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Mutilação genital feminina (2)

A violência dos fanáticos

Às vezes dou por mim a pensar que já nada pode surpreender-me. A ditadura em que vivi, o terrorismo religioso das catequistas da minha infância, a guerra colonial, as viagens pelo mundo e algum conhecimento da história das religiões, bem como das misérias e violência do quotidiano, deviam servir-me de vacina para a demência da fé.

Nada disso. O pensamento dos fanáticos, dos mesmos que matam e morrem por um mito, que não admitem quem pense de forma diferente da sua, são um exemplo do que pode a demência da fé e o despautério do fanatismo.

Há tempos referi no Diário Ateísta a prosa do órgão oficial de uma diocese espanhola que, perante um caso de violência doméstica, em que o marido tinha assassinado a mulher, referia, com a mais boçal indigência e crueldade, que bem pior era o crime do aborto porque se um homem mata uma mulher é porque certamente ela o provocou, ao contrário do feto a que chamava criancinha por nascer.

Agora, perante o drama silencioso e cruel da excisão genital feminina, um leitor do Diário Ateísta, profissional nas caixas de comentários, atreve-se à mesma hedionda provocação.

Há na fé destes devotos a sanha brutal contra a mulher, a incontinência verbal dos fiéis, o ódio vesgo à liberdade individual e uma perversão dos valores que transforma pessoas de bem em fanáticos perigosos.

Por cada Alberto fanatizado há, algures, uma mulher a esvair-se em sangue.