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Dia: 3 de Setembro, 2012

3 de Setembro, 2012 Carlos Esperança

Ateísmo e política ateísta

Por

João Pedro Moura

             1- De vez em quando, aparecem uns religionários a tecerem considerações provocatórias e cavilosas sobre os ateus, intentando confundi-los com políticos e políticas ateístas vigentes, de índole comunista e, sobretudo, no passado, tais como os regimes estalinistas.

2- Ora, “ateísmo” é uma coisa. “Política ateísta” é outra!

O ateísmo é um ideário que nega deus e, concomitantemente, denega as religiões.

O ateísmo não é uma doutrina política, portanto, nada concerne à política.

Do ateísmo não se pode extrair princípios políticos nem normativos sobre relações entre pessoas, em geral, ou familiares, em particular, nem questões de saúde, de justiça, de educação, etc. O ateísmo não concerne a nada disto.

Sendo assim, pode haver ateus desde nazi-fascistas a anarquistas…

“Política ateísta” é uma lei, ou um conjunto de leis e preceitos políticos, cerceadora e repressora das atividades religiosas.

Sendo assim, o que é que o “ateísmo” tem a ver com “política ateísta”?! Nada!!!

Um ateu, que defende o ateísmo, mas sem preconizar “políticas ateístas” é uma coisa; um ateu que também defende “políticas ateístas” é outra!

Analogicamente, também temos os que defendem o capitalismo, com ou sem sistema totalitário, a ingestão de bebidas alcoólicas, com ou sem bebedeiras, o cristianismo, com ou sem ideias e práticas totalitárias, etc.

3- Como os comunistas, na sua teoria e práxis de transformação radical da sociedade e nas suas análises materialistas, acometeram as “instituições burguesas” do poder dominante, incluindo a instituição religiosa, naturalmente propenderam para o estudo da origem e evolução da religião, como pilar da cultura e poder dominantes, e chegaram à conclusão, como outros ateus não-comunistas, que os deuses não têm bases históricas nem há provas da sua existência e que as igrejas sempre foram um sustentáculo dos sistemas políticos dominantes, tradicionais e conservadores.

Como os regimes comunistas são totalitários, daí a propensão dalguns desses regimes para políticas ateístas e de repressão das actividades religiosas, mormente no passado.

Mas o ateísmo nada tem a ver com o socialismo/comunismo!

O ateísmo é normal entre as pessoas de pendor “socialista” ou “comunista”.

Os “socialistas” e “comunistas” é que tendem, pelas razões referidas, para o ateísmo.

O “ateísmo” não é um ramo da “política ateísta” nem esta daquele!

4- É certo que o cristianismo, em geral, e o catolicismo, em particular, para só referir esta religião, também não é uma doutrina política. Todavia, ao contrário do ateísmo, é possível extrair princípios políticos do cristianismo, desde relações entre pessoas, em geral, e familiares, em particular, até normativos concernentes à sexualidade e alimentação…

Até existe um ideário político, chamado “democracia cristã” (actualmente bastante decadente…). Donde se conclui que há uma concepção política que se inspira no cristianismo…

5- O que é estranho é uma religião dita da “paz e amor” inspirar tanto ditador e ditadura ao longo da História:

a) Quase todas as ditaduras e ditadores da América Central e do Sul, e foram muitas dezenas, para não dizer todas e todos, nos séculos XIX e XX, intitularam-se católicos, como não podia deixar de ser no continente mais católico do mundo…

b) Quase todas as “ditaduras de direita” europeias, que perpassaram pela História do séc. XX, foram de inspiração católica: de Mussolini (embora o poder fascista, inicialmente, não fosse de inspiração católica…) até aos seus epígonos Franco e Salazar, passando pelos efémeros Pavelic/Stepinac, Tiso, etc…. com a bênção da Igreja Católica…

Infere-se, consecutivamente, que o cristianismo, em geral, e o catolicismo, em particular, não foi nem é doutrina repudiadora das ditaduras nazi-fascistas, pois que estas se reclamavam frequentemente daquela…

Pelo que, não se compreende muito bem como é que tanta “paz e amor”, de carácter religioso, inspiraram tanta guerra e ódio, de carácter político e social…

… A não ser que a religião, hipocritamente, servisse de indutor de mansuetude ovelhum (“paz e amor”) pelas massas populares dentro (para estarem bem controladas…) por um lado, e de ferocidade felina por certos pastores políticos dentro, por outro (para controlarem melhor essas massas populares…)…

6- a) Aliás, é nos países onde há mais ateus, incluindo os que, sem assim se intitularem, não ligam nada à religião, que se vive melhor:

– Países nórdicos, Japão, Holanda e, tendencialmente, toda a Europa Ocidental, de norte para sul, e, duma maneira geral, toda a Europa…

b)    É nos países mais religiosos que se vive pior:

– Toda a América Central e do Sul (católicos…)

– Todos os países muçulmanos (embora se viva melhor nos países petrolíferos, por isso mesmo…)

– Todos os outros, com destaque para África, em que o fanatismo religioso, ecléctico ou sincrético, católico ou muçulmano, está presente em grande número…