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Mais uma beata no zoo da santidade

Ora aqui está uma impossibilidade absoluta, falsificar o que não existe, deturpar o que nunca foi dito, atribuir segundo sentido ao que não tem qualquer sentido.

A palavra de Deus é uma espécie de placebo sem excipiente, o fato do rei que ia nu, um artifício de que se alimenta o clero e que explora os supersticiosos.

Enquanto o Papa Ratzinger prossegue na campanha de marketing e no esforço de fazer regredir a humanidade, a ICAR dá a conhecer a próxima beata portuguesa – Rita Amada de Jesus (1848-1913).

No próximo dia 28 de Maio terá lugar na Sé de Viseu – dia em que o fascismo celebra oitenta anos do golpe de Estado que deu origem à mais longa ditadura europeia -, uma missa presidida pelo cardeal fabricante de beatos e santos, para proclamar a nova beata.

A freira Rita Amada de Jesus (lindo nome) «desde criança, manifestou especial devoção a Jesus Sacramentado, a Nossa Senhora, e a S. José e ainda um carinho muito particular pelo Papa que, por essas alturas vivia vida atribulada, a ponto de se ver exilado e, poucos anos depois espoliado dos Estados Pontifícios».

Além disso pedia às Irmãs Beneditinas do Convento de Jesus e conseguiu delas alguns «instrumentos de mortificação», adereços preciosos de que os elementos do Opus Dei e outros sadomasoquistas não prescindem.

A propaganda da ICAR está a aproveitar mais esta beatificação para a manipulação da população rural de Viseu, para atacar a primeira República e reabilitar um Papa que foi um autêntico facínora (Pio IX).

Esta saudade do poder temporal manifesta-se na ânsia de poder do actual pontífice, nas exigências clericais ao poder político dos países democráticos e no desespero com que a ICAR combate a secularização e a laicidade.

Cuidado, eles estão de volta. São poucos mas raivosos. O clero medieval está aí de novo para impor regimes ditatoriais e regressar aos métodos de Pio IX, o «papa atribulado» que considerou a Igreja católica incompatível com a liberdade e excomungou a democracia e o livre-pensamento.