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Sobre Anti-clericalismo (1)

Por

ONOFRE VARELA

Antes de tratar do assunto anunciado em título, quero aqui deixar o meu elogio à atitude de dois sacerdotes católicos: um, da Guarda, e outro de uma localidade Espanhola. Ambos demonstraram possuir um sentido de humor elevado, ao pedirem aos fieis das suas igrejas para que, neste tempo assolado por um vírus mortal que desaconselha concentrações de pessoas, lhes fornecessem cópias a cor dos seus retratos, em formato A3, para, com eles, decorarem os encostos dos bancos dos templos, sentindo, assim, que não celebravam missa num templo vazio. Considero este acto uma ideia genial pelo humor que encerra. E o humor é característica de inteligências superiores, não estando ao alcance de qualquer um. Os meus parabéns à Igreja Católica por ter sacerdotes com este nível.

Tratando do tema desta crónica direi que, hoje, em Portugal, não há Anti-clericalismo, pela simples razão de não haver Clericalismo! O Anti-clericalismo só existe na razão directa do Clericalismo que quer combater. É como um Anti-vírus que só existe porque existe o Vírus… não existindo este, não há razão para existir aquele!… Ora, não havendo Clericalismo (ou há?!…) também não existe a arma que o combate!

O Anti-clericalismo em Portugal existiu com uma força que podemos apelidar de feroz, num tempo em que havia um Clericalismo também feroz. Penso que o último Anti-clericalista Português foi Tomás da Fonseca (1877-1968), detentor de uma forte personalidade invulgar que o enviou para a cadeia diversas vezes, por razões políticas.

Na Primeira República foi chefe de gabinete de António Luís Gomes, que era ministro do Fomento do Governo Provisório, e ocupou o mesmo cargo ao serviço do primeiro ministro Teófilo Braga (que mais tarde viria a ser, embora por pouco tempo, presidente da República). Foi eleito deputado à Assembleia Constituinte em 1911 pelo círculo de Santa Comba Dão, e em 1916 foi eleito senador por Viseu. Atento aos aspectos mais negativos da Igreja, numa intervenção que fez em 1912, denunciou casos de padres pedófilos, problema que, como se vê, não é só de hoje.

Os regimes ditatoriais mereciam-lhe o maior repúdio, e por isso foi preso em 1918 por se opor à ditadura de Sidónio Pais. Volta à cadeia dez anos depois, em Coimbra, e torna a ser preso em 1947 por ter protestado contra a existência do Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, para onde Salazar enviava presos políticos.

As razões do Anti-clericalismo de Tomás da Fonseca estão registadas na História, e delas falarei no próximo artigo.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV