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Dia: 23 de Março, 2009

23 de Março, 2009 Carlos Esperança

Hospitais da Universidade de Coimbra

Convite para andar de joelhos

Gabinete de Comunicação, Informação e Relações Públicas

Hospitais da Universidade de Coimbra, EPE

Avª Bissaya Barreto e Praceta Prof. Mota Pinto 3000-075 Coimbra

telef. 239.400.472-ext 15144 fax 239. 483.255

23 de Março, 2009 palmirafsilva

Repercussões papais em França

As declarações de Bento XVI sobre os preservativos foram muito mal recebidas em França, não só pelo governo como por todos os partidos políticos e por uma série de organizações não govermentais, incluindo os Médicos Sem Fronteiras. De acordo com o jornal du Dimanche, as tolices de Bento XVI mereceram mesmo o desagrado dos católicos franceses, 43% dos quais manifestaram o seu desejo de que o Papa renunciasse.

Ontem, um grupo de activistas resolveu protestar de forma convincente o seu repúdio às bentas declarações e manifestaram-se em frente à catedral de Notre-Dame, distribuindo preservativos e empunhando cartazes com palavras de ordem sortidas. As reacções de alguns tradicionalistas católicos que se seguiram não foram bonitas. Grupos de extrema-direita atacaram fisicamente os manifestantes e obrigaram a polícia a intervir, prendendo 11 dos jovens que cantavam em latim e gritavam «Deixa o meu Papa em paz».
(em stereo na jugular)

23 de Março, 2009 palmirafsilva

De abortos «indirectos» e efeitos duplos

O porta-voz do Vaticano,  Federico Lombardi, tentou suavizar o impacto das tonterias proferidas por Bento XVI em relação ao aborto, que, tal como as barbaridades em relação ao preservativo, tiveram as merecidas repercussões.

Como se pode confirmar no texto publicado oficialmente pelo Vaticano, na sua alocução no palácio presidencial Bento XVI condenou explicitamente o artigo 14 do protocolo de Maputo que prevê o aborto em caso de violação, incesto (que já sabemos serem merecedores de excomunhão latae sententiae ) e para salvar a vida da mulher. E foi especialmente a cratera de impacto da condenação deste último que Lombardi tentou minimizar…

Assim, Lombardi, com imensa subtileza, veio esclarecer  que a Igreja não se opõe a abortos «indirectos» que ocorram durante os cuidados médicos necessários para salvar a vida da mulher. Não sei muito bem onde Lombardi se inspirou para afirmar que a Igreja sempre aceitou o aborto quando a morte do feto não é intencional porque esta interpretação não é pacífica nem universal.  Por outro lado, as palavras cuidadosas que debitou,  não consubstanciando o que são os tais abortos «indirectos», deram azo a interpretações erróneas veiculadas por alguns meios católicos de comunicação.

Isto é, um aborto «indirecto» não é sinónimo de aborto «terapêutico». Tanto quanto sei, não foram revogadas nem a disposição da Congregação para a Doutrina da Fé, que confirma que o aborto terapêutico não é admissível mesmo em casos «de vida ou de morte para a mãe», nem a encíclica Humanae Vitae, que afirma peremptoriamente «o aborto, mesmo por razões terapêuticas, deve ser absolutamente proibido».

De facto, a posição da Igreja Católica face ao aborto «directo», mesmo terapêutico, é um sólido e rotundo não em todas as circunstâncias mas existe um aceso debate sobre a «moralidade» dos abortos «indirectos».

O que é e em que assenta a moralidade de um «aborto indirecto»? Um artifício rebuscado e falacioso que consiste em pretender que certos procedimentos médicos que resultem indirectamente na morte do feto ou do embrião podem constituir uma escolha moral via o princípio do «efeito duplo».

Este afirma que uma acção directa promovida por uma razão moral pode ter um efeito inevitável, não intencional, indirecto e negativo. Mais concretamente, para a Igreja, uma acção envolvendo um efeito duplo só é moralmente aceitável se obedecer aos seguintes requisitos:

– Os efeitos negativos não são desejados e são efectuados todos os esforços razoáveis para os evitar;
– O efeito directo é positivo;
– O efeito negativo não é um meio de obter o efeito positivo;
– O efeito positivo é pelo menos tão importante quanto o efeito negativo.

Assim, no caso de uma gravidez em que se descobre que a gestante tem um cancro no útero, mortal se a gravidez for levada a termo – isto é, se causar a morte da mulher antes da viabilidade do feto -, a maioria dos teólogos afirma que é uma escolha «moral» o aborto «indirecto», isto é, remover o útero (mas não o feto/embrião e o tumor) para evitar a morte da gestante, não obstante a consequência colateral da morte do feto.

O problema de aplicação deste efeito duplo ou aborto «indirecto» em casos que para qualquer outra pessoa pareceriam óbvios, é evidente na gravidez ectópica, bastante frequente infelizmente, sendo a causa principal de morte de mulheres durante o primeiro trimestre de gravidez. Em cada 40-100 gravidezes ocorre uma gravidez ectópica, uma gravidez extra-uterina, frequentemente uma gravidez em que o embrião se fixa nas trompas de Falópio. Este embrião não tem qualquer hipótese de sobrevivência e a mulher corre risco certo de morte se não abortar espontaneamente antes de o embrião crescer o suficiente para provocar a ruptura da trompa.

Uma vez que a Igreja Católica não tem instruções oficiais sobre que tratamentos são lícitos ou ilícitos neste caso existem duas interpretações possíveis. A mais «progressista» exige que a gestante «respeite a vida do filho» e como tal os tratamentos «directos», que envolvem a administração de um mero comprimido ou uma pequena incisão no umbigo e subsequente remoção do feto da trompa, são proibidas. Para ser possível aplicar o «duplo efeito» numa gravidez ectópica, um médico católico «progressista» deve proceder à ablação da trompa onde está implantado o embrião, que envolve uma cirurgia demorada e complexa. Ou seja, é indispensável sujeitar a gestante a uma mutilação e cirurgia desnecessárias apenas para satisfazer as convolutas (i)moralidades católicas.

A maioria dos bioéticos, reconhece que este efeito dupo é uma falácia já que «A distinção entre efeito directo intencional e efeito indirecto é um artíficio. Não podemos evitar responsabilidade simplesmente dirigindo a nossa intenção para um efeito em vez do outro. Se prevemos ambos os efeitos devemos assumir responsabilidade por todos os efeitos prevísiveis das nossas acções».

De qualquer forma a moralidade do duplo efeito é a interpretação «progressista». A interpretação tradicional, em vigor, por exemplo, até muito recentemente no Chile*, baseada numa versão do princípio do século da Enciclopédia Católica, afirma categoricamente que é ilícita qualquer intervenção numa gravidez ectópica, embora reconheça que o embrião é «um agressor injusto»: por muito que «pareça desejável salvar a vida da mãe», o efeito negativo (matar o embrião) é o meio de obter o positivo (salvar a mãe).

* Em 18 de Janeirode 2007, a Câmara de Deputados chilenos declarou admíssivel um projecto de lei apresentado por deputados do PS-PPD-PRSD que pretendia suavizar as draconianas e católicas leis sobre o aborto no Chile, país em que este era ilegal em qualquer circunstância, mesmo para salvar a vida da mulher.

De facto, o aborto foi declarado ilegal no Chile em 1874, na sequência da declaração por Pio IX da imoralidade do aborto, que passou a ser desde 1869 um pecado merecedor de excomunhão automática.

Em 1931 foi criada uma excepção que permitia o aborto terapêutico, o Codigo Sanitario, que foi revogada em 1989 pelo católico exemplar Augusto Pinochet, um reconhecido defensor incondicional da vida.

A partir de 1989 e até Bachelet ter conseguido vencer a oposição da ICAR local, em caso de gravidez ectópica a lei exigia que o feto morresse – o destino certo de uma implantação fora do útero – ou a trompa rebentasse antes de esta poder ser removida (isto se a mulher não tivesse morrido entretanto).

(em stereo na jugular)

23 de Março, 2009 Carlos Esperança

Ratzinger e o proselitismo

O porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi, disse que a morte por esmagamento dos dois jovens angolanos no Estádio dos Coqueiros, em Luanda, causou “dor e desconcerto” ao papa Bento 16 e à comitiva papal.

Não é legítimo pôr em causa o pio sofrimento do Papa, indiferente à sorte de 23 milhões de infectados pela sida, mas sensibilizado pela legião de fãs. Certamente que a forma exótica como se veste, os adereços que usa em palco e a coreografia da missa, destinada a centenas de milhares de curiosos, o convertem numa estrela Pop capaz de provocar a histeria colectiva que produziu os acidentes. Ainda assim, foram em menor número dos que habitualmente são atropelados a caminho de Fátima nos dias das peregrinações.

Uma só morte, em particular de um jovem, é motivo de compungimento mas não podemos exagerar na tristeza.

No dia em que, em Luanda, morreram dois jovens que desejavam ver um exótico artista a fazer sinais cabalísticos, faleceram em África centenas de jovens vítimas da fome, da sida e do paludismo, sem missa, incenso ou água benta.

O Papa, depois de solicitar aos africanos para que deixassem a bruxaria e se tornassem católicos, transformou, à sua frente, no Estádio dos Coqueiros, água de Luanda em benta e rodelas de pão ázimo em corpo e sangue de um deus que foi homem há dois mil anos e era filho biológico de uma pomba e de uma mulher virgem.

Não há pessoas normais que seja capazes de descobrir a diferença. A aldrabice dos outros é um excelente pretexto para incitar à mudança de fornecedor.

23 de Março, 2009 Carlos Esperança

Hipócritas

Luanda, 21 Mar (EFE).- O Vaticano não condena o aborto quando a cura da grávida doente for, inevitavelmente, a morte do filho, afirmou hoje o porta-voz vaticano, Federico Lombardi.

Comentário: Alguém se lembra da posição da Igreja católica, em Portugal, e dos partidos próximos na primeira votação da lei sobre a IVG na AR, relativamente à mesma situação?

23 de Março, 2009 Ricardo Alves

A ICAR e a sexualidade(2): contracepção=violação

O mais chocante da encíclica-mestra da ICAR sobre a sexualidade é a equiparação da contracepção à violação. Digam-me lá como se adjectiva isto:

  • «(…) um ato conjugal imposto ao próprio cônjuge, sem consideração pelas suas condições e pelos seus desejos legítimos, não é um verdadeiro ato de amor e nega, por isso mesmo, uma exigência da reta ordem moral, nas relações entre os esposos. Assim, quem refletir bem, deverá reconhecer de igual modo que um ato de amor recíproco, que prejudique a disponibilidade para transmitir a vida que Deus Criador de todas as coisas nele inseriu segundo leis particulares, está em contradição com o desígnio constitutivo do casamento e com a vontade do Autor da vida humana» (Humanae Vitae, parágrafo 13).