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Mês: Julho 2013

9 de Julho, 2013 Carlos Esperança

Os cristãos continuam à espera do seu “D. Sebastião”

Por

Kawkaz
Na História de Portugal houve um rei, D. Sebastião, muito jovem e inexperiente da vida, vítima mortal da fé cristã e das suas ilusões desastrosas. Aquele rei planeou e efectuou uma cruzada pelo actual país de Marrocos e foi derrotado pelos muçulmanos na batalha de Alcácer-Quibir em 1578. O seu desaparecimento levou à perda da independência de Portugal para a dinastia Filipina espanhola (1580-1640) e ao nascimento do mito do Sebastianismo, a lenda que afirmava que o rei D. Sebastião ainda se encontrava vivo, apenas esperando o momento certo para voltar ao trono de Portugal e reinar de novo.

Os cristãos têm uma lenda idêntica. Eles esperam pelo monarca deles, Jesus Cristo, afirmam-nos que ele ainda estará vivo, apesar de nunca conseguirem indicar-nos o lugar concreto do seu paradeiro, garantem-nos que um dia voltará para restabelecer a monarquia. É o mito cristão do “Jesuanismo”. Os séculos passam e os crentes à espera, até ajoelhados, do regresso do rei deles “como um ladrão da noite”.

Os cristãos anseiam por um rei. Não concebem a plenitude de serem cidadãos do mundo. Afirmam-se vassalos e adeptos duma monarquia e do monarca aceite por eles. Esta ideia da vassalagem está bem enraizada nos crentes. Fazem-no até intuitivamente.

Um exemplo desta mentalidade “Jesusanista” incutida e inserida nos cristãos está na foto apresentada. Trata-se da actual construção duma nova igreja em Miraflores, ao lado de Algés, Portugal. No anúncio pode ler-se “Paróquia de Cristo Rei de Algés”. Todos sabemos que em Algés há eleições e o regime vigente é a democracia constitucional. Os habitantes daquela localidade são cidadãos e são governados por republicanos eleitos em sufrágio universal. No entanto, as religiões continuam a iludir os crentes. Em vez de falarem verdade e tratarem as pessoas por cidadãos, que são, alimentam a ideia dos cristãos serem vassalos de um “Rei” lendário e apelidam os cristãos de “ovelhas dos pastores”. Os crentes permitem e até gostam que os rebaixem! Têm complexos de inferioridade.

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8 de Julho, 2013 Carlos Esperança

DO EGITO E DO MUNDO ÁRABE

Por

João Pedro Moura

1- O problema do Egito, e dos países árabes em processo revolucionário, é o seguinte:

quando conseguem liberdades políticas e vão para eleições, ganham os partidos islamitas…

… E ganham porque a mentalidade arabesca é intrinsecamente reacionária e avessa a mudanças. Só uma minoria, mais intelectualizada, mais ocidentalizada, mais rica e desfasada do islamismo é que não vota nos partidos islamitas.

A civilização árabe, chamemos-lhes assim, é a única do mundo em que nos processos revolucionários políticos e modernos, a massa popular vota em políticos afetos à hedionda escumalha islâmica, quero dizer, em liberticidas…

Obviamente, é um atavismo genético qualquer. Senão, votariam em partidos democráticos e liberais, como acontece nas outras regiões e grupos civilizacionais normais…

… E não há nenhuma maneira de alterar isto!…

… Porque há povos que serão sempre atrasados e um atraso de vida!…

… Enquanto há outros povos progressistas, que trabalham, que estudam, que desenvolvem os seus países…

2- O Morsi egípcio só não entrou a “matar” porque ele sabe que afugentaria os turistas, grande pilar da economia egípcia. Então, entrou suavemente, com boas relações internacionais e omitindo Israel, por ora…

… Mas, até agora, esteve a montar uma complexa arquitetura política e administrativa, favorável à hedionda escumalha islâmica…

… Mas teve duas oposições: uma grande, popular, mas minoritária, composta pelos afetados pelo esboroamento turístico e demais modernizados do sistema; outra pequena em número populacional, mas de influência determinante, as Forças Armadas, completamente desafetas à “hedionda”, FA essas compostas por dirigentes militares, formados em escolas militares ocidentais e adeptos do “life style” moderno e desligado do islamismo.

E, nas manifestações, temos 2 tipos, os anti-Morsi, compostos por uma imensidão masculina e muito poucas mulheres, sistematicamente de cabeça destapada e vestes ocidentalizadas. Estes manifestantes representam o Egito minoritário e derrotado politicamente, mas buliçoso pelo desejo de melhorias económicas e (algumas…) liberais; e o outro tipo de manifestações, composto pela imensidão islâmica, frequentemente de barbudos e (re)vestidos de roupa tradicionalista, mais um contingente notório de mulheres sistematicamente (re)vestidas com as suas vedações têxteis, da cabeça aos pés, orgulhosas da sua condição subserviente, marcando o seu apego ao islamismo e seus façanhudos políticos…

 

3- Enquanto na Turquia há uma maior congruência entre a massa maioritária islâmica e o seu poder político, por um lado, que são moderados, e os modernizados do sistema, completamente ocidentalizados, mas que são uma minoria muito influente duns 30%, por outro, mas que, mesmo assim, ainda provocam tricas entre eles, no mundo árabe vigora a abjeção social de costumes conservadores e reacionários, que abrangem a grande massa do povo, ávido de figuras carismáticas e tutelares que os conduzam ao aprisco terráqueo, mas com pão, coisa cada vez mais difícil de ocorrer, a partir do momento em que se introduz a liberdade no sistema… e não há petróleo suficiente para sustentar tanta gente…

 

8 de Julho, 2013 Carlos Esperança

D. Manuel III e a sé de Lisboa

Começou mal a patriarcar a sé de Lisboa o Sr. D. Manuel III, da dinastia dos Manuéis. A missa era a peça de abertura do espetáculo pio que lhe cabia abrilhantar no coliseu da fé – o Mosteiro dos Jerónimos. Bastavam os pios funcionários de Deus a brilhar nas vestes femininas, com que têm o hábito de se travestir, para transmitirem o colorido exótico de que a missa precisava para refulgir na televisão a cores.

O paradoxo esteve na assistência. Eram restos do governo morto, com um presidente em estado terminal. Eram primeiras figuras do Estado laico a tornarem-se as últimas de um regime que teimam em inumar. Eram homens e mulheres que juraram respeitar a CRP, a pôr as mãos, a fazer flexões a toque de campainha, a balbuciar orações ao ritmo da peça, de joelhos, como apraz à fé, e de rastos como gostam os padres e se destrói a laicidade e a honra.

Alguns, de olhos vagos e esgares medonhos, afocinharam junto à patena que protegia o cálice donde saíram hóstias transubstanciadas por sinais cabalísticos do último Manuel, sem que o alegado sangue se visse a pingar da comissura dos beiços ou se adivinhasse a carne a errar pelo aparelho digestivo e a fazer o trânsito intestinal.

O Manuel e acompanhantes foram recebidos com palmas. Foi a primeira vez, depois de tanto tempo, que insultos deram lugar aos aplausos, no ambiente lúgubre que a luz das velas tornava mais tétrico. Quem desconheça os hábitos canónicos há de ter pensado que a joia arquitetónica do templo se convertera numa casa de alterne e que a estrela do espetáculo era a primeira bailarina.

Não foram os incréus que desonraram o espetáculo pífio, foi o bando subserviente que, ao prestar vassalagem a uma religião particular, cobriu de opróbrio o Estado e a Igreja.

À falta de colunas vertebrais salvaram-se as colunas de pedra do esplendor manuelino, a ossatura da joia arquitetónica que, no espetáculo de abertura do novo gerente da Sé de Lisboa, foi convertida num circo para arlequins mediáticos.

8 de Julho, 2013 Carlos Esperança

A primeira missa do Patriarca de Lisboa

Consta que 278 padres e bispos e 65 diáconos foram o ornamento pio do Sr. Dr. Manuel Clemente quando ontem rezou a 1.ª missa como patriarca de Lisboa.

Além dos referidos empregados da diocese estavam presentes, na condição de créus, os Srs. Paulo Portas, Cavaco Silva e Passos Coelho, por ordem decrescente de importância.

Não sei se a missa de um patriarca tem atrativos litúrgicos que aliciem a freguesia mas a presença não deve ser alheia aos pecados dos réprobos e ao peso da consciência.

Se a missa é lixivia suficiente para limpar nódoas a tais personagens, podem continuar a arruinar o País porque não há nódoa que uma confissão bem feita, o arrependimento sincero e a penitência cumprida não limpem.

No Vaticano, as missas e indulgências são a terebentina que na igreja lava os pecados (nódoas da alma) e no IOR o dinheiro de origem suspeita.

A Presidente da Assembleia da República, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o Presidente do Tribunal de Contas e o ministro da Segurança Social foram as figuras de Estado que, segundo a comunicação social, se juntaram aos três crentes já referidos no festival litúrgico da primeira missa do novo patriarca.

Os pecadores têm todo o direito às missas e complementos pios que lhes aprouver, mas não podem invocar a qualidade de altos dignitários do Estado sob pena de converterem o país num protetorado do Vaticano. Podem viajar de joelhos e rezar novenas mas não podem invocar uma condição que transforma o país laico numa sacristia.

Talvez não saibam o que é a ética republicana.

7 de Julho, 2013 Carlos Esperança

Guerra Junqueiro – um poeta a recordar

Faz hoje 90 anos que faleceu Guerra Junqueiro, um dos mais populares poetas do seu tempo.

Zurziu a Igreja católica com a mesma sanha com que Maomé se atirou ao toucinho. A Velhice do Padre Eterno é uma referência da poesia anticlerical.

Contou Tomás da Fonseca, a grande referência da luta contra o clericalismo, que Guerra Junqueiro lhe disse um dia: «aos padres, com a barriga cheia, tanto lhes dá que as pessoas da Trindade sejam 3 como 300.

7 de Julho, 2013 Carlos Esperança

NOVA REINCARNAÇÃO DO CARDEAL CEREJEIRA

Por

A. Horta PintoD.Clemente

Já conhecíamos a filosofia política do anterior Cardeal Patriarca José Policarpo, traduzida em aforismos tais como: “não se resolve nada contestando” e “Não vos revolteis!”.

Ontem tomou posse o seu sucessor, Manuel Clemente, num momento em que a sociedade portuguesa se encontra profundamente dividida entre a direita e a extrema direita, que querem à fina força recauchutar o atual governo, e o centro e a esquerda, que pretendem eleições antecipadas.

O novo Patriarca, logo no dia em que tomou posse, fez questão de tomar partido: rodeado de um grupo de jornalistas, declarou perante as câmaras das televisões que o atual governo tem legitimidade democrática e que a solução para a crise política deve ser encontrada dentro do atual quadro parlamentar. Nada de eleições, portanto.

Temos, assim, mais do mesmo: a Santa Madre Igreja como sustentáculo da direita reacionária.

Nada que não se esperasse. Mas se dúvidas houvesse em alguns espíritos mais ingénuos, Sua Eminência fez questão de as dissipar logo no primeiro dia.

O espetro do sinistro Cardeal Cerejeira continua pois a pairar sobre a igreja católica portuguesa.

7 de Julho, 2013 David Ferreira

Hóstia dominical – III

Racionalizar a premissa de uma primeira causa não causada argumentando que tudo teve uma causa é uma armadilha grotesca de ginástica intelectual.

Se tudo teve uma causa, não pode haver uma primeira causa e se a capacidade que possuímos para deduzir uma primeira causa não causada pode ser aduzida como justificativa de tal possibilidade, a capacidade que igualmente possuímos para racionalizar uma causa causada ad infinitum destrói impiedosamente qualquer noção de primeira causa.

É perante este simples raciocínio que toda a apologética que tenta viabilizar não só a conceção de Deus como também a sua irredutível inegabilidade, implode no seu próprio paradoxo.

 

7 de Julho, 2013 Carlos Esperança

Vaticano – uma no cravo outra na ferradura

Enquanto os beatos gostam de qualquer papa, por mais sinistro ou pusilânime que seja, é natural que um ateu, sobretudo anticlerical, deteste o representante máximo da única teocracia europeia, o chefe absoluto de um bairro mal frequentado, o offshore onde as máfias e as sotainas branqueiam dinheiro e a Cúria conspira.

O Vaticano é uma criação de Benito Mussolini, um enviado da Providência, segundo o papa de turno durante o apogeu do fascismo. Deve-se aos acordos de Latrão a criação do único Estado sem maternidade e onde o poder é de origem divina, quer para lavar o dinheiro no banco privativo (IOR) quer para as orgias que privadamente aí têm lugar.

O Vaticano exporta títulos eclesiásticos, bênçãos apostólicas, indulgências e atestados de milagres, tudo trocado por emolumentos porque, como dizia o arcebispo Marcinkus, que João Paulo II não deixou que a polícia italiana lhe deitasse a mão, a Igreja não se governa com ave-marias.

O atual Papa que, como pessoa, parece normal e, para papa, um homem bom, acaba por regressar aos exorcismos e às canonizações. Já ameaçou com a canonização de um par de papas, por atacado.

João XXIII foi, para Papa, uma pessoa de bem, até se descobrir a carta confidencial que ameaçava de excomunhão quem denunciasse os crimes de pedofilia na Igreja, incluindo as próprias vítimas. Além disso, e tirando as mentiras pias, era um dos raros Papas com quem não era vergonha tomar o pequeno almoço.

João Paulo II, protetor de todas as ditaduras de direita, e amigo dos respetivos ditadores, foi uma estrela pop que brilhou no firmamento dos espetáculos religiosos e nas missas de ação de graças. Era um político reacionário que combateu, de facto, as ditaduras de esquerda, mas abençoou as de direita.

A santidade que o par de papas com a canonização em curso tiveram como profissão e estado civil, readquirem-na agora na sua defunção onde já não respondem a perguntas comprometedoras nem reincidem nos atos que os envergonharam.

A Igreja católica tem dois mil anos de passado pouco recomendável mas o seu estertor ainda vem longe. O negócio da santidade e das relíquias continua. Só crê quem quer.

 

6 de Julho, 2013 Carlos Esperança

O Egito, o Islão e a democracia

Os berberes já habitavam o território da atual Argélia dez mil anos antes da era vulgar e, quando a lepra islâmica alastrou como mancha de óleo, no século VIII, ainda resistiram, mas acabaram por converter-se ao mais primário e belicista dos monoteísmos.

A sedução dos cinco pilares islâmicos é ajudada pelo assanhado proselitismo e profundo constrangimento social. O monopólio da educação, assistência médica e distribuição de alimentos, em sociedades saídas do colonialismo, ajudam à difusão do manual terrorista que dá pelo nome de Corão.

Junte-se a fanatização, que começa na infância, nas madraças e mesquitas em países que não conheceram o Iluminismo e vivem numa civilização falhada – a civilização árabe –, e temos a perversão que teimamos em julgar paradigma de grupos isolados, sem darmos conta das ambições prosélitas prosseguidas à bomba por voluntários que esperam ter 72 virgens a aguardá-los no Paraíso.

Foi assim que, em dezembro de 1991, a Frente Islâmica de Salvação (FIS) teve uma vitória estrondosa na 1.ª volta das eleições e, perante o terror da sharia, a Frente de Salvação Nacional (FSN) cancelou a 2.ª volta. Perante a ditadura, a Europa sossegou e desinteressou-se dos 150 a 200 mil mortos da guerra civil que se seguiu.

Recordo aos mais desatentos o que está a suceder no Egito e ao que acontecerá, a prazo, na Turquia, os dois maiores e mais influentes países de maioria islâmica, que a vontade de Maomé pretende submeter à vontade de Alá, tendo a sharia como horizonte.

No Cairo, cristãos, democratas e diversos grupos sem consistência ou até antagónicos, motivados pela crise económica, uns, e pelo medo da sharia, quase todos, expuseram-se à repressão numa corajosa resistência à liturgia das 5 orações diárias e à imposição de se virarem para Meca.

Uma vez mais triunfou a ditadura que estava escrita nos astros. Um golpe militar nunca garante a democracia, mas adia a consolidação da teocracia. Muitas vidas se perderão na guerra civil que se adivinha e os muçulmanos não são piores do que os cristãos ou ateus. O que é efetivamente pior é o Islão, na sua obstinada demência, comum ao cristianismo, de tentar impor aos outros o Deus que deviam guardar para si.

Os países democráticos, mais interessados no mercado de matérias primas, sobretudo do petróleo, descuram a exigência do respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. E a laicidade continua a ser adiada onde se erguem mesquitas e almenaras.