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Fátima – o antro do embuste

O documentário aqui anunciado é impressionante. Homens e mulheres, rostos doridos, corpos cansados, peles tisnadas pelo sol, pés inchados e chagados da caminhada, vão a Fátima expiar pecados e em busca de milagres que nunca acontecem.

Um pagador de promessas paga à Virgem o compromisso de um desconhecido. Em casa alguém espera uma graça, o alívio de uma aflição ou a cura de uma moléstia.

Em Fátima as azinheiras estão despidas de virgens, o Sol finge a caminhada diária no sentido inverso à rotação da Terra, sem cambalhotas patéticas nem embustes do clero.

No ar misturam-se os odores dos pés por lavar, da cera que arde e do incenso exigido pela liturgia. Na pira ex-votos ardem em devoção pirómana. No chão esfolam-se joelhos e arrastam-se infelizes em busca de refrigério.

A farsa é alimentada pelos padres e padecida pelos penitentes. O terceiro mundo está ali recriado pela ignorância, ampliado pela angústia, mantido pelo sofrimento.

Que raio de Deus que se rebola de gozo com a humilhação dos homens.

A quem se baixa mingua a estatura; a quem se ajoelha falta amor-próprio e a quem se prostra foge-lhe a dignidade.

Tenho pena dos desgraçados que dão o que não podem, sofrem o que não devem e acreditam no que não há, com a cupidez do clero, a cumplicidade do Vaticano e o desinteresse das associações de consumidores.