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Momento Zen da Segunda

O sexo dos anjos e dos outros

Deixando o Domingo para o inefável padre Lereno Dias, o casto sacerdote que despreza a Constituição da República e adverte os fiéis sobre os partidos em que os católicos devem votar, João César das Neves (JCN) voltou às homilias da segunda-feira no seu artigo «o sexo dos anjos e o dos outros» – D. N de 13-03-05.

Apesar do título, não se deteve no sexo dos primeiros, quiçá por respeito, nem sobre as eventuais orgias em que possam envolver-se no espaço celestial. Foi sobre o «sexo dos outros» que concentrou o seu beato horror e manifestou a repugnância que lhe merece, salvo se o destino for a prossecução da espécie com activo repúdio do prazer ou qualquer manifestação de carácter libidinoso. Ele julga que Deus fica de mau humor sempre que os seres humanos procuram outro êxtase para além do místico.

JCN mereceria a simpatia dos espécimes em vias de extinção se o fanatismo não o tornasse tão abominável. Afirma que a Igreja é desprezada, o que é verdade e merece, mas acrescenta que é perseguida, quando, através da história, as grandes perseguições foram sempre entre bandos de fanáticos que se reclamam do mesmo Deus ou outros que acham o seu mais verdadeiro que o alheio.

JCN arremessa-nos com os evangelhos, os salmos, as epístolas, os profetas e demais fontes de idoneidade duvidosa para nos convencer do sofrimento da sua igreja e da bondade dos seus ensinamentos. Diz que a ICAR é acusada de ter sobre o sexo uma posição extremista e doentia o que, no seu piedoso entendimento, é injusto. Ora a posição da ICAR é abertamente demente e terrorista como o comprova à saciedade a sua posição em relação à contracepção, à SIDA, à homossexualidade, ao aborto e, inclusive, em relação a quaisquer relações sexuais onde o sacramento do matrimónio e a intenção reprodutora estejam ausentes.

JCN odeia o prazer, vê-o como pecado e toma-o como ofensa a Deus. Socorre-se da escritura, do catecismo, dos documentos pontifícios e de outras fontes, igualmente suspeitas e pouco recomendáveis, para provar a bondade da intolerância que exibe, a santidade da abstinência que recomenda, a superioridade moral do cristianismo que prega.

JCN talvez não saiba o que é amar. Se um dia sentir a divina consolação de um orgasmo, talvez abandone o proselitismo e se dedique à realização sexual sem a qual nunca mais o abandona esse rancor que lhe tolda a inteligência e embota a sensibilidade. Nesse dia deixará de importar-se com as pessoas da Santíssima Trindade, com o destino da alma e com as susceptibilidades do troglodita do seu Deus.