Loading

Ser religioso e ser crente, não são a mesma coisa

Por

ONOFRE VARELA

No jornalismo (mais concretamente no Jornal de Notícias, já que, desde 1969 até ao ano 2000, passei pelas Redacções de todos os jornais diários editados no Porto) tive um chefe de Redacção que era sacerdote católico. Refiro-me a Rui Osório. O nosso relacionamento sempre foi bom. Lembro que numa das várias conversas que mantivemos sobre religião, ele comentou: “Não conheço ninguém que seja mais religioso do que tu”.

Só tive que lhe dar razão atendendo à acepção da palavra “Religião”, cuja raiz latina vem de Religio e Religare, no sentido da procura de visões do mundo enquadradas numa espiritualidade enquanto valor moral e social. Já não lhe dei razão no significado que aponta para a adoração de uma entidade abstracta criada com a finalidade de darmos um sentido filosófico à vida, na convicção de que ela nos foi dada por um deus criador. Este “deus criador” não é mais do que um produto da nossa imaginação criadora, já que o verdadeiro criador… é o Homem.

Mas a necessidade que o Homo Sapiens sentiu de criar Deus (deuses) remete-nos para o sentido da religiosidade deísta que alimenta as várias igrejas estabelecidas em todas as sociedades e que os crentes sentem como balsamo, ou aspirina do espírito, para as maleitas que sempre nos afligem a vida.

Os credos religiosos caracterizam-se por uma união de sentimentos, de emoções místicas, de modos de ver o mundo… consequentemente reflectem uma cultura. Quando várias pessoas se juntam a pretexto de um qualquer tema que apreciam, estão a afirmar a sua cultura e a sublinhar o seu respeito e admiração por aqueles que compartilham as mesmas ideias. Esta união de sentimentos leva-nos a reunir no mesmo clube, no mesmo partido, no mesmo movimento cívico e na mesma igreja.

Sendo certo que no seio de cada um destes grupos é suposto existir respeito entre os elementos que lhe dão corpo, também é certo que não sentem o mesmo afecto pelos frequentadores, ou aderentes, de outros clubes, partidos, movimentos e igrejas.

Estas diferenças que nos aproximam ou separam dos outros, no fundo, só afirmam o facto de todos nós sermos iguais em sentimentos. Guerreamo-nos e suportamo-nos. É a característica do animal predador que somos. Não há “grupos de humanos bons” e “grupos de humanos maus”. A situação só é verdadeiramente grave quando o verbo “guerrear” conduz a atitudes políticas e religiosas extremistas, que fazem sofrer o semelhante. E por aí todos reconhecemos os exemplos de políticas e religiões extremistas, sempre desrespeitadoras do semelhante.

(Artigo de Onofre Varela a sair na edição de 22 de Agosto no jornal Gazeta de Paços de Ferreira)