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A ICAR e o preservativo

A ICAR está para o preservativo como o islão para o toucinho. O bom senso não é o forte das religiões e a compaixão não consta dos seus valores. Bastaria o drama de África, onde a epidemia da SIDA grassa de forma devastadora, encaminhando o Continente para uma hecatombe, para abdicar de um dogmatismo estulto e criminoso.

Em Espanha o secretário geral e porta-voz do episcopado autóctone, após uma reunião com a ministra da Saúde, declarou que a Igreja reconhecia a eficácia do preservativo como método para a prevenção do terrível flagelo. Perante a estupefacção de alguns e a satisfação de muitos, dado o poder de que goza aí a Igreja católica, parecia assistir-se a uma reviravolta de 180 graus na posição tradicional do clero.

Foi sol de pouca dura. A Conferência Episcopal Espanhola (CEE) imediatamente reagiu, desautorizando o porta-voz, e reiterando que apenas a castidade e a fidelidade matrimonial eram os meios adequados à prevenção da SIDA tendo reiterado na sua boçal e canónica linguagem que o uso do preservativo era imoral.

Os beatos preconceitos da santa corja celibatária são, uma vez mais, um obstáculo às campanhas de saúde pública, um entrave à prevenção das epidemias e um estorvo ao bem-estar humano. Intérpretes encartados de um Deus cujo prazo de validade há muito se extinguiu, arautos de uma moral anacrónica, zeladores intransigentes da dor e do sofrimento, continuarão a ser cruéis, obsoletos e hipócritas.

Combater a SIDA é uma obrigação para salvar vidas humanas. Desacreditar as Igrejas é uma medida sanitária imprescindível à felicidade humana. Dentro de poucos anos um Papa qualquer pedirá perdão pelos crimes do actual, tal como este pediu pelos dos seus antepassados, sempre sobre os escombros das sociedades a que levaram a angústia, a dor e a morte.