais, a dizer sermões, de forma dramática e exagerada.

Não se sabe se foi ordenado ou não e por quem.

Inventaram um nome ridículo para o filho de Marjoe, pela fusão dos nomes Mary e Joseph.

Arranjaram-lhe um fato de Little Lord Fauntleroy.

Obrigaram-no a dizer no púlpito que uma entidade divina lhe tinha ordenado que pregasse.

Anunciaram também ter recebido uma visão de Deus durante um banho e obrigaram Marjoe a repetir esta mentira nas suas pregações (o que este revelou mais tarde).

Contou também que os pais não lhe batiam quando se queixava ou chorava, mas era castigado pela mãe colocando-o debaixo de uma torneira ou asfixiando-o com um almofada, para não deixar marcas que se vissem nas suas constantes actuações e aparições em público.

Aos quatro anos os pais conseguiram arranjar-lhe uma cerimónia de casamento para os estúdios Paramount, tendo sido referido como o mais novo pregador no mundo.

A sua fama como criança milagrosa espalhou-se e atraiu a comunicação social.

Aos seis anos oficiava em casamentos para adultos.

Até ser adolescente os pais viajaram com ele por todo os EUA a realizar reuniões e ensinaram-lhe passagens das escrituras e formas de ganhar dinheiro como os donativos, a venda de artigos sagrados nas missas que curavam doenças e evitavam a morte, etc.

Era um rapaz bonito que despertava sentimentos maternais nas mulheres e as convencia a entregar-lhe as suas poupanças.

Usavam uma programação musical cuidada para criar o ambiente propício.

O miúdo afirmava ter sido visitado pessoalmente por Jesus.

Desenhavam-lhe previamente uma cruz com tinta invisível na testa que aparecia subitamente no momento oportuno e calculado, ou seja quando começava a transpirar, o que hidratava a tinta tornando-a visível.

As pessoas choravam e gritavam e caíam com espasmos e ataques.

No momento oportuno da missa, um grupo de homens e mulheres idosos começam a pedir dinheiro à assistência.

Quando tinha dezasseis anos a família tinha acumulado com a actuação dele cerca de três milhões de dólares, soma que nunca foi utilizada para sua educação ou para preparar o seu futuro. Depois do seu aniversário o pai fugiu com o dinheiro, o que levou o filho a abandonar a sua mãe e ir viver para São Francisco, onde se marginalizou na contracultura da Califórnia e se tornou amante de uma mulher mais velha que ele. Passou então a viver uma vida de hippy durante mais de quarto anos.

Depois, sem dinheiro, resolveu recorrer de novo aos seus talentos antigos e reapareceu no circuito dos palcos carismáticos como um roqueiro do tipo Mick Jagger. Trabalhava seis meses e voltava para a Califórnia vivendo o resto do ano com o que tinha ganho.

No fim dos anos sessenta sofreu uma crise de consciência por viver uma vida dupla e achou que era melhor utilizar os seus talentos para ser cantor e actor. Decidiu então revelar a fraude em que tinha participado desde a sua infância. Os documentaristas Howard Smith e Sarah Kernochan concordaram em que a sua equipa de filmagem o acompanhasse no final da tournée de reuniões religiosas na Califórnia, Texas e Michigan durante o ano de 1971.

Sem que os seus seguidores e também, num dado momento, o seu próprio pai se apercebessem, deu entrevistas atrás do palco entre os sermões, onde explicou os mais ínfimos detalhes da forma como os padres e ele actuavam. Depois dos sermões os cineastas eram convidados para o quarto de hotel para filmar a contagem do dinheiro ganho em cada dia. O filme Marjoe ganhou em o prémio da Academia para o melhor documentário.

Depois de deixar de ser pregador, Gortner tentou abraçar as carreiras de Hollywood e de cantor. Editou um LP para a Columbia Records intitulado “Bad, But Not Evil” (como Gortner se descrevia no documentário), que teve pouco sucesso e mereceu raras críticas.

Iniciou a sua carreira de actor em The Marcus-Nelson Murders. No ano seguinte ganhou o prémio para o conjunto de actores do filme Terramoto, onde fez o papel do sargento Jody Joad, e participou no filme para televisão Pray for the Wildcats.

Em 1973 foi contratado pelo revista para cobrir o Millennium 73, um festival de Novembro de 1973 encabeçado por Guru Maharaj Ji chamado às vezes “o rapaz guru”.

No fim dos anos 70 tentou financiar um filme, um drama acerca de um evangelista baseado na sua vida. Começou a ser filmado em Nova Orleães, mas seis meses depois acabaram as filmagens por falta de fundos. Gortner fugiu com o dinheiro restante e abandonou a equipa de filmagem no Texas. O que foi filmado desapareceu.

Casou com Candy Clark e com ela viveu de 1978 a Dezembro de 1979.

A representação mais memorável de Gortner foi a de um vendedor de drogas no filme Milton Katselas, uma adaptação da peça a cinema de 1979 de Mark Medoff When You Comin’ Back, Red Ryder?, contracenando com Peter Firth, Lee Grant, e Hal Linden. Fez também vários filmes B como o filme de televisão The Gun and The Pulpit (1974), The Food Of The Gods (1976), e Starcrash (1978). Até 1987 participou em séries e festivais de TV e em telenovelas.

Em 1995 terminou a sua carreira desempenhando um papel de pregador no western Wild Bill.

Actualmente patrocina torneios de golfe de caridade e outras iniciativas e também trabalha como orador.

Em 2007, o Philadelphia Live Arts Festival encomendou a Brian Osborne a peça para um actor sobre a vida de Marjoe Gortner, chamada The Word, que estreou no festival. A peça foi aperfeiçoada e representada no ano de 2010.

Em 2008 o Melbourne Underground Film Festival realizou a primeira retrospectiva dos trabalhos de Marjoe Gortner no seu nono festival.

Apesar da denúncia pública dos métodos ilícitos praticados pelas inúmeras igrejas norte-americanas que toda a vida de Marjoe proporcionou, hoje os pregadores nos EUA tomaram também conta das televisões e nelas manipulam os pobres, conseguindo um forte financiamento dos ricos que continuam a construir imensos e opulentos templos e palácios à sua custa, por exemplo, em Las Vegas!

(Texto baseado em Christopher Hitchens (Deus não é Grande) e em sites da Internet)