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A Argentina e o aborto

Só nos hospitais da província de Buenos Aires registam-se, em média, 95 abortos diários. Segundo o Centro de Estudos Estado e Sociedade (Cedes) morrem vítimas de aborto clandestino 27,4% das mulheres que a ele recorrem.

A hipocrisia, mais acentuada do que a outras latitudes, ignora o grave problema de saúde pública e só se torna notícia quando o caso assume contornos especiais.

Não interessa o drama diário de milhares de mulheres, destaca-se um drama particular que interpela diversas autoridades que se refugiam na moral e na fé.

Recentemente uma deficiente mental, de 19 anos, com idade mental de 10 anos, violada, viu ser-lhe negado o direito ao aborto, solicitado pelos tutores, num hospital do Estado.

Médicos, juízes e bispos são solidários na luta contra a despenalização do aborto. A irmã da deficiente interrogava-se, desesperada: «não vêem que, com a capacidade mental de 10 anos, ela não compreende que vai ser mãe e terá uma criança»?

Na sexta-feira passada, os nove membros do Supremo Tribunal de Buenos Aires ouviram a jovem deficiente, à porta fechada, antes de proferir a sentença. Tudo indicava que autorizariam o aborto.

Perante tal eventualidade não se fez esperar a reacção colérica do arcebispo de La Plata, Héctor Aguer: «A suposição de que a criança possa nascer com um defeito físico ou psíquico não autoriza a sua eliminação. Ou pensa-se, quiçá, que é possível produzir uma humanidade ideal»?