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  • 7 de Julho, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

Vaticano – uma no cravo outra na ferradura

Enquanto os beatos gostam de qualquer papa, por mais sinistro ou pusilânime que seja, é natural que um ateu, sobretudo anticlerical, deteste o representante máximo da única teocracia europeia, o chefe absoluto de um bairro mal frequentado, o offshore onde as máfias e as sotainas branqueiam dinheiro e a Cúria conspira.

O Vaticano é uma criação de Benito Mussolini, um enviado da Providência, segundo o papa de turno durante o apogeu do fascismo. Deve-se aos acordos de Latrão a criação do único Estado sem maternidade e onde o poder é de origem divina, quer para lavar o dinheiro no banco privativo (IOR) quer para as orgias que privadamente aí têm lugar.

O Vaticano exporta títulos eclesiásticos, bênçãos apostólicas, indulgências e atestados de milagres, tudo trocado por emolumentos porque, como dizia o arcebispo Marcinkus, que João Paulo II não deixou que a polícia italiana lhe deitasse a mão, a Igreja não se governa com ave-marias.

O atual Papa que, como pessoa, parece normal e, para papa, um homem bom, acaba por regressar aos exorcismos e às canonizações. Já ameaçou com a canonização de um par de papas, por atacado.

João XXIII foi, para Papa, uma pessoa de bem, até se descobrir a carta confidencial que ameaçava de excomunhão quem denunciasse os crimes de pedofilia na Igreja, incluindo as próprias vítimas. Além disso, e tirando as mentiras pias, era um dos raros Papas com quem não era vergonha tomar o pequeno almoço.

João Paulo II, protetor de todas as ditaduras de direita, e amigo dos respetivos ditadores, foi uma estrela pop que brilhou no firmamento dos espetáculos religiosos e nas missas de ação de graças. Era um político reacionário que combateu, de facto, as ditaduras de esquerda, mas abençoou as de direita.

A santidade que o par de papas com a canonização em curso tiveram como profissão e estado civil, readquirem-na agora na sua defunção onde já não respondem a perguntas comprometedoras nem reincidem nos atos que os envergonharam.

A Igreja católica tem dois mil anos de passado pouco recomendável mas o seu estertor ainda vem longe. O negócio da santidade e das relíquias continua. Só crê quem quer.