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Mês: Outubro 2006

17 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Tunísia em campanha contra o véu islâmico

As autoridades tunisinas recorreram a um decreto de 1981 para lançar uma campanha contra o uso do véu islâmico em locais públicos, que descreveram como vestuário sectário utilizado por pessoas que usam a religião como capa para fins políticos.

O presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ali, considera que o uso do véu islâmico é uma intrusão indesejada, uma forma de pressão política por parte dos partidos islâmicos, banidos no país.

A antiga Cartago é um país laico desde a sua independência de França em 1956. Governada nas três décadas seguintes por Habib Bourguiba, que implantou no país um regime secular, alegadamente inspirado nas democracias ocidentais, em que emancipação das mulheres, o fim da poligamia e a educação gratuita obrigatória foram pontos marcantes do seu governo, desde a independência que o combate aos movimentos fundamentalistas islâmicos – e consequentemente à introdução da bárbara Sharia – são uma constante na Tunísia.

Zine El Abidine Ben Ali, que tomou o poder em 1987, prosseguiu a linha dura do seu antecessor contra os activistas fundamentalistas islâmicos, redobrada na década de 90 após a explosão de violência na vizinha Argélia. O tratamento reservado aos fundamentalistas islâmicos, num país em que supostamente a liberdade de imprensa é um facto, é a principal fonte de críticas da sua governação, nomeadamente por parte de activistas dos direitos humanos.

16 de Outubro, 2006 Carlos Esperança

Polónia – 1944 ;-))

As SS chegam a uma aldeia e reúnem a população.

Um jovem padre consegue escapar-se mas é imediatamente perseguido por um jovem nazi.

O padre encontra-se encurralado num pátio, sem esperança.

O jovem soldado aponta e prepara-se para disparar quando subitamente o céu escurece e Deus intervém gritando:

«Pára, infeliz! Não dispares! Um dia este jovem polaco será Papa!»

Perplexo, o alemão responde:

– «Sim, Senhor, e eu?»

– «Tu, depois».

16 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Carta da Associação República e Laicidade

Nesta data e a propósito da estranha existência e manutenção de um estranho Instituto Português de Santo António em Roma (IPSAR), a associação cívica República e Laicidade remeteu ao Sr. Ministro das Finanças a seguinte carta:

Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado e das Finanças,

Sr. Professor Doutor Fernando Teixeira dos Santos,

Na Associação Cívica República e Laicidade, tomámos conhecimento, há algum tempo, da existência de um Instituto Português de Santo António em Roma (IPSAR), entidade pública directamente tutelada pelo Ministério das Finanças do Governo da República Portuguesa.

Constatámos ainda que o referido instituto promove, como suas actividades principais, o «exercício de actos do culto católico» e a realização de «actividades culturais», onde, frequentemente, também se pode constatar um idêntico e forte cariz religioso.

Desse modo,

Considerando o princípio constitucional de separação entre Estado e Igrejas e o entendimento daí decorrente de que a República Portuguesa – aparte as excepções, em nosso entender lamentáveis, também legalmente consignadas na Lei (nomeadamente as capelanias) – não deve sustentar o culto religioso, seja de que religião for, nem remunerar membros do clero, nessa sua qualidade, pelo exercício de actividades de culto;

Constatando que o IPSAR não tem a sua contabilidade facilmente acessível à consulta pública e uma vez que, a partir de 2004, o Ministério das Finanças deixou de disponibilizar, designadamente nos mapas «Receitas Globais dos Serviços e Fundos Autónomos» do Orçamento do Estado, o quantitativo dos dispêndios que a manutenção daquele estabelecimento acarreta para o erário público nacional;

Considerando que, em deliberação recentemente tomada pelo Conselho de Ministros da República Portuguesa (resolução 39/2006, DR, I-B, de 21 de Abril), no âmbito do «Programa para a Modernização da Administração Central do Estado» (PRACE), o IPSAR não só é mantido – em confronto com uma inexorável extinção de outros institutos -, como ainda, no processo de redefinição organizacional de estruturas e recursos da administração central, é feito transitar para a dependência do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE);

Considerando ainda que estamos em véspera da entrega na Assembleia da República, para análise e debate pelos Deputados da República, da proposta de Orçamento de Estado para 2007;

Vimos solicitar a Vossa Excelência, Senhor Ministro das Finanças, que nos esclareça detalhadamente sobre as seguintes matérias:

* O volume das verbas públicas que, nos últimos anos, têm sido dispendidas para sustentar a existência daquele Instituto Português de Santo António em Roma, bem como a discriminação das diferentes rubricas e actividades em que elas têm sido aplicadas;
* As razões que serviram de fundamento, quer à opção da manutenção em funcionamento do referido Instituto Português de Santo António em Roma, quer à da sua transferência para a tutela do MNE;
* O volume das verbas públicas que o actual Orçamento de Estado consigna ao referido Instituto Português de Santo António em Roma, bem como a discriminação das diferentes rubricas e actividades em que elas serão aplicadas.

Sem outro assunto, subscrevemo-nos

a bem da República

Luis Mateus (presidente), Ricardo Alves (secretário)

16 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Scientia ancilla Theologiae

«Geralmente, mesmo alguém que não é cristão conhece algo sobre a Terra, […] e esse conhecimento é tido como sendo proveniente de razão e experiência. Agora, é um perigo e uma desgraça um infiel escutar um cristão, presumivelmente citando a Escritura Sagrada, falar absurdos nesses assuntos; e nós devemos usar todos os meios para prevenir uma situação tão embaraçosa, na qual pessoas demonstram a vasta ignorância de um cristão e riem até ao escárnio»Agostinho de Hipona, De Genesi ad litteram, libri duodecim

O rídiculo em que os cristãos incorrem ao tentarem explicar o mundo com base nas «revelações divinas» é reconhecido desde os primórdios do cristianismo. Na realidade, mesmo há 1600 anos os dislates «revelados» eram reconhecidos como tal: dislates reveladores da profunda ignorância dos seus humanos escritores.

Como avisa Agostinho, as «opiniões tolas» dos cristãos sobre factos negados «através de experiência e à luz da razão» tornam impossível «acreditar nesses livros no que se refere à ressurreição dos mortos, de esperança e vida eterna e do reino do paraíso».

No entanto, o conselho de Agostinho raramente foi seguido pela hierarquia da Igreja que sustentou e sustenta o mito da inerrância e suficiência do seu livro supostamente revelado, isto é, que a Bíblia, o Dei Verbum, é isenta de erros em tudo o que afirma e contém toda a informação necessária para a vida do crente.

Não obstante Agostinho ser um dos mais importantes ideólogos do cristianismo e as suas elucubrações, nomeadamente sobre livre arbítrio, a origem do mal, pecado original e sexo, serem parte integrante da doutrina da Igreja, a única reflexão decente saída da pena fácil e erudita de Agostinho foi e continua a ser ignorada pela Igreja que persiste em debitar «opiniões tolas» sobre os mais diversos temas!

Na mui mediatizada palestra de Regensburg, Bento XVI deu o mote para a actuação da Igreja nos próximos tempos, que passa por uma guerra sem tréguas à modernidade e à ciência. Guerra à «irracional» ciência até esta reconhecer ser a teologia a mais nobre das disciplinas à qual as restantes se devem submeter, isto é, até se recuperar a máxima medieval que dá título do post, «A Ciência, escrava da Teologia».

Um dignitário cá do burgo, o bispo de Vila Real, Joaquim Gonçalves, que já no passado se tinha distinguido pela sua capacidade de debitar inanidades sobre ciência, resolveu evidenciar «a vasta ignorância» cristã sobre ciência ao arrogar-se a criticar a ciência e o desenvolvimento científico na Europa, «surdos» a Deus, isto é, aos dislates emanados do Vaticano.

Na mesma linha do Papa, que pretende recuperar o integrismo católico, objectivo para o qual é indispensável um retrocesso civilizacional ao pré-Iluminismo, Joaquim Gonçalves afirmou que «a ciência ensina a técnica de fazer as coisas e a sabedoria é a arte de as usar segundo a vontade de Deus». Isto é, para o dignitário, sábio não é quem sabe mas quem acredita em contos de fadas e demais impossibilidades lógicas. E, especialmente, segue à letra os ditames do Vaticano, a única autoridade habilitada para interpretar e debitar a vontade do mito.

Recusar seguir as imbecilidades debitadas pelo Vaticano corresponde a «Saber coisas sem as saber usar» que para o ultramontano dignitário «é o princípio da desgraça».

Logo a única lucubração agostiniana que considero acertada é igualmente a única que a Igreja que o elegeu como teólogo modelo não segue! E lá continuamos nós a ouvir «opiniões tolas» de cristãos sortidos!

15 de Outubro, 2006 Ricardo Alves

A ICAR na guerra civil de Espanha

«A cruzada mais elevada que os séculos já viram… uma cruzada onde a intervenção divina a nosso favor é bem patente» (Bispo de Pamplona)
«[A guerra civil é] cem vezes mais importante e sagrada do que o foi a Reconquista» (Bispo de Segóvia)
«A guerra foi pedida pelo Sagrado Coração de Jesus que deu forças aos braços dos soldados de Franco» (Arcebispo de Valência)
15 de Outubro, 2006 Carlos Esperança

Questão de reciprocidade

Na vida como no amor o principal é a reciprocidade. A igualdade e a justiça dependem dela.

A poligamia repugna-se mas resigno-me se a poliandria tiver igual tratamento jurídico. O adultério é um acto de traição mas se a anuência for mútua não o estigmatizarei.

Os deuses são falsos e as religiões fraudes organizadas mas se as mulheres e os homens tiverem direitos iguais tornam-se toleráveis e passam a meras multinacionais para venda e divulgação de orações.

O direito de repúdio de uma mulher só é infame e infamante porque não é permitido à mulher o direito de repudiar o homem.

Sem casamento não há divórcio mas, aceitando a legitimidade de um, tem de se aceitar o direito ao outro.

Se os símbolos religiosos entram nos edifícios públicos o busto da República deve estar presente nas igrejas. Se as paredes das escolas têm crucifixos as capelas devem ter fotos do Presidente da República. Se a imagem da Senhora de Fátima viaja pelas paredes dos hospitais a primeira-dama deve ter a fotografia nas paredes das sacristias.

A toponímia das nossas cidades está pejada de santos e referência religiosas. É altura de as paróquias começarem a denominar-se Afonso Costa, República e Joaquim António de Aguiar.

Um bispo dá nome a largos, Voltaire pode designar as novas igrejas. O Papa entra na toponímia de uma cidade, a Praça de S. Pedro deve passar a chamar-se Garibaldi.

Não é justo que o espaço público fique saturado de santos, beatos, bispos e papas e a ICAR ignore nomes que evocam a liberdade e a cultura, de Machado Santos a Salgueiro Maia, de Voltaire a Raul Rego, de Tomás da Fonseca a Saramago.

A próxima basílica de Fátima devia ser consagrada ao Diário Ateísta – um espaço de liberdade -, em vez da improvável Santíssima Trindade.

15 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Cubo da Apple ofensivo ao Islão


De acordo com o The Middle East Media Research Institute, um grupo islâmico afirmou ser a nova loja da Apple na Quinta Avenida, a que muitos chamam a Meca da Apple, uma blasfémia e um insulto ao Islão. O grupo urge os fiéis a espalharem este alerta na esperança de que «os muçulmanos possam parar este projecto».

Na realidade, o edíficio, em operação desde Maio último – isto é, há muito que não é possível parar o projecto – não se chama a Meca da Apple e não serve bebidas alcoólicas como pretende o tal grupo ultrajado por a Apple, ou mais concretamente Steve Jobs, ter esta preferência pelo cubo como o indica o NeXT Cube ou Power Mac G4 Cube.

É certo que a missão do MEMRI é exactamente apresentar material encontrado em sites islâmicos, traduzido directamente das fontes, que de outra forma passaria despercebido. Missão que de acordo com declarações ao Washington Times de Ibrahim Hooper, do conselho das relações Americano-Islâmicas, se traduz em encontrar «as piores citações possíveis do mundo islâmico e disseminá-las tanto quanto possível».

Mas o mero facto de um grupo islâmico se sentir no direito de pedir que seja parado um projecto apenas porque este é referido informalmente como Meca e por acaso foi escolhida uma arquitectura cúbica na sua construção é profundamente rídiculo! Como são profundamente rídiculas, para além de atentórias dos direitos humanos, todas as ululações de blasfémia e insulto às respectivas religiões com que os fanáticos de todas as cores e credos nos têm mimoseado neste início de século!

De facto, os últimos tempos têm sido fertéis em manifestações de ultraje por parte dos representantes mais fundamentalistas de todas as religiões, não apenas a islâmica. A conjunctura actual e a contemporização das autoridades internacionais em relação às reinvidicações rídiculas dos fanáticos de todas as religiões permitem prever que este estado de ultraje se vai perpetuar e acentuar se não for inequivocamente demonstrado que não se aceitam atropelos aos valores que regem as nossas sociedades.

Especialmente agora que a Assembleia Geral das Nações Unidas exortou os estados membro à criação de leis punindo a «blasfémia» via a moção que defende a tomada de medidas contra «a difamação das religiões».

Considerando que tudo e mais umas botas, especialmente a mera existência de ateus e daqueles que não aceitam ser regidos pelas patetadas debitadas como «valores radicados na natureza mesma do ser humano», são tidos como ofensas inadmíssiveis para os fanáticos em nome do seu Deus, os próximos tempos, previsivelmente abundantes em ululações sortidas de ultraje por «ofensas» absolutamente ridículas, vão ser um teste à Declaração Universal dos Direitos do Homem, ou seja, aos valores civilizacionais que supostamente se pretende defender com esta contemporização com os dislates religiosos.

Na realidade, o facto de que os fanáticos de todas as religiões manifestam estridente e muitas vezes violentamente o seu ultraje pelos motivos mais imbecis – invariantemente por não serem impostas a todos as inúmeras proibições indissociáveis das religiões – leva a esta contemporização com as palermices religiosas por parte dos responsáveis políticos dos respectivos países. Responsáveis políticos que sabem serem os ateístas e laicistas francamente mais pacíficos e civilizados nas suas manifestações de repúdio às consequentes violações flagrantes das leis que regem os nossos estados, supostos laicos e assentes no respeito dos direitos humanos.

Para além disso, os crentes «moderados» a que eu chamo civilizados, isto é, que foram permeados pelos valores civilizacionais preconizados na Declaração Universal dos Direitos do Homem, confundem fanatismo e fundamentalismo com convicção ou coerência religiosas. Como perorava – contra a laicidade e o oxímero «fanatismo laico» – o nosso cavaleiro da pérola redonda, JC das Neves, os «fanáticos religiosos são desequilibrados mas fiéis à sua fé».

Os católicos que apontam a ausência de vozes moderadas do Islão a condenar a intolerância dos seus congéneres na fé mais fundamentalistas deveriam reflectir no facto de que são os primeiros a desculpar com o fervor da fé as manifestações de intolerância e fundamentalismo dos membros do rebanho a que pertencem e a indignar-se com quem os critica.

Para mim não há qualquer diferença entre o ridículo da «ofensa» que dá título ao post e das muitas ofensas ululadas por cristãos nos últimos tempos: contra o Código da Vinci, contra o último disco dos Slayer, contra a peça Me Cago en Dios, contra «rock blasfemo», contra a série da MTV Popetown, alguns episódios de Southpark, representações «blasfemas» de um motivo de da Vinci utilizado na Capela Sistina, contra o programa «Jerry Springer – The Opera», contra obras de arte e publicidade sortidas, enfim, contra tudo e contra todos os que não seguem estritamente as imbecilidades cristãs!

Infelizmente, a maioria dos cristãos em geral e dos católicos em particular, mesmo os civilizados, reconhece como cretinas e insurge-se contra as reinvidicações imbecis dos fundamentalistas de outras religiões mas «compreende» as motivações quando os «ofendidos» que se manifestam são católicos.

14 de Outubro, 2006 pfontela

O iluminismo, uma visão não linear

Ao processo que começa com Descartes e que prossegue ao longo do século XVII e XVIII, que deu origem a uma revolução no esquema mental até do habitante europeu mais desligado da vida intelectual e política, dá-se o nome de iluminismo mas o fenómeno não possui uma lógica de evolução linear ou sequer dualista. De facto o iluminismo foi construído através de um esquema triangular, da interacção de 3 movimentos e conceitos diferentes, representados grupos muito distintos.

Os radicais, que queriam aplicar a razão de forma sistemática e universal a toda a realidade, formavam uma minoria em termos de números e poder social (muitas das suas publicações eram feitas ilegalmente à revelia das autoridades reais e eclesiásticas e estavam quase universalmente excluídos do sistema de ensino) mas tiveram um poder formativo na sociedade desproporcional ao que seria de esperar – em parte devido às inconsistências dos que defendiam as posições intermédias e às insuficiências gritantes dos que se lhes opunham frontalmente. As ideias cruciais sobre igualdade, secularização do estado e naturalismo que partilhamos hoje no mundo ocidental foram essencialmente propostas por este grupo que teve por principais vozes e influências: Epicuro, os estóicos clássicos, Maquiavel, Espinoza, Bayle, Fontenelle, Diderot, D’Alembert, Helvétius, D’Holbach entre outros.

Os moderados, ou o grupo que procurava reconciliar a razão e um deus mais ou menos tradicional e com as normas sociais vigentes. Este grupo representaria a maioria dos intelectuais que já não podiam aceitar a arbitrariedade de uma visão do Homem que era completamente teológica mas que não estavam dispostos a abraçar completamente os novos conceitos. Esta corrente de iluminismo “moderado”, que saiu profundamente derrotada já que foram os ideias dos radicais que prevaleceram (a coexistência da fé e da razão a um mesmo nível provou ser um projecto inundado de contradições e compartimentalizações que desafiavam os mais coerentes), era essencialmente caracterizada por uma anglofilia sendo que o seu esquema seguia a corrente dos seguintes pensadores: Bacon, Boyle, Locke, Newton, Montesquieu, Voltaire e Hume. Para suprema ironia muitas das propostas e métodos de alguns dos pensadores do iluminismo moderados foram absorvidas pela corrente radical – por exemplo: o empirismo de Hume foi absorvido pela corrente radical mas não as opiniões do autor sobre a sociedade, desigualdade racial e tradição.

O último grupo é o que os historiadores chamaram “contra-iluminismo”. Um conjunto de ideias que essencialmente limitava-se à reacção face às novas propostas radicais e á reafirmação da tradição, obediência à autoridade (monárquica e religiosa) e à prevalência da fé face a qualquer método de investigação sobre a realidade. Apesar de este grupo deter praticamente o monopólio do poder durante a maior parte dos séculos XVII e XVIII foi perfeitamente incapaz de responder ás questões levantadas pelo esprit philosophique. Muito depois de os seus edifícios ideológicos terem sido derrubados e do pensamento de Descartes e principalmente de Espinoza terem sido levados às suas consequências lógicas ainda tinham medo de falar abertamente do Espinosismo – Durante décadas todos os defensores da cristandade tiveram de tal modo pavor a Espinoza e ás suas ideias que não se atreviam a escrever o seu nome, fazendo sempre alusão às suas ideias gerais (com o propósito de as rebater) sem o mencionar directamente.

Através deste conflito entre três sectores, ou mais correctamente, da interacção entre radicais e moderados e com a oposição dos conservadores, nascia um conjunto de filosofias e ideias que seriam a base do que hoje se chama a sociedade ocidental moderna.

Dado o ambiente gerado pelas monarquias absolutas que reinavam na maior parte da Europa ser um radical (e em países oficialmente católicos até ser um moderado) era oferecer-se a represálias brutais por parte das autoridades e por isso durante mais de um século todos as publicações de cariz naturalista, materialista ou republicano eram feitas ilegalmente com grande risco por parte dos autores e dos editores. Ao longo deste tempo, e apesar das perseguições, estabelece-se uma comunidade intelectual marginal que viria a ser a pedra central de todo o edifício da modernidade. Inicialmente centrada nas recém liberadas (do domínio espanhol) Províncias Unidas Holandesas e em menor escala na Inglaterra estas ideias seriam disseminadas por toda a Europa começando pela França que viria a tornar-se o centro intelectual das luzes durante o século XVIII e mesmo XIX.

[artigo publicado também no InBetween]
13 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Christ Illusion banido na Índia

A banda Slayer – Tom Araya (baixo), Kerry King e Jeff Hanneman (guitarra) e Dave Lombardo (bateria) – os pioneiros e reis absolutos do speed/trash metal extremo, viu o seu novo álbum, Christ Illusion, banido na Índia.

O CD, e também a capa de Larry Carroll, 10 faixas que incluem títulos como Jihad ou Skeleton Christ, foi proíbido depois de pressões do Fórum Social Católico (CSF), o mesmo cujo dirigente Joseph Dias iniciou uma «greve de fome até à morte» pela proibição do filme «Código da Vinci».

O CSF ficou chocado com a capa do disco em que figura um «Cristo sem um dos olhos e com os braços amputados», e considerou «um insulto ao Cristianismo» a letra do tema «Skeleton Christ».

Num memorando enviado ao comissário da polícia de Bombaim, Joseph Dias achou-se no direito de falar por todos os indianos afirmando que o novo álbum dos Slayer «irá afectar a sensibilidade dos muçulmanos, na faixa ‘Jihad’, e a de todos os indianos seculares, que respeitam todas as fés».

A EMI Virgin indiana, com sede em Bombaim, atendeu aos protestos dos fundamentalistas católicos indianos recolhendo e destruindo todos os CDs.