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Apologia da abstinência

O padre Feytor Pinto, presidente da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde, durante o 18º Encontro Nacional da Pastoral da Saúde, afirmou que «a Igreja não está suficientemente atenta ao problema da sexualidade e afectividade humana” e observou que existe algum «desconforto» nos sectores católicos em abordar estes temas. Não é preciso ser um conhecedor profundo da axiologia da Igreja Católica para concluir que não se trata apenas de «desconforto», mas sim de completa condenação de tudo o que esteja com uma sexualidade e afectividade carnais.

De acordo com o padre, este alheamento da ICAR levou a que os principais promotores de campanhas de luta contra a sida sejam organizações não-governamentais que defendam o uso do preservativo como única forma de combater o contágio pelo VIH.

«O drama é que quando as pessoas ouvem falar em sexo seguro pensam apenas na protecção exterior, com o uso do preservativo» e preferem «ignorar a necessidade de mudança dos comportamentos», declarou Feytor Pinto. «Em vez de contrariar os comportamentos, tenta-se eliminar as suas consequências», frisou, lastimando que os organismos de prevenção da sida não falem em abstinência sexual, monogamia ou fidelidade, preferindo não olhar à «prostituição dos valores» em que as relações vivem. Feytor Pinto não fez mais do que seguir as orientações do Vaticano, segundo as quais a epidemica é resultado de uma «imunodeficiência de valores morais e espirituais» e que esta doença não é mais do que uma «patologia do espírito» que deve ser combatida com o «ensino do respeito pela valores sagrados da vida e uma correcta prática sexual»

Nada de novo, então, se passa no seio da Igreja quanto ao combate contra a sida. Para a ICAR a única maneira de combater o vírus é ignorar a necessidade inerente ao ser humano de se relacionar sexualmente com o próximo, independentemente de procurar ou não um compromisso a longo prazo. A defesa da abstinência é contra-natura e é hipócrita.

É de uma irresponsabilidade brutal, assassina até, a posição da ICAR sobre a luta contra o vírus da sida. Estima-se que, actualmente, 36,1 milhões de pessoas estejam contagiadas. Em 2000, foram infectadas cerca de 5,3 milhões de pessoas, sendo 600 000 crianças.

Desde que a epidemia é conhecida, o vírus matou 21,8 milhões de pessoas.


Em 2003 3 milhões de pessoas morreram de doenças relacionadas com o VIH.

Calcula-se que 51% da população mundial infectada com VIH/SIDA (mais de 20 milhões) são mulheres e mais de 60% dos jovens seropositivos são mulheres.

Diariamente, ocorrem 16 000 novas infecções, 55% são mulheres.

E, perante estes dados, vemos uma das organizações que tem mais influência nas sociedades a propagandear que o preservativo não é um meio seguro para combater o contágio. Tudo em nome da manutenção de valores hipócritas que nem os próprios membros da hierarquia da ICAR seguem.