Festas religiosas
Na pacata vila amuralhada as ruas desertas voltaram ao bulício de outrora. Repicaram os sinos e, nas janelas de guilhotina, arejaram colchas durante as procissões.
As missas encheram a igreja e cinco padres reforçaram o arcipreste. Há muito que não se via tão elevada concentração de clero por hectare, quando já se temia a extinção. A fé andou à solta. À procissão das velas de sábado – serão beato para esticar as pernas – seguiu-se a procissão de domingo, depois da missa e do sermão em honra da Senhora das Neves, com ave-marias ditas e cantadas.
A abrir o espectáculo pio viajava Santo António com o menino ao colo, seguido de um S. José em mau estado de conservação. Os mordomos carregavam no dorso a estrela da Companhia – a Senhora das Neves -, pesada, bem vestida e mal encarada, mas quem vê caras não vê corações, diz o povo e é verdade. Cinco padres precediam o pálio de seis varas, um à frente e dois pares a seguir, formando uma quina paramentada.
O arcipreste viajava com a custódia nas mãos sob o pálio de seis varas empunhadas com garbo por devotos orgulhosos da tarefa. A banda atacava música sacra e alguns foguetes estalejavam. Para quebrar a monotonia ou para recuperarem o fôlego os músicos a quem destinaram os instrumentos de sopro, saíram umas orações para alimentar a fé.
Durante o passeio místico algumas pessoas foram destroçando e a procissão minguava de gente enquanto os padres, os carregadores dos três andores, os músicos e os mais devotos acompanharam à igreja matriz os adereços místicos e o clero.
Para o ano repete-se o número.