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Momento Zen da segunda-feira

Após a confissão, a homilia beata e a eucaristia, os últimos padre-nossos produzem tal euforia mística que os devotos, desnorteados, querem ser internados …num convento.

João César das Neves (JCN) entre o convento para que lhe puxa a devoção e o Diário de Notícias para que o empurra a obrigação, opta pela segunda hipótese para gáudio dos leitores e remissão dos pecados.

Na homilia de hoje nota-se o catecúmeno muito excitado. No Afeganistão os talibãs refugiam-se nas montanhas, aqui acoitam-se nos jornais. No Irão os mullahs pregam nas mesquitas, em Portugal JCN usa a pág. 6 do DN.

Vejamos algumas pérolas da homilia de hoje:

JCN – «a esmagadora maioria da humanidade afirma pertencer a uma das grandes doutrinas…»
DA: Claro, o perigo é bom conselheiro. No islão, o apóstata arrisca a decapitação. No cristianismo já arriscou a fogueira. JCN esquece a Espanha de Franco, o Portugal de Salazar e os EUA de Bush, para dar exemplos recentes de perseguições e intolerância a não crentes?

JCN – Assiste-se à expansão aberta das devoções descafeinadas, sobretudo nas zonas de decadência cultural, como a Europa: (….)
DA – Sendo a Europa uma zona de decadência cultural presume o bem-aventurado que o Irão, a Arábia Saudita, o Uganda ou os EUA estão no apogeu da cultura, na apoteose do pensamento filosófico ou no dealbar de um novo iluminismo?

JCN – A juventude naturalmente não pode existir sem uma fé. Os que a assumem, vivem equilibrados; os outros são explorados por interesses sedutores.
DA – Para JCN a eucaristia é a pílula do equilíbrio e a oração o redutor de ansiedade.

JCN – Até a letra de muitas canções lembra o Livro dos Salmos. Nominalmente tratam do prazer, mas só ganham sentido como orações. Frases como «não posso viver sem ti» ou «amar-te-ei para sempre» são incompreensíveis se dirigidas à amada; mas referidas a Deus, tornam-se plausíveis e razoáveis.
DA – Isto é um caso de teofilia, uma parafilia mística, um erotismo contemplativo em que aos gemidos do crente responde o silêncio do deus. A menos que deus arfe.

JCN – Até o Papa pode rezar, quase sem mudar uma vírgula, com as nossas canções, da velhinha Always on my Mind (1972) de Elvis Presley até a I Do It For You (1993) de Bryan Adams.
DA – O Papa não perde tempo a rezar, tem a seita e os negócios para gerir.

JCN – O fervor beato dos ateísmos, jacobino ou marxista, o dogma inabalável do cientifismo panteísta ou a mística apocalíptica dos movimentos ecológicos e naturistas, contêm todos os elementos das igrejas tradicionais.
DA -JCN vê, finalmente, que as igrejas tradicionais (cristianismo e outras patologias) têm fervor beato, dogmas inabaláveis e mística apocalíptica. Faz autocrítica servindo-se dos inimigos de estimação, para os estigmatizar.

JCN – Nessa época, [guerras da Reforma] em que detalhes teológicos se tornavam pretextos nos campos de batalha, as pessoas pacíficas não podiam falar de fé, sob pena de combaterem os vizinhos.
DA – JCN chama detalhes ideológicos aos motivos que separaram Lutero e Calvino de Roma e, quiçá, escaramuças ao banho de sangue que dilacerou a Europa. As fogueiras da inquisição eram pias manifestações de fé.

JCN – O positivismo do século XIX fez do homem armado com a ciência o único deus, e Marx, Freud, Sartre, os seus profetas. Com o Holocausto, a bomba e o gulag, ele revelou-se o pior dos ídolos.
DA – JCN confunde Marx, Freud e Sartre com cardeais, bispos e Pio XII que, esses sim, foram cúmplices do Holocausto. Não consta que os citados tivessem apoiado Hitler.