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Fitas e água benta

A Bênção das Pastas é uma cerimónia religiosa católica, presidida pelo Bispo de Coimbra, que se realiza todos os anos em que em que são abençoadas as Pastas com as Fitas dos Quintanistas.

Este ritual pretende «pretende simbolizar, de certo modo, o fim da vida académica do Estudante, traduzindo-se num ritual de passagem que marca a entrada no mundo do trabalho. No compromisso, feito pelos Fitados, parte central da Bênção, estes propõem-se participar na construção duma sociedade mais justa e fraterna».

Esta é uma entre muitas tradições da Praxe que se vive na Academia Coimbrã. Como estudante da Universidade de Coimbra, Quintanista Fitada, e como ateia, não me repugna a existência de uma cerimónia organizada pelos colegas católicos e a eles destinada assim como não me repugnaria uma bênção das pastas budista ou de qualquer outra religião. O que me repugna, isso sim, é o fenómeno de «carneirização». Passo a explicar: há uma semana que amigos me questionam se vou ou não àquela cerimónia sendo a resposta, obviamente, negativa. Ora, muitos se espantam por isso pois, de acordo com eles, é um evento da Praxe ao qual se vai porque sim.

Este espírito de «carneirada» acrítico potencia uma posição de hegemonia da Igreja Católica no panorama universitário. Para além desta cerimónia, a Universidade de Coimbra é acompanhada por diversas instituições religiosas católicas: Serviço Pastoral do Ensino Superior, o Centro Universitário Manuel da Nóbrega, o Centro Académico de Democracia Cristã, uma residência de estudantes da Opus Dei – a Residência de Estudantes da Beira – e um Lar Universitário das Irmãs Doroteias. É contra estas demonstrações de poder e de organização que nós, livres pensadores, devemos lutar com um olhar crítico e perscrutador.