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Ainda o burkíni

Aceito quem condena a jurisprudência do tribunal de Nice e a decisão da autarquia em proibir o adereço pio, ostensivamente islâmico. Já me penitenciei da sua defesa, por me ter convencido da razoabilidade dos argumentos em sentido contrário e, sobretudo, pelo carácter contraproducente da proibição.

Custa-me, no entanto, perceber que, conhecido o incitamento ao seu uso pelo islamismo extremista e a exibição nas praias de Nice, na sequência do atentado comprovadamente inspirado no sectarismo islâmico, haja quem não reflita no carácter provocatório do ato.

O que não aceito, por má-fé, é o despudor com que se atribui ao espírito transigente das democracias, o argumento ignóbil de que se trata de um desejo libidinoso de obrigar as mulheres a despirem-se em público.
Ninguém se preocupa que, por cada mulher que deseja andar toda velada, haja milhares que são obrigadas, e vítimas de constrangimentos sociais comunitaristas.

Às vezes, na acéfala defesa do Islão, e do seu menosprezo pela mulher, dou por mim a pensar se alguma esquerda não continua movida pelo ódio ao catolicismo, quase sempre de natureza reacionária, ao longo da história, ou se a sedução pela violência também a fascina.

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