Os pés de S. Francisco Xavier
O bom senso devia levá-la a privilegiar os ossos, fáceis de substituir e mais resistentes ao tempo e à humidade, sem perda da santidade do bem-aventurado referido na etiqueta.
A Capela dos Ossos, em Évora, hediondo culto do tétrico e lucrativo apelo à devoção, é a prova de que os ossos resistem e a carne é fraca, como a própria ICAR ensina.
Em Itália – já aqui referi no D. A. – uma guia turística debitava um ror de milagres junto do esqueleto de um virtuoso e excelente santo que continuava a obrá-los. A seu lado um esqueleto pequeno passava despercebido por entre uma panóplia de ossos pios que mais pareciam amostras de um laboratório anatómico.
Tendo um turista perguntado a que santo pertencera o pequeno esqueleto, logo a guia o atribuiu ao mesmo santo… quando era mais novo.
A ICAR vive do cadáver de J. Cristo que, por lhe ter perdido o rasto, o domicilia no Céu para onde terá emigrado três dias após a morte. Exibe-o agora, esculpido e chagado, só ou dependurado em cruzes mas não despreza as aparas do santo lenho onde o fundador da seita – segundo a propaganda – terá agonizado.
À falta de corpo não há milagres. Cristo é um mero logotipo para identificar a religião e facilitar a venda de indulgências, liturgias, sacramentos e artigos pios.
Por isso, os santos têm elevada cotação no mercado da fé e provocam muita emoção no bazar católico. Mas há desleixo dos inspectores de relíquias e incúria nos zeladores dos mortos.
Falta aos santos cadáveres um código de barras, inspecção sanitária e prazo de validade, para advertir os funcionários de Deus a quem cabe a manutenção da mercadoria.