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Vem aí um meteorito? – I

Estou em casa a escrever este texto.

Talvez seja pouco sensato da minha parte. Pode ser que venha aí um meteorito, em direcção à minha casa.

Se o meteorito for do tamanho de um frigorífico, eu posso morrer por ter ficado cá em casa. A verdade é que nada impede que assim seja. Vamos analisar as minhas possibilidades: eu posso ficar cá em casa como se nada fosse, ou sair para a rua a correr.
Se o meteorito não vier a caminho, é quase irrelevante a escolha que faço, pelo menos se eu comparar com a hipótese oposta: se o meteorito vier a caminho e eu optar por ficar, é provável que morra; se tiver fugido, sobreviverei.

E sejamos claros: nada impede que o meteorito venha nesta direcção. Nada impede que esteja prestes a chegar. A ciência não prova ou demonstra que esse meteorito não vem a caminho. Pode realmente acontecer.

Parece só existir uma coisa sensata a fazer: fugir já de minha casa.

Mas calma! Nada garante que o meteorito vai acertar na minha casa. Pode ser precisamente por saír de casa que o meteorito me acerta. Para qualquer sítio onde vá, existe sempre a possibilidade de um meteorito suficientemente grande acabar comigo. Claro que quanto maiores forem, mais difícil é que não tenham sido detectados, mas em última análise nunca se sabe.

Mas não há razão para pânico. Não há qualquer garantia de que não esteja um meteorito prestes a acertar na minha casa, é certo. Mas seria uma hipótese tão extraordinária que não seria sensato agir em função dela se não tivesse boas razões para acreditar. Além disso, só faria sentido fugir se tivesse razões fortes para crer que o meteorito iria acertar na minha casa e não noutro lugar. De outra forma, a fuga seria fútil, pois não me traria melhores hipóteses de sobreviver.

É por estas razões que o leitor que lê estas palavras não desatou já a fugir, com medo que um meteorito estivesse a viajar na sua direcção. Foi sensato da sua parte. Desatar a fugir seria uma opção menos sábia.