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Mês: Abril 2007

23 de Abril, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Todos somos Ateus

A arrogância religiosa toma contornos ridículos especialmente nas suas objecções perante o Ateísmo. Um primeiro facto que se pode ter em conta é o do Ateísmo de nascença. Todo e qualquer Ser Humano é Ateu, até lhe ser incutido o vírus da fé religiosa, administrado numa idade que não permite ao contagiado a clara racionalização de factos e insinuações, e acção que se torna num consequente aproveitamento das fraquezas intelectuais de uma fase de desenvolvimento em que as mais ridículas defecações se tornam enraizadas no intelecto em construção. Eis então o que provoca a disseminação do vírus, o seu contágio através de violação psicológica aos que se encontram indefesos perante as arrogâncias de verdade infundada e desmentidas pela própria Natureza.

Outro factor de relevância extrema relativa ao assunto em causa, é a atribuição da característica do Ateísmo a todo e qualquer Teísta. Nenhum Ateu é Teísta, mas todos os Teístas são Ateus. Apenas uma arrogância proveniente das mentes fechadas aos factos e contextos extrínsecos ao pensamento do Teísta poderá permitir observar o contrário. Apenas as amarras religiosas podem impedir o correcto pensamento racional que fornece a visão do Ateísmo como presença incontornável em todo o indivíduo. Lubrificando as engrenagens cerebrais deixaremos de ouvir o seu incessante ranger.

Com um mercado tão rico em diversidade de deuses, é certo que não iremos encontrar um Teísta que atribua divindade e existência a todos eles. Também é sabido que é impossível a qualquer Ser Humano conhecer todos os deuses existentes, aqueles que os tempos esqueceram e aqueles que os tempos ainda não trouxeram. Muitos e diversificados deuses correram, correm e correrão nas mentes individuais e nas ideologias de massas.

Não será um Teísta Cristão Ateu relativamente à crença em Thor ou em Zeus? Não será um Teísta Judeu Ateu relativamente à crença em Afrodite ou em Shiva? Não será um Teísta Hindu Ateu relativamente à crença em Anubis ou em Posídon? Acrescentando o facto de nunca ninguém ter provado a existência de qualquer deus, seja ele o deus cristão ou Posídon, podemos extrair a observação realista de que qualquer visão de mitologia perante certos deuses entra na mesma visão de mitologia perante o deus ou deuses que são tidos como existencialmente inabaláveis.

Assim se depreende que o Ateísmo é a característica existente em qualquer mente Humana, embora na maioria das vezes esta presença seja esquecida ou tão-somente atirada para as caves empoeiradas do intelecto Humano.

Também publicado em Ateismos.net e LiVerdades

23 de Abril, 2007 Ricardo Alves

Candidatos à presidência da França: laicidade?

  1. Ségolène Royal: em 1989, achava que os desenhos animados violentos e os «manga» eram um problema mais grave do que o véu islâmico; em 2004, em plena campanha laicista por uma lei contra os símbolos religiosos ostensivos na escola pública, não encontrou nada melhor para fazer do que pronunciar-se contra o «fio dental», que achava um «atentado à dignidade das mulheres» (mesmo assim, votou a favor da lei sobre os símbolos religiosos ostensivos, seguindo a esmagadora maioria do seu partido, o PSF). Esta puritana acha que também se deve «reflectir» sobre espaços separados para rapazes e raparigas nas escolas públicas, nomeadamente nas aulas de educação sexual (e nas piscinas municipais). Manteve-se em silêncio durante a crise dos cartunes. O partido a que pertence, o PSF, é dos partidos de governo mais laicistas da Europa. Sugestão para slogan de campanha: «antes a burca do que o biquini!».
  2. Nicolas Sarkozy: quer rever a centenária lei de separação entre o Estado e os cultos; gostaria, particularmente, que o Estado pudesse financiar a construção de mesquitas. À maneira de Napoleão, que fez uma Concordata com a ICAR para melhor a controlar, Sarkozy acredita que o Estado deve colaborar com os integristas. Nesse espírito, foi o Ministro do Interior responsável pela criação do «Conselho Francês do Culto Muçulmano», onde se integraram várias organizações próximas da Irmandade Muçulmana. Defensor coerente do multiculturalismo de Estado, é a favor da discriminação positiva para os cidadãos de minorias religiosas. Escolheu Christine Boutin, uma «próxima» do Opus Dei anti-IVG, homófoba e fundamentalista para sua conselheira política. Sugestão para slogan de campanha: «o bom islamista é o islamista subsidiado pelo Estado!».

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

23 de Abril, 2007 Ricardo Alves

Dia Nacional de quê?

Embora os EUA sejam, formal e institucionalmente, um Estado mais laico do que a França, não deixa de ser verdade que os seus políticos encontram-se entre os que mais ostentam a sua religiosidade, demonstrando um proselitismo que em qualquer país europeu a oeste da Polónia seria considerado exótico. O exemplo mais recente: George W. Bush acaba de convocar um «Dia Nacional de Oração». Isso mesmo: o presidente dos EUA pede aos seus concidadãos para agradecerem as liberdades de que gozam ao seu amigo imaginário favorito. Através de pensamentos. Há gente mesmo muito estranha neste planeta.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
23 de Abril, 2007 Helder Sanches

Era uma vez o limbo…

Mas já não é! De acordo com centenas de anos de doutrina e dogma católicos, o limbo era o local medonho onde ficavam todas as criancinhas que morressem sem ser baptizadas. E digo era porque o Vaticano decretou o seu fim! E, pronto.

Assim, por decreto, o mundo onde vivemos passou a ser completamente diferente, a realidade foi alterada e as crianças passaram a viver num mundo muito melhor e mais justo.

Eu desconfio que o Al Gore está metido nisto; o limbo não ia desaparecer assim, sem mais nem menos! Ninguém me convence que não se trata já de uma consequência da subida das águas do mar devido ao aquecimento global. Se for, impõe-se a pergunta: o que virá a seguir? O Purgatório?

Este caso demonstra bem a leviandade das decisões religiosas. No Vaticano, a realidade decide-se, não se prova. Mais grave do que isso é que quem decide, fá-lo apenas com a autoridade do poder e nunca com a autoridade da prova ou do conhecimento. Que isto não seja óbvio para todos é um mistério, quiçá, maior que alguns milagres!

Lá se foi o limbo… Puf! Coitado…

(Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

21 de Abril, 2007 Helder Sanches

A Circuncisão de Misha

O caso de Misha relembrou-me um assunto que há muito tempo queria abordar aqui no blog.

Misha é um adolescente de doze anos em plena puberdade. O seu pai decidiu converter-se ao Judaísmo e arrastar a sua família com ele. Os líderes religiosos da comunidade judaica onde a família se inserirá recomendaram ao pai de Misha que o adolescente fosse circuncidado para facilitar o processo de inserção da família na comunidade. O pai de Misha aquiesceu ao pedido e agora pretende proceder à circuncisão do filho contra a vontade deste e da própria mãe!

Com a chegada do caso aos tribunais os veredictos nas diversas instâncias têm sido surpreendentes: os juízes têm afirmado que a capacidade de decidir sobre uma circuncisão, mesmo por outras razões que não as clínicas, estão ‘dentro dos direitos de custódia parental’! O caso vai agora seguir para o Supremo Tribunal do estado do Oregon.

A circuncisão é um ritual bárbaro, com origens tenebrosas, de mutilação do pénis por razões meramente religiosas. O acto da circuncisão, quando imposta a menores, não passa de abuso infantil. Quisesse o pai cortar a ponta de um dedo ou uma orelha a Misha e os tribunais já questionavam a sua capacidade de exercer a custódia parental. Mas, ao abrigo das mais macabras tradições religiosas, o tribunal dá cobertura à decisão do pai e permite que Misha venha a ser mutilado contra a sua própria vontade.

Sobre circuncisão:

(Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

21 de Abril, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Nevoeiros do Sobrenaturalismo

Desde sempre, que esse sempre é parte do conhecimento Humano, que existem curandeiros, videntes, adivinhos e outros exploradores da fragilidade e da boa vontade Humana, por vezes inseridos na forma mais desprezível, o parasitismo de pessoas debilitadas por um ou vários factores. Se alguns destes “mágicos” mais não são que marionetas influenciadas por contextos sociais sobrenaturais, a maioria é esse mesmo contexto social, lideres de uma causa inexistente e detentores das consequências benéficas, deixando as maléficas para terceiros.

Algumas destas ilusões situam-se numa “medicina” religiosa sobrenatural. Uma situação composta de facilidades e de extremas simplicidades. Primeiramente existe a necessidade de inventar ou reinventar uma qualquer doença transcendental que se situe fora de contextos físicos e psicológicos. Após a criatividade e aperfeiçoamento dessa ideia ideal de doença sobrenatural, ideia à qual não é necessária perspicácia acentuada nem tão pouco grandes doses de intelecto, surge a necessidade de disseminação psicológica da mesma pelas massas populacionais mais desinformadas e mais debilitadas. Após consolidação da mesma eis que surgem os grandes heróis, como numa qualquer história de banda desenhada, apregoando o conhecimento transcendental da cura.

Tais esquemas intelectualmente desonestos e desumanos conquistam facilmente a fama e a ambição maior, a riqueza, tendo como efeitos secundários situações hediondas que nunca pesaram nem irão pesar na consciência desses “médicos” sobrenaturais. Durante séculos a bruxaria era uma das “doenças” transcendentais e os churrascos Humanos a cura, raízes que ainda se manifestam excessivamente na actualidade. Esses factos demonstram o poder das manipulações de massas desinformadas e debilitadas através de induções psicológicas desconexas mas propositadas. Debilidade e desinformação ainda fazem prevalecer crenças em mulheres vestidas de preto e de chapéu cónico a viajarem em vassouras a jacto, e dão dinheiro a exorcistas e outros exploradores cuja transcendência é a ridicularidade.

Antevisões do futuro também correspondem a uma excelente forma de fama fácil e correspondentes lucros e louros. Qualquer pessoa é capaz de adivinhar o futuro. Apenas uma breve análise de probabilidades e de proselitismo abstracto proporcionam uma clara simplicidade de antevisões, adivinhações e profecias. Quanto maior o nevoeiro e a obscuridade das palavras mais as hipóteses de acontecimento certo ou quase certo. Aplicar pequenas induções psicológicas também ajuda na certeza de clarividência futurista. Se nos ocorrer uma visão do futuro certa, ela terá como contornos algo como “dentro de alguns dias vai chover.”. Pegando no “dentro de alguns dias” podemos estipular um acontecimento certo, sabendo que dois dias ou cem dias podem ambos ser relativizados à afirmação feita. Relativismo sem comparação provoca uma flecha certeira.

Um erro comum dos adivinhos, videntes e outros detentores de “poderes” sobrenaturais, reside na competição pela fama. Uma adivinhação com conceitos não relativos e não abstractos poderá trazer a fama se a flecha acertar, ou trazer uma hilariante comédia se esta falhar.

Outra característica interessante, que necessita ainda de maior desonestidade intelectual, de ginásticas de raciocínio e de misturas com demagogias encaixadas à força de marreta é a dos prosélitos começados por “mas,…” quando a profecia falha. Se esse “mas,…” também falhar eis que surge mais outro “mas,…”. Uma moldagem e remoldagem da adivinhação.

A indução psicológica de aceitar como verdade algo sem qualquer evidência provoca as aceitações de contextos abstractos perante situações objectivas. Qualquer minimalização de raciocínio nos poderá dizer que se lermos num horóscopo que poderemos ter problemas gastrointestinais, não poderemos aceitar a adivinhação como válida se nesse dia tivermos uma flatulência. Um conceito objectivo, mal ou bem, acerta sempre num contexto abstracto. Era interessante ler ou ouvir algo como “hoje, todas as pessoas de signo Virgem irão ter um furo no pneu da frente do lado esquerdo do seu carro.” ou “hoje, todas as pessoas de signo Peixes ao saírem de casa e fecharem a porta notarão que se esqueceram das chaves dentro de casa.” ou “hoje, todas as pessoas de signo Aquário irão calcar um excremento de cão”.

Separemos correctamente a ficção da não-ficção e sejamos intelectualmente honestos. Entrar em campos de misturas pode originar problemáticas sérias, para além de humilhar a intelectualidade Humana. Mesmo que a Astrologia, por exemplo, não apregoe situações nocivas para a Humanidade, não deixa de ser intelectualmente desonesta, para além de se exibir publicamente nos meios de comunicação como algo alicerçado por evidências.

Situações divergentes das analisadas costumam ser rotuladas de sobrenaturais erradamente. Os conceitos de palavras e análises encontram-se seriamente enublados pela desonestidade intelectual do sobrenaturalismo, para além de palavras terem significados diferentes de indivíduo para indivíduo. Situações de consciência alterada tal como a meditação necessitam ser colocados fora das situações de convicções erróneas. Desde que o Homem obteve a consciência de ter consciência, que procura induzir estados diferentes da mesma, seja por factores intrínsecos ou extrínsecos. Esta situação de alteração de consciência reflecte uma Humanização própria de cada um, e diferente de indivíduo para indivíduo. Essa mesma reflexão interna e exploração de estados pessoais de consciências diferentes atribuem a cada um a sua própria individualidade. Que cada indivíduo escolha livremente em que acreditar, sem interferir com as escolhas livres de outros indivíduos, e sem se deixar influenciar por nevoeiros de sobrenaturalismos.

Também publicado em Ateismos.net e LiVerdades

20 de Abril, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Mas da filosofia à ciência o processo é contínuo, e já foi repetido em muitos domínios. «De que é feita a matéria?» era uma pergunta filosófica até se compreender o suficiente para formular hipóteses testáveis e, eventualmente, um modelo científico bem fundamentado. Há séculos que andamos nisto, avançando mais nuns domínios que noutros. E cada avanço levanta mais perguntas que é preciso compreender, e, uma vez compreendidas, tentar responder. Perguntas filosóficas que se transformam em perguntas científicas que dão respostas científicas e levantam novas perguntas filosóficas.

    Nem a filosofia pode vencer a ciência nem a ciência vencer a filosofia. São ambas parte do mesmo processo de compreensão. Mas o [leitor] tem razão em se preocupar com a religião, que sempre foi a roda quadrada desta carroça. A religião assume que já sabe as respostas e nem sequer gosta de perguntas. Enquanto as outras se ajudavam e avançavam a religião ficou na mesma, cada vez mais isolada da realidade.»Ciência, Filosofia e Religião.», no Que Treta!)

  2. «Na realidade, Tyson aponta que não há nada em comum entre religião e ciência e que a inspecção da História revela uma guerra entre ambas como explicado no livro que já referi, «A History of the Warfare of Science with Theology in Christendom», do historiador e ex-presidente da Universidade de Cornell (uma das mais prestigiadas universidades do mundo, que incluiu Carl Sagan no seu corpo docente) Andrew D. White.

    Para além disso, a ciência assenta em verificação experimental e a religião assenta na fé, que por definição dispensa qualquer tipo de comprovação, pelo que as duas abordagens ao conhecimento são completamente irreconciliáveis. E considerando que ao longo de boa parte da História da humanidade se tentou arduamente aproximar ambas parece pouco provável que a conciliação alguma vez aconteça» («O perímetro da ignorância», no De Rerum Natura)

  3. «John Edward é, sem dúvida, o mais famoso «psíquico» da actualidade.
    Até a TV Cabo (se bem me lembro no «People & Arts»), já se rendeu aos «encantos» deste burlão, que se tornou multi-milionário a fazer crer às pessoas que comunica com o «mundo dos mortos» e que lhes transmite mensagens de familiares e amigos que estão «do outro lado».
    E que não hesita em explorar despudoradamente os sentimentos das pessoas para lograr os seus únicos intentos: enriquecer como um nababo.»
    O Sucesso dos Aldrabões», no Random Precision)
20 de Abril, 2007 Ricardo Alves

Peña-Ruiz: «Cinco questões a Sarkozy»

Tenho destacado abundantemente, nos dois blogues em que escrevo, textos de Henri Peña-Ruiz, o filósofo francês que melhor tem explanado o conceito moderno de laicidade. Recentemente, destaquei um texto de questões a Nicolas Sarkozy, no contexto da eleição presidencial francesa. A Associação República e Laicidade apresenta agora uma tradução desse texto, que merece leitura atenta.
  1. «Primeira pergunta. Os humanistas ateus devem usufruir dos mesmos direitos que os crentes? No seu livro sobre a República e as religiões, reconhece um privilégio à opção religiosa. De acordo consigo, fora desta, não seria possível conferir à conduta da existência as referências de sentido de que ela necessita. Sartre, o ateu, e Camus, o agnóstico, deviam, portanto, ter-se perdido perante as dificuldades da vida… E Bertrand Russel, que escreveu “porque não sou cristão”, devia encontrar-se desarmado face às questões éticas. Não percebe que quem não acredita no céu se pode sentir ofendido pela sua preferência? Honoré d’Estienne d’Orves, católico resistente, mereceria mais consideração do que Gabriel Perecer, ateu resistente? Ambos tombaram vítimas das balas nazis. Conhece a frase do poeta: “aquele que acreditava no céu, aquele que não [acreditava], que importa ao nome dado à clareza dos seus passos se um ia à igreja e o outro lá roubasse” (Louis Aragon, «La Rose et le Réséda»)
  2. Segunda pergunta. Que tipo de igualdade se pretende promover? Diz [Nicolas Sarkozy] pretender a igualdade entre as religiões e, para tal, encara a possibilidade de construir, com fundos públicos, lugares de culto, nomeadamente para permitir aos cidadãos de confissão muçulmana compensar o défice que teriam nessa matéria relativamente aos católicos que usufruem gratuitamente das igrejas construídas antes de 1905, ainda que esse direito de uso resulte de «afectação especial» e esteja limitado aos momentos da prática religiosa. Não pede, contudo, idêntico financiamento para edifícios destinados ao livre pensamento ou para templos maçónicos. Será que se assume partidário da discriminação entre os cidadãos de acordo com as opções espirituais em que eles se reconhecem? Para si, a igualdade republicana deveria reduzir-se à igualdade entre os diversos crentes, com exclusão dos humanistas ateus ou agnósticos? (…) Desde 1 de Janeiro de 1906 que a construção de novos locais de culto está unicamente a cargo dos fiéis, qualquer que seja a religião. É essa a regra, e os frequentes desvios que a ridicularizam não podem fazer jurisprudência, tal como o desrespeito pelos sinais dos semáforos não pode constituir motivo para a sua abolição.
  3. Terceira pergunta. Que prioridade para os poderes públicos? O relatório Machelon, que colhe a sua simpatia [de Nicolas Sarkozy], recorre ao conceito de liberdade religiosa, para permitir resvalar da garantia do «livre exercício dos cultos», garantido pelo primeiro artigo da lei, para o financiamento supostamente necessário dos cultos. Belo jogo de palavras e verdadeiro golpe de mão que pode bem enganar. Em República, só o interesse geral, comum a todos, visando bens e necessidades de alcance universal, merece financiamento público. Ora a religião não constitui um serviço público, tal como o são a instrução, a cultura ou a saúde. Na verdade, ela respeita unicamente aos seus crentes, isto é, a uma parte dos cidadãos. Os poderes públicos, cujos fundos resultam de impostos pagos tanto por ateus como por crentes, não devem, pois, financiar os cultos, tal como não devem financiar a divulgação do ateísmo. Está de acordo? (…)
  4. Quarta questão. Que concepção de luta contra o fanatismo? Afirma [Nicolas Sarkozy] querer evitar as intervenções estrangeiras, nomeadamente os financiamentos [ao culto religioso] vindos de países que pouco respeitam os valores republicanos e democráticos. E sustenta que pagando se poderá ter tudo sob melhor controlo. Falsa evidência. Pois que relação jurídica [pode existir] entre o financiamento e o direito de observar os objectivos dos responsáveis religiosos nos locais de culto? Ela só pode existir através do restabelecimento de um processo concordatário, ou seja anti-laico. Napoleão fez a Concordata de 1801 no compromisso de um financiamento público dos cultos cujas autoridades religiosas demonstrassem fidelidade ao seu poder. O catecismo imperial de 1807 radicalizou este sistema bastante humilhante para os crentes já que, afinal, os compra. Numa república laica, não pode existir fidelidade resultante de privilégio. Quer-se impor uma ortodoxia às religiões? (…)
  5. Quinta pergunta. O que sobra do laicismo e da República se se restabelecer um financiamento discriminatório? A República não é uma justaposição de comunidades particulares. Em França, não existem cinco milhões de «muçulmanos» mas cinco milhões de pessoas oriundas da imigração magrebina ou turca, muito diferentes nas suas opções espirituais. Um inquérito recentemente publicado pelo Le Monde, precisou que só uma pequena minoria desta população frequenta a mesquita, a maior parte faz da religião um assunto privado, só se referem ao Islão por uma espécie de solidariedade imaginária. Assim sendo, deve a República renunciar ao laicismo para satisfazer esta minoria ou concentrar os fundos públicos e redistribui-los pelos serviços públicos, pela gratuitidade dos cuidados de saúde, pela habitação social, ou pela luta contra o insucesso escolar, que abrangem, incontestavelmente, todos os homens, sem distinção de nacionalidade ou de opções espirituais? Não constitui dever dos homens políticos explicar que é pelo assegurar de iniciativas de serviço público de qualidade, igualmente proveitosas para crentes e ateus, e pela luta contra todo o tipo de discriminação que o Estado facilita, a uns e a outros, o financiamento voluntário das suas opções de convicção? (…)»

(Ler na íntegra.)

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

20 de Abril, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

O prepúcio de Cristo e os Anéis de Saturno

Durante quase dois mil anos o cristianismo se debateu com a demência das ideias do prepúcio sagrado de Jesus Cristo. Imensas mentes desgastaram e fizeram desgastar tempo e intelecto com uma loucura apenas equiparável a outras demências religiosas dentro dos mesmos campos. Fiéis seguidores rastejavam para pagar indulgências, e obtinham a esquizofrenia total da adoração do prepúcio. Peregrinações eram feitas (com os bolsos a tilintar os sons de moedas que poderiam antes matar a fome) para prestar louvores à relíquia cristã.

Uma mulher com distúrbios mentais brutais conseguiu o prodígio de se ver santificada após uma vida de loucuras extremas, das quais se destacaram as actividades sexuais com o falecido Jesus Cristo, e o ainda mais ridículo casamento com o defunto comprovado pela oferta do profeta. O seu prepúcio. A Santa Catarina de Siena batia recordes de ridicularidade, e a Igreja Católica desejou que a sua demência continuasse a ser emanada nos seus patamares mais elevados. A cabeça da santa pode ser vista, assim como um dedo e outros pedaços de corpo espalhados por várias igrejas. Nada melhor que um passeio familiar até à igreja e contemplar um crânio. O necro-catolicismo vai ainda mais longe, e promove procissões com a cabeça da pobre coitada, eternamente ligada à demência religiosa.

Mais situações poderiam vir a ser cómicas caso não fossem interpretadas pelos religiosos como reais. Várias poderiam ser enumeradas, mas atribuirei particular relevância aos desvarios lunáticos do teólogo Leo Allatius, que dedicou uma extensa obra a este assunto de importância tão exacerbada denominada de “De Praeputio Domini Nostri Jesu Christi Diatriba”, “Discussão Sobre o Prepúcio de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Segundo o teólogo o prepúcio teria ascendido aos céus na mesma altura em que Jesus teria ascendido, também ele em rumo aos céus. Até aqui nota-se lunatismo, mas nada de saliente em relação ao que já foi exposto. O interessante do pensamento deste teólogo consiste no facto de o prepúcio do profeta ter ascendido aos céus, viajado até Saturno, transformando-se nos anéis de Saturno, que haviam sido recentemente descobertos.

Como normal nos meandros católicos de defecação ininterrupta, esta demência e outras foram aclamadas euforicamente pelos cristãos, sedentos de respostas para o tão importante prepúcio. Obviamente que não era de esperar que o teólogo considerasse os anéis de Saturno uma mistura de gelo, poeiras e material rochoso com centenas de milhares de quilómetros de diâmetro, não ultrapassando 1,5 km de espessura. Mas a atribuição de repostas onde elas não podem ser encontradas por falta de meios é um apanágio de qualquer religião.

Para melhor situar o lunatismo católico nada melhor que uma breve comparação de pontos antagónicos. A demência católica comparada com a genialidade de Giordano Bruno. Genialidade e catolicismo sempre foram factores mutuamente exclusivos. Bruno defendia o heliocentrismo, defendia a ideia de um universo infinito povoado por milhares de sistemas solares. Desenvolveu um livre pensamento incomum para os tempos de ouro do catolicismo e consequentemente de trevas para a Humanidade. Obviamente que a resposta católica foi de condenação da genialidade, atirando com o pensador para a prisão e torturando-o das normais formas escabrosas inquisitoriais. Não contentes acabaram por queimar vivo o génio, em 1600, altura em que Leo Allatius, o demente clerical que ainda não tinha a ideia de lançar um livro sobre um prepúcio tinha apenas catorze anos. Bastantes anos mais tarde veio a teorização dos anéis de Saturno compostos do prepúcio de um profeta e consequente esquizofrenia religiosa.

Também publicado em Ateismos.net e LiVerdades