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Reflexões sobre a moderação

Em economia podemos falar de um socialismo ou de um liberalismo moderados. A distância que separa o moderado do radical encontra-se no grau que cada um quer imprimir à sua aplicação.

Um socialista moderado contenta-se com um certo controlo do poder económico por parte do Estado de modo a impedir a economia privada de confiscar o poder político e transformá-lo numa oligarquia. De resto, deixa à iniciativa privada tudo o que não lhe permita dominar o aparelho do Estado. Também o liberal moderado reconhece que, para além da Defesa, Segurança e Justiça, cabe ao Estado um papel importante nas áreas da saúde, educação e segurança social. Um e outro podem aproximar-se tanto que não se distinguem.

Já não se pode falar de moderados com ideias totalitárias. É impossível imaginar nazis ou estalinistas moderados. É por isso que quando uma doutrina política ou religiosa se julga a única verdadeira não deixa lugar à moderação, cai no fundamentalismo e torna-se totalitária e perigosa.

Até hoje não percebi o que era um islamita moderado. É alguém que repudia a sharia, que aceita a igualdade dos sexos, que tolera os apóstatas, que combate a lapidação, a decapitação e outros crimes que agradam ao Profeta? Há gente assim?

Faço a mesma pergunta para os judeus e cristãos. Há-os moderados? Há quem renuncie ao que a Tora e a Bíblia determinam? Aceitam que se mude ou não se tenha religião? Não basta faltar-lhes força para impedirem o divórcio a quem o decide; não é suficiente que aceitem uniões de facto porque o direito penal ignora o canónico; não lhes confere a aura de moderados o facto de terem sido derrotados pela Reforma, o Iluminismo, a Revolução Francesa e o Secularismo. Moderados seriam se afirmassem a sua moral sem constrangerem os outros a cumpri-la. Doutro modo são fanáticos reprimidos.

Não há crentes moderados, há os que acreditam vagamente e os que se revêem na fé conforme as conveniências e as circunstâncias. Há, de facto cristãos moderados mas renegam quase tudo o que é dogma e o que vem nos livros sagrados. Não são crentes, são sócios de um clube de que não leram os estatutos e de que rejeitam os regulamentos.

É a vocação totalitária das crenças e o perigo da conquista do aparelho do Estado pelos seus próceres que obrigam as democracias a exigir o respeito pela laicidade, condição sine qua non para que o pluralismo seja possível, as diferenças não se convertam em divergências e estas em violência.

DA/Ponte Europa