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Curas «milagrosas» mais fáceis

Face aos avanços da ciência que desviaram a fé em curas milagrosas da intervenção divina para a intervenção médica e à pressão crescente da concorrência, nomeadamente das Igrejas evangélicas, Monsenhor Jacques Perrier, bispo de Tarbes e Lourdes e o dignitário mais sénior do santuário de Lourdes, anunciou a semana passada uma reforma no reconhecimento das «curas milagrosas» que o referido local é suposto operar, criando novas categorias de «milagres».

De facto, não obstante os milhões de peregrinos que visitam o local anualmente e os muitos litros de água «milagrosa» vendidos àqueles que não podem usufruir dos seus «benefícios» in situ, apenas 67 curas «milagrosas» foram reconhecidas desde 1858, data em que uma pastorinha de 14 anos, de seu nome Bernadette (não Lúcia) afirmou ter visto a Virgem numa gruta. Destas apenas 4 supostamente ocorreram desde 1978, a mais recente o ano passado, uma mera cura de … reumatismo!

Esta escassez de «milages» e a pouca espectacularidade dos mesmos motivou o preocupado bispo a propôr ao Vaticano novas categorias de milagres, que não necessitam obedecer às regras estabelecidas há quase 300 anos pelo Cardeal Prospero Lambertini, os milagres «lite», que incluem «curas inesperadas», «curas confirmadas» e «curas excepcionais». Nesta versão lite, qualquer devoto frequentador de Lourdes e consumidor da sua água milagrosa que seja operado a um cancro, faça quimio ou radioterapia e se cure, pode anunciar ao mundo que foi curado por «milagre».

Numa manobra de marketing magistral Perrier propõe ainda que estes «milagres lite», indispensáveis para fazer face às ofertas da concorrência nos chamados «hipermercados de milagres», como sejam a IURD, Igreja Maná e afins, sejam imediatamente publicitados mal ocorram.