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A canonização de Nuno Álvares Pereira

Como o Diário Ateísta tinha previsto, e escrito, estava encomendado o milagre para elevar o beato Nuno Álvares Pereira à santidade. Desta vez não é de borla, precedente aberto para com os pastorinhos de Fátima, mas será fácil ressarcir a Igreja portuguesa do numerário esportulado por tão boa causa com a venda de artigos religiosos. O novo santo, não sendo conhecido no ramo, é todavia muito popular, como herói, nos manuais escolares do ensino básico.

Em rigor, segundo afirmou o patriarca Policarpo, que tem muito mais confiança nos santos cuja vida se esqueceu, do que naqueles cujas patifarias ainda estão frescas, Nuno Álvares Pereira não precisava de obrar nenhum milagre, pois já é considerado santo pelo povo português há mais de 200 anos, o que lhe permitiria a elevação administrativa.

Mas sabe-se como a ICAR é exigente nesta questão dos milagres. Ou há milagre a sério ou vai-se a santidade. Neste caso apareceram em pouco tempo sete milagres, ramo a que o Beato Nuno nunca se tinha dedicado. Durante séculos esteve a apodrecer inutilmente sem aliviar um desgraçado de uma moléstia para se redimir dos castelhanos que matou sem zelo religioso, na defesa de vários condados e numerosas mordomias que a vitória em Aljubarrota lhe granjeou.

Assim, no próximo mês de Março, dos «sete possíveis milagres» vai ser enviado o que a Congregação para as Causas dos Santos escolheu, por ser mais fácil de provar. Trata-se do processo de cura do olho esquerdo (se fosse o direito tinha o mesmo valor) de uma mulher residente em Ourém, que ficou queimado com óleo que saltou de uma frigideira a ferver. Já existem vários documentos médicos que confirmam a doença e a cura, «inexplicável segundo a ciência», de acordo com o descaramento da ICAR.

Apostila 1 – A Ordem dos Médicos e o Ministério Público não investigarão eventuais falsas declarações.

Apostila 2 – A Associação de Produtores, Exportadores e Vendedores de Azeite (APEVA), apesar do azedume por o milagre ter tido origem com óleo, desiste de reivindicar a queimadura com azeite, para não atrasar a elevação do Condestável à santidade.