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Há seis anos

Há seis anos escrevi este texto, publicado no Expresso:

No dia 11 senti-me americano, sufocado pela orgia de terror que desabou num país que tem sobre os inimigos a superioridade moral (o que não é pouco) que lhe confere a democracia.

Parece ser o fundamentalismo islâmico responsável pelo holocausto provocado, a origem da demência assassina de quem gravita em torno de um credo como moscas à volta do seu alimento predilecto, a incubadora de suicidas beatos que acreditam na virtude do martírio porque descrêem da bondade do seu Deus.

Recordo a elegante e altiva silhueta de Manhattan pela câmara de Woody Allen, hoje uma memória dolorosa com milhares de vítimas sepultadas sob os escombros do cenário rasgado. Olho a estátua da Liberdade, rodeada de morte e sofrimento, dolorosa metáfora duma civilização ferida. E os valores de que nos reclamamos foram desafiados.

Apesar da dor e da revolta, da raiva e do sofrimento, penso que devemos sobrepor a justiça à vingança, o castigo dirigido ao ódio cego.No Expresso de 15 de Setembro, para além da sensatez do P.R. e do 1.º Ministro, dois artigos estimulantes de Mário Soares e Freitas do Amaral podem servir de alerta a comportamentos desajustados.

Não podemos permitir que, à sombra de uma terrível emoção, se deixe arrasar a Palestina ou se permita a caça ao árabe. Não é nos crentes que está o perigo, é no poder do clero que os conduz. Jeová, Cristo ou Alá são inofensivos. Perigosos são os funcionários que agem em seu nome.

E, tal como nós, que nos libertámos do poder clerical que há século e meio se não conformava com a separação do poder espiritual e temporal, que considerava a Igreja incompatível com a democracia e o progresso, também eles, os islamitas, hão-de conquistar o direito à liberdade religiosa e política, reconhecer os direitos das mulheres e apreciar a democracia.

O horror está nos estados teocráticos, nos totalitarismos com que nos conformamos, na pobreza, na ignorância e no analfabetismo que os sustentam.