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Os negócios da fé e a exegese católica

Nunca percebi, nem me sabem explicar os que levam a sério o Vaticano, como é possível a uma alma caída no Inferno viajar para o Paraíso sem transportes negociados entre dois destinos turísticos que, em princípio, estão de relações cortadas.

Ao longo da história aconteceu a alguns excomungados morrerem com bilhete marcado para o Inferno e acabaram reintegrados no número dos bem-aventurados e conduzidos aos altares, para bem da fé e dos negócios respectivos.

Não sendo compreensível que um santo aprovado com um mínimo de dois milagres se alcandorasse aos altares e se mantivesse eternamente a frigir em azeite nas profundezas do Inferno, é difícil saber como pode ser resgatado das perpétuas penas para as delícias celestiais igualmente definitivas.

Bem sei que Joana d’Arc, depois de queimada viva, seria reabilitada e canonizada cinco séculos depois mas a infalibilidade dos papas só existe depois de Pio IX um desalmado cuja encíclica Syllabus ainda hoje arrepia o mais insensível dos trogloditas.

O que agora perturba alguns créus é a excomunhão com que João Paulo II condenou às eternas tormentas Monsenhor Lefebvre e os seus sequazes para agora ser discretamente recuperado pelo actual pontífice.

O bando de Lefebvre é declaradamente partidário do Concílio de Trento, de posições fascistas e do mais primário e execrável anti-semitismo, o que faz da Fraternidade Sacerdotal São Pio X a comunidade menos recomendável para servir de modelo ético.

Não se percebe como pode agora o bispo Lefebvre, depois de amaldiçoar em latim a temperatura do Inferno viajar para o Céu pela mão da actual santidade de turno no Vaticano – Bento XVI.

São insondáveis os mistérios daquele bairro de 44 hectares!