Loading
5 de Março, 2008 Ricardo Alves

«Não queremos o regime islâmico!»

São acontecimentos destes que dão ânimo aos mais pessimistas: no dia 23 de Fevereiro, em Teerão, uma multidão revoltou-se contra a polícia de costumes do regime, que queria prender uma mulher cujo traje não era «islamicamente correcto» (ou seja, talvez mostrasse o cabelo, ou o pescoço, ou qualquer coisa ainda melhor). A multidão, cerca de 300 pessoas, sobretudo jovens, gritou «não queremos o regime islâmico» e «desde 1979 que nos chateiam».

Podem ler mais aqui (incluindo um vídeo) e aqui.

Como é evidente, a minha solidariedade com a juventude iraniana anticlerical é total.

5 de Março, 2008 Carlos Esperança

Espanha – Os bispos afrontam Zapatero

A inteligência e moderação do Cardeal Vicente Enrique Tarancón, arcebispo de Madrid, foram preciosas na ajuda à transição pacífica para a democracia.

Hoje, com a democracia consolidada e o país em acelerado processo de secularização, o episcopado prefere o confronto, reelegendo o ultra-reaccionário Rouco Varela para presidente da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), o cardeal que desceu à rua para contestar a política do Governo – uma exótica posição sem precedentes na Europa – e que mandou votar PP.

Os bispos espanhóis, que se aproximam da centena, estão cada vez mais unidos no ódio à democracia e nas saudades do franquismo, quando o ensino da religião católica era obrigatório nas escolas públicas, o divórcio praticamente proibido e o catolicismo era a religião do Estado.

O braço de ferro entre os bispos liderados por Rouco Varela, um cardeal ligado ao Opus Dei, e o Governo legal, enfrenta uma sociedade em rápida mudança, cada vez mais laica e farta de missas. O desespero pôs as mitras em polvorosa e agitou os báculos e anelões.

A reeleição do cardeal de Madrid para a presidência da CEE é sinal de que a hierarquia religiosa, após o último debate Zapatero/Rajoy, já interiorizou a derrota eleitoral onde, numa atitude sem precedentes, se envolveu. Em aflição, tentou a fuga em frente.

4 de Março, 2008 Ricardo Alves

Polícia resolve, orações não

  • «O cardeal Cláudio Hummes propõe uma oração mundial pelas vítimas dos sacerdotes pedófilos» (BBC)

«Deus» não existe e as orações não servem para nada, mas há muitos tribunais que ganhariam em ouvir os depoimentos dos sacerdotes católicos que, da Madeira a Nova Iorque, souberam de casos de abuso sexual e nada disseram por «espírito corporativo», «dever de consciência», ou lá como lhe chamam. Sugiro também que se revoguem os regulamentos internos que impedem os sacerdotes da ICAR de denunciar os casos de abuso sexual de que têm conhecimento. Chamem-me materialista, mas a polícia parece-me mais eficaz do que a oração.

4 de Março, 2008 Carlos Esperança

A exumação do padre Pio

A mórbida atracção por cadáveres é uma pia inclinação que em Itália ocupa espapaço em numerosas igrejas e respectivas criptas. Já o Santo Ofício fazia exumações para queimar os restos de defuntos, desolado por não os ter podido queimar em vida.

Agora é para glorificar um santo que João XXIII considerava embusteiro mas que João Paulo II, especialista em santidade, não deixou escapar à canonização e que Bento XVI, contrariando o desejo da família, não prescinde de exibir em público.

Das diversas vezes que viajei por Itália, apesar de conhecer o mau gosto e a doentia obsessão que criou a «capela dos ossos» em Évora, dei-me conta de que nenhum outro Pais exibe um tão rico património de despojos humanos como tesouros das suas igrejas magníficas e deslumbrante catedrais.

Recordo sempre a guia turística que, depois de enaltecer longamente as virtudes de um santo cujo esqueleto era testemunho da sua existência pia, interrogada sobre a origem de um esqueleto mais pequeno que lhe fazia companhia, o atribuiu ao mesmo santo… quando era mais novo.

Não sei de onde vem a devoção macabra, a necrofilia eclesiástica que conduz à tétrica exibição de um cadáver com quarenta anos de defunção. Esta lúgubre exposição é uma profanação de cadáver em qualquer país civilizado mas, com autorização do Vaticano e a aspersão de água benta, é um acto pio que rende indulgências aos visitantes por entre fumos de incenso para camuflar o odor. 

4 de Março, 2008 Carlos Esperança

Espanha – Debate Rajoy / Zapatero

O franquismo foi definitivamente enterrado, o poder da Igreja vai sair debilitado e a Espanha urbana sairá vencedora da outra Espanha rural, conservadora, nostálgica das missas e do franquismo.

3 de Março, 2008 Carlos Esperança

Se Deus existisse pagava IRS

Se Deus existisse não estaria omisso nas Finanças e isento de pagar o IRS. Seria mesmo uma imoralidade, tais os proventos que aufere. Resta saber se chegariam para pagar um seguro que era prudente fazer para pagar as patifarias que lhe atribuem.

Perante um terramoto, um ciclone, uma tempestade ou inundações, teria muito por que responder. Se tudo o que acontece é por divina vontade, imagine-se Deus no tribunal dos homens – bem mais equilibrados e justos – a prestar contas das epidemias, desastres e doenças com que a humanidade é fustigada.

Enquanto os beatos se põem de joelhos e rastejam, cheios de medo e subserviência, não restava a Deus outra saída senão pedir aos ateus que lhe servissem de testemunhas e que jurassem que o réu revel não existia e que as patifarias eram fruto da natureza e do desmazelo dos homens.

Os crentes, sempre prontos a louvar-lhe a omnipotência, jamais se atreveriam a admitir que o carrasco pudesse ser julgado ou, pior do que isso, fosse o mito que lhes inferniza a existência e os põe a caminho da igreja, tocados pelos padres, a cumprirem rituais que envergonhariam uma pessoa sensata.  

Um Deus que não vota nem paga impostos é um impostor que engana muita gente há muito mas que não pode enganar todos para sempre.

3 de Março, 2008 Carlos Esperança

Fábrica de santos não pára

Num consistório ordinário público para algumas causas de canonização, Bento XVI anunciou, esta manhã (1 de Março), o nome dos futuros santos: Caetano Errico; Maria Bernarda Butler; Alfonsa da Imaculada Conceição e Narcisa de Jesus.

Nota: Na lotaria da santidade três dos quatro santos saíram à casa, foram missionários.