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O fundamentalismo católico

O Papa B16 não é só o monarca absoluto cuja vocação autoritária arredou da comunhão os teólogos progressistas, é o autocrata que abraçou os sucessores de Lefebvre e se conluiou com o Opus Dei com os quais sempre partilhou a fé e a intolerância.

Bento 16, apesar dos tempos maus para o pensamento único, entende que há um só Deus verdadeiro – o seu, uma só língua sagrada – o latim e um só representante legítimo – ele próprio.

O velho autocrata sangra o Vaticano II como os magarefes os porcos, até à última gota. Era previsível um Papa que vingasse a tentativa de acertar o passo com a modernidade, que combatesse o pluralismo e declarasse guerra à democracia.

Ninguém seria melhor do que o antigo e inflexível Prefeito da Sagrada Congregação da Fé, herdeiro espiritual das fogueiras do Santo Ofício e da tortura, para ressuscitar a Igreja medieval, fábrica de heróis, santos e mártires, capaz de espalhar a fé e a peçonha pelos quatro cantos do mundo.

O Vaticano reafirma a «exclusividade» católica, isto é, declara que há uma só Igreja verdadeira, donde se conclui que todas as religiões são falsas, excepto a católica, na melhor das hipóteses. Provavelmente são todas.

Eis o fundamentalismo católico em todo o seu esplendor, a demência da verdade única, a visão simétrica do Islão, a cruzada contra a tolerância, o ódio à liberdade, o requiem pela democracia. O Papa fez tábua rasa da Reforma. É a Contra-Reforma que volta. Não são apenas as mesquitas que semeiam o ódio e a exclusão. O catolicismo pede meças.