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A violência da ICAR na Argentina

A Argentina é um país frequentemente vítima de uma dupla tirania – dos militares e da Igreja católica. Agora, que generais recolheram as garras, assanharam-se as da ICAR. O bispo das Forças Armadas, António Baseotto, um pio almocreve da fé, explodiu em ódio beato contra o ministro da Saúde por este defender a despenalização do aborto e o uso do preservativo, como assinalou a Palmira no artigo «Bispo católico despedido».

Para o asinino prelado são intoleráveis tão medonhas heresias e defendeu que o ministro da Saúde, Ginès Gonzalez Garcia, merecia «ser atirado ao mar com uma pedra de moinho ao pescoço». Esta era, aliás, uma prática corrente na ditadura militar, em que se atiravam ao mar, a partir dos aviões navais, os presos políticos , perante o silêncio cúmplice da ICAR cuja simpatia pelos generais fascistas era mútua e recíproca.

A democracia rompeu esse equilíbrio perfeito entre o altar e o poder, entre os bispos e a ditadura, entre a fé a disciplina. Os militares impunham a ordem e os bons costumes e o clero combatia o demo e a democracia. Antigamente a Igreja católica purificava pelo fogo da inquisição, hoje opta pela água do mar onde pretende afogar os ministros que se conformam com o aborto e defendem o preservativo.

O presidente da República argentina pediu à Santa Sé para substituir, na chefia do clero das Forças Armadas, um bispo que evocou os tristemente célebres «voos da morte» que levaram o luto, a revolta e a indignação ao povo argentino e que, de algum modo, o bispo queria perpetuar indicando como vítima o ministro da Saúde.

Quando se esperava que das alfurjas do Vaticano viesse uma advertência ao bispo, um anti-semita violento que já levou a comunidade judaica a pedir também a sua remoção, assistiu-se ao seguinte:

– O porta-voz do Vaticano, Joaquin Navarro Valls, declarou que se tratava de uma violação da liberdade religiosa impedir o bispo de exercer o seu múnus;
– Os bispos argentinos, reunidos no sábado passado, qualificaram a decisão do Presidente da República, de pedir a substituição da santa cavalgadura, de «apressada e unilateral»
– O porta-voz do Episcopado, Jorge Oesterheld, declarou à comunicação social que a remoção do bispo Baseotto era «um passo para a discriminação e um atropelo à liberdade religiosa».

A demência não é um apanágio do islão, está inscrita no código genético das religiões reveladas e dos sicários de Deus.