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Um feriado bizarro

Hoje é dia da festa do corpo de Deus. Que os créus gozem o corpo são os votos de ateu inveterado que sabe que há corpos mais apetitosos e melhor conservados.

Não sei se se deve à eucaristia e à propensão teofágica dos avençados do divino o duplo sentido da palavra «comer» quando se refere a corpos, excluídos, por desuso, os hábitos antropofágicos.

Seguramente, por mais devoção que os crentes sintam, não lhes apraz percorrer o corpo de Deus em místico delírio, num turbilhão de emoções, num percurso onde se misturam fluidos e se esbate a loucura da paixão.

Só Teresa de Ávila, que a ICAR, na dúvida entre a excitação erótica e a paixão mística, elevou aos altares, terá sentido o prazer de devorar um corpo que imaginava, de afagá-lo com sofreguidão e entrar em êxtase.

Na excitação era o filho que via e não o pai ou o Espírito Santo. Era ao jovem de tanga que arrancava os cravos e descia da cruz para se aquecer nas noites frias do convento e saciar-se na solidão da cela.

A imaginação prodigiosa da ICAR há-de levá-la a propor um feriado para a festa do santo prepúcio ou, na loucura da devoção mariana, umas santas férias para o bendito hímen que resistiu ao parto.

Hoje, no Porto, a procissão do Corpo de Deus vai obrigar a cortes de trânsito em várias artérias da Baixa, a partir das 16H30. Se fosse a procissão do Corpo de Claudia Schiffer era maior a festa e a cidade inteira que ficava intransitável.