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  • 27 de Fevereiro, 2012
  • Por Carlos Esperança
  • Catolicismo

O governo, a fé e a inépcia

Os estagiários que Cavaco Silva, com o seu rancoroso discurso de vitória eleitoral, ajudou a conquistar o poder, sem dar tempo ao PSD para escolher um líder experiente, estão a revelar uma faceta piedosa com que pretendem esconder a inépcia.

O ministro da Economia escreveu um livro, não para apontar os caminhos para a saída da crise, que nos atormenta, mas para procurar a salvação da alma, que o aflige, lamentando que a diocese de Braga tenha diminuído a produção de padres católicos, atividade em que o seu seminário maior se destacou.

O inefável ministro Paulo Portas, que se deslocou a Coimbra às exéquias da perpétua reclusa Irmã Lúcia, por altura do seu passamento, e que agradeceu à Senhora de Fátima ter enviado ventos e marés para desviarem a poluição do navio Préstige para a costa da Galiza, colocou no ministério uma política inapta a responder ao problema da seca mas capaz de rezar uma novena: «Devo dizer que sou uma pessoa de fé, esperarei sempre que chova».

O ministro da Saúde que encomendou uma missa para os funcionários da Direção-Geral dos Impostos, quando foi seu titular, vai encaminhando os doentes para as Misericórdias e não tardará a promover uma peregrinação a Fátima para que sejam obrados milagres nos doentes que custam dinheiro ao erário público.

Falhado o conselho de um secretário de Estado, corroborado pelo primeiro-ministro, para que os jovens desempregados emigrem, o líder da JSD apresentou, como proposta para combater o desemprego, uma ideia original: «É sobretudo uma questão de fé e de acreditar que é possível».

Neste coro beato só faltava o antigo ministro do CDS, agora deputado, Telmo Correia a opor-se à adoção gay com o argumento de que a lei era “contrária à vontade do criador”, querendo dizer com isso que, perante o Parlamento e o seu deus, que não tem aí assento, é a vontade do ausente que deve ser levada em conta.

Este triângulo, Rua de S. Caetano, Largo do Caldas e palácio de S. Bento desistiram de um módico de pudor republicano, tornando-se na Comissão Fabriqueira da Paróquia de São Bento.