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Deus e deuses

Gosto dos deuses gregos e do plágio que deles fizeram os romanos. Quando se tornam mitos os deuses ficam simpáticos, enquanto vivos são perigosos.

Os deuses, numerosos, tinham força, graça e beleza. Tinham sexo e reproduziam-se. Eram humanos e tornaram-se agradáveis, talvez por terem caído em desgraça.

O deus monoteísta, protector de tribos convencidas de serem o povo eleito, juntou em si o pior que os homens tinham e o mais execrável de que só deus é capaz.

Os homens, às vezes, são cruéis, deus é sempre e mantém-se eternamente vingativo. Os homens são machistas, prepotentes e arrogantes, deus é tudo isso, divinamente, e muito mais. É misógino e tem o culto da personalidade.

Deus gosta de orações, sacrifícios e jejuns. Adora liturgias idiotas em hebraico, árabe ou latim. Deseja ver pessoas de joelhos ou de rastos. É um déspota de baixo nível e egoísta de alto coturno.

De tanto assustar os homens foram-se estes cansando dele e deixam-no morrer, devagar, como quem esquece o algoz, se emancipa do opressor e prefere a liberdade à obediência e a felicidade de um só dia à glória da eternidade.

Progressivamente, os homens sobrepõem os seus direitos aos caprichos divinos, trocam a teocracia pela democracia e a vontade individual prevalece sobre a de deus. Este não vive sem o clero, a sua guarda pretoriana que lhe interpreta a vontade e a impõe à força.

A única desculpa de deus são os homens que o criaram e os parasitas que vivem dele.