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Dia: 10 de Maio, 2005

10 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Igrejas à venda

A diocese de Saint George no Canadá acaba de pôr à venda todos os seus bens, incluindo as igrejas, para pagar mais de oito milhões de euros de indemnizações a que foi condenada pelos crimes de pedofilia de um dos seus padres.

A ICAR está a apelar a todos os crentes para que a ajudem a comprar de novo as igrejas, onde decorrem os actos litúrgicos.

Até há pouco tempo a ICAR gozava de uma certa imunidade no Canadá, imunidade que caducou por uma recente decisão do Governo Federal. A responsabilização criminal da diocese levou-a à falência.

Como há ainda trinta processos pendentes, por abusos sexuais, envolvendo seis padres, o futuro da Igreja católica não se apresenta risonho na referida diocese. São mais de 8 milhões de euros que vão receber as primeiras vítimas.

Sem igrejas o trabalho apostólico da Igreja católica complica-se. Não é prático proceder às confissões numa casa particular ou dar a eucaristia numa garagem alugada para o efeito.

Não deixa de ser curioso que a sexualidade, tão atacada pelo Vaticano, esteja na base dos maiores problemas que enfrentam as suas sucursais com os seus padres.

10 de Maio, 2005 Carlos Esperança

O Iraque e a democracia

O Governo iraquiano foi completado. O ministro designado para os Direitos Humanos recusou o cargo com o argumento de que não tinha sido consultado nem pretendia legitimar um Governo baseado em quotas confessionais.

Um Governo formado a partir de quotas religiosas não assegura a direcção de um país. Na melhor da hipóteses partilha orações e divergências teológicas; na pior, discute a fé e envolve-se em guerras santas.

No Iraque, após as eleições que, por comodidade de exposição, considero justas e livres e sem exército ocupante, não houve apresentação de programas, discussão de propostas, competição eleitoral. Houve orações e atentados, assassinatos em nome de Alá e suicídios para encontrar a porta do Paraíso. Faltaram comícios, sobraram os massacres.

O «Governo» é formado por 18 xiitas, 8 curdos, 9 sunitas e 1 cristão. É o ideal para discutir o Corão e apreciar alguns versículos da Bíblia, mas não chega para fazer uma democracia.

Um programa de Governo não pode ser a síntese de dois movimentos muçulmanos que se desentendem sobre o valor da Suna como complemento do Alcorão e um palpite cristão. Os ministros estão mais interessados na salvação da alma do que na resolução dos problemas dos cidadãos. A lei serve a glória de Deus e não os interesses humanos.

Um Governo assim é um bando tribal a lutar pela hegemonia. Pode começar como uma comissão de festas canónicas mas acaba inevitavelmente numa guerra de turbantes. Não há democracias que não sejam laicas nem teocracias que aceitem o pluralismo. É este o labirinto em que os invasores enredaram o novo e piedoso Governo iraquiano.

10 de Maio, 2005 Ricardo Alves

Uma ministra com coragem?

Na sequência de uma carta enviada pela Associação República e Laicidade à Ministra da Educação, e após a divulgação de um dossiê documentando algumas situações, ilegais, de presença de crucifixos nas salas de aula e de ocorrência de rituais religiosos católicos em escolas públicas, a Ministra da Educação decidiu inquirir as Direcções Regionais de Educação sobre a persistência dessas situações.
Efectivamente, segundo uma notícia do Portugal Diário, que cita o gabinete da ministra, «foi pedido às DRE que averiguassem no sentido de se saber se as situações descritas se mantêm ou não e em caso afirmativo tomar as devidas providências para que a lei seja cumprida».
Esperemos que haja coragem para fazer cumprir a lei. É só o que se pede.
10 de Maio, 2005 Palmira Silva

Rádio Vaticano condenada por poluir

Não, ainda não foi condenada por poluição social, por enquanto apenas por poluição ambiental.

Na realidade, na longa tradição de a Igreja se considerar acima das leis dos homens, os emissores da Radio Vaticano não cumprem as estipulações da intensidade de campo permitida pela lei italiana. Já em 2001 o Ministério do Ambiente italiano verificou que em onze dos catorze locais analisados a intensidade dos campos electromagnéticos apresentava valores superiores aos seis volts por metro permitidos.

O presidente da Rádio Vaticano, o cardeal Roberto Tucci, e o seu director-geral, o padre Pasquale Borgomeo, foram hoje condenados a dez dias de prisão por poluição ambiental. Claro que num país tão católico como Itália as sentenças foram automaticamente suspensas.

A queixa foi interposta em Novembro último pelos habitantes da localidade de Cesano, que acusaram os emissores da Rádio Vaticano de causar problemas graves para a saúde da população, tendo inclusive ocorrido a morte de uma criança que desenvolveu leucemia.

É estranho que a Igreja que é tão intransigentemente defensora da vida não tenha reduzido a potência dos seus emissores mal soube, em 2001, que estes infringiam as normas de segurança. Será por considerarem que a transmissão da palavra de Deus é mais importante que a vida de meros homens?