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Mês: Novembro 2010

5 de Novembro, 2010 Luís Grave Rodrigues

Citação do Dia

 


«O ensino tradicional da Igreja não exclui, depois de comprovadas cabalmente a identidade e a responsabilidade de culpado, o recurso à pena de morte, se essa for a única via praticável para defender eficazmente a vida humana contra o agressor injusto».

 

– Catecismo da Igreja Católica (§ 2267)

             

5 de Novembro, 2010 Carlos Esperança

A alma, essa desconhecida_1

A alma é um furúnculo etéreo que afecta o corpo dos crentes. É um vírus que resiste à morte e tem direito a transporte gratuito para o domicílio que os padres lhe destinam.

A alma é um bem mobiliário que paga imposto canónico e, à semelhança das acções de empresas, hoje igualmente desmaterializadas, paga avença pela «guarda de títulos».

No mercado mobiliário as acções são transmissíveis e negociáveis. Apesar das fraudes sabe-se que correspondem a avos do capital social de uma empresa. A sua duplicação é burla e conduz à cadeia, salvo quando o Vaticano está implicado e impede a extradição do criminoso, como sucedeu com o arcebispo Marcinkus que JP2 protegeu, após a falência fraudulenta do Banco Ambrosiano.

Quanto à alma, há suspeitas de haver um número ilimitado em armazém, o que exaspera os clérigos, encarregados do negócio, com o planeamento familiar. Não se sabe bem se a alma vai no sémen, se está no óvulo ou se surge através da cópula, um método pouco digno para tão precioso e imaculado bem.

Os almófilos andam de joelhos e põem-se de rastos sem saber se a alma se esconde nas mitocôndrias, nas membranas celulares, no retículo endoplasmático ou no núcleo e nos cromossomas, sem nunca aceitarem que seja o produto de reacções enzimáticas.

Não sabem se é alguma coisa de jeito no ovo, no embrião em fase de mórula ou no blastocito. Juram que aparece no princípio, sem saberem bem quando e onde está o alfa, ou quando aparece Deus a espreitar pelo buraco da fechadura e a arremessar aos fluidos a alma que escusa o entusiasmo de quem ama.

Após o aparecimento dos rudimentos da crista neural, só às 12 semanas o processo de gestação dá origem ao feto e falta provar que a alma, embora de qualidade sofrível, se encontra num anencéfalo ou que é de boa qualidade a que Deus distribui ao fruto de uma violação ou do incesto.

4 de Novembro, 2010 Carlos Esperança

Punição sem queixa do ofendido

Por

José Moreira

Apesar da minha idade, ainda há coisas que me vão deixando perplexo. Isto porque, afinal, todos os dias são apresentadas provas ou, pelo menos, indícios, de que Jeová não é assim tão poderoso como isso. Ou então, que há gente ainda mais papista que o Papa.

Vamos por partes. Vamos supor que eu estou em determinado local, onde também está um membro do Governo. Eu, numa ocasião de fúria, chamo “porco” a esse membro do Governo. Provavelmente, e porque se trata de um crime, o membro do Governo faz com que eu seja punido. Parece-me não ter lógica nenhuma que, por exemplo, o motorista ou o porteiro tratem do meu castigo. O ofendido é o membro do Governo, ele é que tem de ser ressarcido da ofensa. Mas vamos supor que o membro do Governo não fica ofendido, ou está-se borrifando para a ofensa: que legitimidade têm, o porteiro ou o motorista, para me castigarem?

Foram hipóteses. Vamos a factos: um jogador do Sampdória foi suspenso por blasfémia. Foi Jeová, que o suspendeu? Não, embora a notícia não especifique quem foi a entidade aplicadora do castigo. E a pergunta é: com que legitimidade? Por ter ofendido Deus? E quem garante que Deus se sentiu ofendido? Quem garante que Deus que, em princípio, está acima das rasteirices, terrenas, não se borrifou para o insulto, tal como o membro do Governo? Já agora: será que Deus não teria poder para castigar o ofensor? Não seria mais giro ser aplicada, logo, a justiça divina?

Dir-me-ão: “Ah, e tal, ele será castigado no Juízo Final”. Tudo bem, admitamos que sim. Mas será justo ser punido DUAS vezes pelo mesmo facto? Isso não é ilegal?

4 de Novembro, 2010 Ricardo Alves

Clérigo inspira tentativa de homicídio

Uma jovem que tentou assassinar um deputado britânico confessou em tribunal que foi inspirada pelos sermões de um clérigo islamista. A jovem de 21 anos não mostra remorsos e considera o tribunal que a condenou a uma pena mínima de 15 anos «ilegítimo». O seu objectivo era punir o deputado trabalhista pelo seu apoio à guerra do Iraque.

A jovem acedeu aos sermões religiosos através do youtube. As autoridades britânicas conseguiram que alguns dos sermões do clérigo Anwar-Al-Alaki, considerado próximo da Al-Qaeda, fossem retirados do site.

4 de Novembro, 2010 Carlos Esperança

No rescaldo das eleições brasileiras

O empenhamento do presidente que retirou da miséria extrema mais de vinte milhões de compatriotas e elevou 30 milhões à classe média tinha de dar frutos. Lula foi obreiro da vitória de Dilma Rousseff e, para o bem e para o mal, será sempre a bitola pela qual será julgada a sua sucessora.

A vitória de Dilma foi merecida e, apesar da orfandade que a maioria dos brasileiros vai sentir do seu carismático presidente, estará à altura de continuar o melhor período económico, social e político de sempre. O facto de ser mulher é um factor de esperança num país onde, às enormes desigualdades sociais, se associam as de género.

Dito isto, não devemos olvidar a campanha vergonhosa da segunda volta eleitoral. Não se discutiu política, fizeram-se ataques de carácter, não se falou do futuro, remexeu-se o passado dos candidatos. Até a coragem da velha guerrilheira, que enfrentou os militares que oprimiram o Brasil de 1964 a 1985, foi usada para a denegrir. A derrota de Serra fez lembrar uma peça de Brecht em que um juiz, bêbedo e corrupto, fazia justiça. Foi uma derrota justa.

Quando se esperava que o legado da candidata Marina Silva, cuja votação impressionou os observadores, servisse para discutir os relevantes problemas do ambientalismo viu-se que os seus votos não resultaram de uma consciência ecológica mas do apoio da IURD e dos crentes mais retrógrados, seduzidos pela sua crença evangélica e pelas afirmações declaradamente homofóbicas e contra o aborto.

Assim se compreende que a segunda volta fosse dominada, não pela política mas pelo aborto, com o Papa a mandar os bispos fazer campanha a favor da vida, isto é, a favor de Serra, bem como a Assembleia de Deus, que reúne a maior parte dos evangélicos do Brasil, enquanto a empresa de Edir Macedo, conhecida por IURD, transferia para Dilma o apoio que os católicos mais progressistas já lhe concederam na primeira volta.

Finalmente, Dilma, com escândalo nos meios mais devotos, no discurso de vitória, não agradeceu a Deus o resultado eleitoral, talvez por Deus não estar recenseado ou por ter preferido Serra. Registe-se a posição decente em relação à laicidade do Estado.

A campanha da segunda volta das eleições foi decepcionante. Esperemos que o mandato de Dilma honre a herança que recebe e que o Brasil merece. Esse é o grande desafio da primeira mulher brasileira a ocupar a cadeira presidencial na 8.ª economia mundial.