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Mês: Maio 2009

11 de Maio, 2009 Luís Grave Rodrigues

Cristo Rei

 

No próximo dia 17 de Maio passarão 50 anos sobre a inauguração daquilo a que se convencionou chamar o «santuário de Cristo Rei».

 

O monumento foi erigido como pagamento de uma promessa dos bispos portugueses:

“Se Portugal fosse poupado da Guerra, erguer-se-ia sobre Lisboa um Monumento ao Sagrado Coração de Jesus, sinal visível de como Deus, através do Amor, deseja conquistar para Si toda a humanidade».

 

Portugal livrou-se efectivamente da II Guerra Mundial o que, se pensarmos na quantidade de países que não tiveram essa sorte, dá até azo ao desenvolvimento de teorias de que Deus afinal é português.

 

O pior é o impacto visual que a porcaria de um monumento à mais bacoca crendice de meia dúzia de mitómanos causa na paisagem de Lisboa e Almada.

De facto, quando tanto se fala da necessidade de protegermos as zonas ribeirinhas do Tejo do impacto de contentores e de armazéns decrépitos e inúteis, é estranho que ninguém se abalance a falar da poluição visual que causa uma porcaria de uma estátua – ainda por cima feia como tudo – de um sujeito de braços abertos e empoleirado numa enorme peanha de betão.

 

Já faz 50 anos que o monumento foi inaugurado.

Não era já tempo de tirar aquele mamarracho dali?…

 

 

11 de Maio, 2009 Carlos Esperança

Bento 16 em viagem de negócios

A deslocação do Papa a Israel é uma vulgar viagem de negócios onde a diplomacia tem um papel primordial. Não há diferença entre os vários chefes de estado que se deslocam à pouco recomendável Arábia Saudita por causa do petróleo e B16 que procura reaver, em Israel, locais de forte procura pelo turismo religioso.

O Papa B16 vai discutir a posse de alguns estabelecimentos pios, que as vicissitudes da História fizeram mudar de mãos, e tentar regular a sua administração de modo a que lhe caiba um lugar no conselho de administração desses locais carregados de sangue e de simbolismo.

Entre outros, estão o local onde se acredita que Jesus fez a última ceia com os apóstolos; a Igreja da Anunciação, em Nazaré; e o jardim de Getsêmani, onde a tradição conta que Cristo se retirou para rezar antes de ser levado pelos soldados romanos. No fundo estão em causa, principalmente, as ruínas de uma casa de pasto milenar, um joelhódromo ao ar livre e uma igreja, pouco património imobiliário mas de grande valor histórico.

Acontece ainda que o mínimo ganho do Vaticano é uma vitória do catolicismo sobre as outras seitas cristãs, uma espécie de habilitação de herdeiros a que só concorre o cabeça de casal. Acaba por ser uma desforra contra a Reforma, um certificado de qualidade de que passa a dispor o actual pontífice romano, com direitos sucessórios.

Perante o que está em causa não surpreende que B16 desista de canonizar Pio XII e de engrossar com ele a lista de santos pouco recomendáveis.

10 de Maio, 2009 palmirafsilva

Não se importa de repetir?

O tema blasfémia tem estado na ordem do dia um pouco por todo o mundo, facto que não me tenho esquivado de notar. Agora é a Irlanda, cuja Constituição no seu artigo 44 reza que o «Estado reconhece que é devida a Deus Todo Poderoso a homenagem de culto público. O Estado deve mostrar reverência ao Seu Nome e deve respeitar e honrar a religião», que se prepara para debitar uma lei anti-blasfémia dracónica, que esperemos seja rejeitada como o monte de lixo anacrónico que é e que muitos irlandeses denunciam.

A blasfémia não era criminalizada na Irlanda, embora seja proibida pela Constituição no artigo 40 (Direitos Fundamentais), em que o Estado garante:

O direito dos cidadãos de se expressarem livremente suas convicções e opiniões.

A Educação da opinião pública é, contudo, uma questão de tão grave importância para o bem comum, que o Estado deve empenhar-se em assegurar que órgãos de opinião pública como o rádio, imprensa, o cinema, enquanto preservando suas liberdades de expressão, incluindo críticas às políticas do Governo, não devem ser usadas para afectar a ordem pública ou a moralidade ou a autoridade do Estado.

A publicação ou emissão de conteúdo blasfemo, sedicioso ou material indecente é um delito que deve ser punido em conformidade com a lei.

Ou seja, a Constituição Irlandesa diz que todos têm liberdade de expressão desde que não afectem coisas tão intangíveis e subjectivas como a moralidade (?) ou a autoridade do Estado e, em particular, não blasfemem. Mas pelo facto de serem subjectivas, estas disposições não têm sido aplicadas. No único caso irlandês ao abrigo deste artigo, Corway x Jornais Independentes, em 1999, o Supremo Tribunal concluiu que era impossível dizer «em que consiste o crime de blasfémia». O Supremo pronunciou-se igualmente sobre a protecção especial para o cristianismo que considerou incompatível com a liberdade religiosa prevista nas disposições do artigo 44.

O devoto ministro da Justiça, Dermot Ahern, resolveu recentemente pôr termo a este inadmíssivel estado das coisas e pretende introduzir na legislação penal irlandesa um novo crime, a blasfémia, como uma alteração à Defamation Bill, ou seja, à lei anti-difamação. Mais concretamente, propõe a introdução de uma nova secção na lei, que reza «Uma pessoa que publica ou pronuncia matérias blasfemas será culpado de um crime e deve ser penalizada se considerada culpada de uma multa não superior a €100.000».

Leram bem, uma multa de 100 000 libras por material «blasfemo», sendo que este é definido como «aquilo que é ofensivo ou insultuoso em relação a assuntos considerados sagrados por um qualquer religião, causando assim indignação entre um número substancial dos aderentes dessa religião».
Como as nossas caixas de comentários espelham, um número substancial de crentes considera-se ofendido nas suas convicções «sagradas» por tudo e mais botas , em particular pela existência de ateus que não finjam serem crentes, pelo que, se a referida talibanização da Irlanda for para a frente, não é preciso grande presciência para prever um futuro inquisitorial na Irlanda.

Aliás, alguns crentes já reagiram à proposta da forma esperada, um deles propondo mesmo a criminalização do ateísmo. Citando um cretino cujo pen name é Vox Day, que se tem distinguido não só no seu blog como no World Nut Daily pelas barbaridades que debita, o devoto senhor propõe que, no interesse da racionalidade (???) e do senso comum (???), a legislação irlandesa deveria emular a Sharia e declarar o ateísmo um crime do pensamento. Não é muito complicado imaginar qual a pena que Eric Conway gostaria ver aplicada aos perigosos [sic] ateus!

10 de Maio, 2009 Carlos Esperança

A opinião muda segundo o local

Num discurso frente a líderes religiosos muçulmanos na maior mesquita de Amã, o Papa Bento XVI denunciou a “manipulação ideológica da religião” que pode levar à violência, no seu segundo dia de visita à Jordânia.

Criticou aqueles que defendem que “a religião é necessariamente uma causa de divisão no mundo”.

Comentário: B16 estaria a lembrar-se da manipulação ideológica dos bispos espanhóis contra o PSOE nas últimas eleições?

9 de Maio, 2009 Carlos Esperança

Maratonas pias

Por

José Moreira

Confesso que não sou consumidor de “As Tardes da Júlia”. Mas hoje, talvez porque fosse a menos chata das opções televisivas, deixei-me ficar por ali. A minha mulher diz que eu tive preguiça de me levantar para mudar de canal e, se calhar, tem razão.

Bom. A Júlia defrontava um podologista a propósito das caminhadas que os peregrinos fazem até Fátima, pista de aterragem de arcanjos e virgens. Os peregrinos, dizia-se, forçam os pés, não habituados a andanças daquele tamanho e, naturalmente, sofrem. E o podologista ia dando conselhos para as pessoas tirarem melhor partido dos pés.

Errado, quanto a mim. O cumprimento de uma promessa deste tipo implica, necessariamente, sacrifícios. O peregrino tem de sofrer, para que a paga da promessa tenha valor. Deus e a virgem gostam de sacrifícios, e não foi por acaso que colocaram o joelhódromo ali à volta da capela das alegadas aparições. Não tarda nada, e as pessoas, em vez de irem a Fátima a pé vão a Fátima de pé, no autocarro. Como se não bastasse colocarem almofadas nos joelhos, para não doerem durante o circuito. Se não doer não há sacrifício, se não houver sacrifício a promessa não se considera cumprida. É a mesma coisa que pagar uma dívida com dinheiro falso. Esta é a minha opinião, e acho que a Madre Teresa de Calcutá não diria melhor.

Se não querem sacrifícios, façam como as “tias”: vão de carro, levem um bruto farnel, e façam um piquenique.