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Consagração clandestina

Na edição de quinta feira do periódico The Wall Street Journal podemos apreciar uma notícia algo insólita: uma consagração clandestina da sala de audiências onde começou hoje a ser ouvido Samuel Alito, o Opus Dei nomeado por Bush para o Supremo Tribunal.

Insistindo que Deus «necessita ser envolvido», certamente para diminuir as hipóteses de Alito ser «chumbado» pelos democratas, não obstante toda a pressão exercida pelos teocratas republicanos, que veêm na ascensão de Alito ao Supremo a crónica da morte anunciada da laicidade consagrada pelos Pais Fundadores e do «pecaminoso» aborto legal, três cristãos fundamentalistas abençoaram quinta-feira as portas da sala onde decorrem as audiências.

Quando os guardas os impediram de entrar na sala os devotos católicos informaram-nos que já tinham «consagrado» (clandestinamente, claro) a sala na véspera, num ritual completo com todos os hocus-pocus considerados necessários. Que incluiram rezas por todos os membros da comissão que vai ouvir Alito e a unção de cada um dos lugares da sala com óleo «sagrado».

A operação foi levada a cabo por três dos mais destacados fundamentalistas das chamadas guerras culturais (na realidade guerras religiosas) que assolam os Estados Unidos: Rob Schenck, presidente do National Clergy Council, Patrick Mahoney, director da Christian Defense Coalition e Grace Nwachukwuand, secretária-geral da Faith and Action . Os três devotos foram identificados como pertencendo a organizações diferentes mas na realidade são apenas três frentes (para parecerem muitos e angariarem mais dinheiro) do mesmo exército, que operaram conjuntamente em várias operações de guerrilha como sejam a «Operação Natividade», um ponto alto da inventada «Guerra ao Natal», passando pelos psicodramas montados em torno de Terri Schiavo, ou das várias contestações à presença dos Dez Mandamentos em salas de tribunais americanos, para além de, claro, terem sido igualmente vocais na defesa de Roberts, a mais recente adição ao Supremo.