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Uma história dantesca

Detalhe do fresco de Giovanni da Modena (1415) na basílica de San Petronio em Bolonha

Em 2001 este detalhe do fresco de Giovanni da Modena, ou mais provavelmente Giovanni di Pietro Faloppi, foi considerado «blasfemo e obsceno» e a sua remoção imediata foi exigida pela União dos Muçulmanos Italianos em carta dirigida a João Paulo II e a Giacomo Biffi, o arcebispo de Bolonha. Estranhamente nem o Vaticano nem qualquer dignitário católico, que tanto condenaram os cartoons da polémica, nomeadamente o cardeal Achille Silvestrini que afirmou que as sociedades seculares não têm o direito de ofender os sentimentos religiosos de alguém, consideraram a destruição do fresco!

A ofensa que o fresco centenário constitui mereceu de Abdel Aziz El Mataani, professor da mais antiga universidade islâmica, a universidade Al Azhar no Cairo, a promessa «Quem destruir esta imagem será bendito por Deus». Aparentemente alguns grupos ligados à al-Qaeda são da mesma opinião e a catedral só não foi alvo de um atentado bombista porque a polícia italiana desmontou os planos do grupo terrorista que se preparava para o fazer.

Será que a manutenção do «ofensivo» fresco, face à alteração da posição do Vaticano em relação a «ofensas» pictóricas a qualquer religião, está ameaçada? E será que a Divina Comédia, o ofensivo livro de Dante, que tão mal trata Maomé e Ali no seu Inferno e que foi a inspiração para o fresco em questão, vai ser proíbido nas aulas de literatura como também pretende a dita União?