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Madonna e a cruz

Quando várias empresas se conluiam para concertar preços e sabotar a concorrência, o crime é punido por instituições públicas que têm por fim impedir distorções ao mercado, facilitar a entrada de novos fornecedores e defender os interesses dos consumidores.

Nem os liberais mais exaltados condenam a aplicação de coimas e outras sanções penais que garantam a concorrência honesta. Foram, aliás, condenadas, há pouco, empresas que combinavam entre si os preços de medicamentos.

Mais danosas do que as empresas farmacêuticas são as transnacionais da fé que vendem mezinhas para salvação da alma.

A crucificação encenada por Madonna levou clérigos católicos, muçulmanos e islâmicos a unirem-se nos protestos e uivarem em uníssono contra a opção estética da cantora.

A cruz é um antigo instrumento de tortura que sacrificou homens e mulheres. Abundam pinturas e esculturas que documentam o sofrimento feminino. A suposta crucificação de Cristo não confere ao cristianismo o monopólio do logótipo nas coreografias litúrgicas.

Os cristãos exploram com a cruz o negócio da fé, exibindo o sofrimento do seu Deus, e tentam apropriar-se do símbolo, em exclusivo.

Sempre que a liberdade possa ser posta em causa, solidarizam-se as religiões do livro. É a vocação totalitária a unir três credos que se odeiam entre si.

Se as democracias tolerarem as prepotências clericais, hoje a cruz não pode ser usada em coreografia profana, amanhã não pode servir de cabide a um casaco para evitar os vincos, depois proíbem-se as contar de somar e, finalmente, a santidade torna-se obrigatória.

É preciso conter os loucos e fanáticos que pretendem crucificar a liberdade.